Salvando um menino da morte

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  Eu realmente não sei o rumo que essa conversa unilateral está tomando. Quer dizer, todo mundo sabe que não é aconselhável gritar com uma pessoa surda, já que ela, no caso eu, provavelmente irá ignorar a sua existência e ir embora como se nada estivesse acontecido.

  Ou pelo menos era isso o que eu pretendia fazer.

  Estou claramente atrasada para realizar meu trabalho como exterminadora de onis. A Lua já está alta no céu. E, julgando pela minha habilidade como espadachim, modéstia à parte, nessa altura da noite já deveria ter terminado com o demônio.

  Mas, infelizmente, estou empacada com um idiota. Ou melhor, um idiota bêbado.

  Essa discussão infundamentada poderia ter sido evitada caso aquele homem não fosse tão babaca, ou não estivesse tão embriagado. Eu estava andando normalmente, foi culpa dele ter trombado em mim. Por acaso existe algum problema andar em linha reta? Ele realmente não poderia estar pensando que a culpa foi minha ao cambalear na minha direção e quase cair de cara no solo.

  Estamos atraindo mais olhares do que gostaria. Apesar de não poder ouvir sua voz, sua expressão irritada e seu bafo de álcool me deixam com dor de cabeça, e as gotículas de saliva que voam em direção ao meu rosto me deixam com vontade de arrancar os dentes dele com um soco.

  Quer saber de uma coisa? Eu não vou mais perder tempo com esse cara. Não vou deixar com que um civil insignificante atrapalhe o meu dever como exterminadora de onis.

  O ignorando completamente, o contornei pelo lado direito e segui meu caminho como se nada estivesse acontecendo. Pessoas podem estar morrendo enquanto fico parada na frente de um homem bêbado e sem noção. Por acaso ele tem a mínima ideia de com quem está falando?

  De repente, sinto um calafrio percorrer minha espinha e os pelos da minha nuca se arrepiaram de um jeito nada agradável. O homem segurou o meu pulso de uma maneira nada delicada e me impediu de continuar andando.

  Por puro reflexo, puxei meu braço para longe daquelas mãos asquerosas e agarrei seu pulso de volta. Com alguns movimentos simples, mas eficazes, ajeitei minha postura e usei toda a força que tinha em meu corpo para arremessar ele o mais longe possível. Não me importei em ver o estrago que havia feito, simplesmente segui o meu caminho.

  Acho que acabei atraindo ainda mais olhares com essa cena. Não posso negar que foi uma reação exagerada. Deixei um pesado suspiro escapar dos meus lábios enquanto uma gosta de suor frio percorria a minha coluna e o coração disparava no peito.

  Homens bêbados são...

  Incômodos.

  Ignorando todos aqueles que aparentemente cochichavam sobre o que haviam acabado de testemunhar, viro a primeira esquina que encontro e respiro fundo para acalmar os nervos.

  Era realmente surpreendente como algumas ruas podem ser bem lotadas, cheias de lojas e restaurantes, mas logo ao lado existem outras completamente vazias e escuras.

  Uma pilha de caixas de madeira se encontrava encostada na parede de um dos estabelecimentos. Tomando impulso no chão, pulei em cima delas e, com um outro salto, fui para cima do telhado.

  Bem melhor. Agora ninguém mais iria se colocar no meu caminho em direção ao oni. Comecei a correr, pulando de telhado em telhado com a destreza de um gato e a leveza e de uma pluma. O vento frio da noite assoprava os fios do meu cabelo para trás, e as estrelas estavam realmente bonitas hoje.

  Me dei o luxo de sorrir. Como era bom correr livremente por aí, tendo apenas a Lua e as estrelas como companhia. Tieko-san costuma a dizer que preciso fazer mais amizades, mas sinceramente não me importo muito com isso. Já tenho amigos o suficiente.

Imagine - Kyojuro Rengoku [Em Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora