Sweet Future

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Capítulo 2 - Sweet Future
 

   A vida daquele ômega nunca tinha sido fácil. Queria ter estudado numa universidade famosa. Queria ter tido a vida com a qual sonhara, mas tudo começou a dar errado quando descobriu que os pais o tinham vendido a um alfa. Com toda a certeza um alfa mesquinho, pois que alfa íntegro iria comprar um ómega?
    Quando tinha quinze anos, os seus progenitores decidiram que não era para ele estudar mais. Aos dezasseis encontraram-lhe um alfa que pagou a exata quantia que pediram por ele. Aos dezassete já era vendido pelo próprio alfa, que nunca se deitou com ele. Tinha se tornado uma prostituta sem ter qualquer palavra sobre o assunto. E agora estava grávido sem saber quem era o pai. 
Era tratado de forma tão nojenta, era mal alimentado e só podia tomar banho quando ia dormir com alguém. Era espancado e violentado, mas ao mesmo tempo o alfa confiava nele, achava que um ômega que lhe tinha sido vendido não pensava.
Odiava a vida. Pensou tantas vezes em atirar-se da ponte, mas agora não era só ele. Mesmo que não gostasse da criança, era uma vida inocente. Estava desesperado. Não sabia se a gravidez ia bem, não sabia se era menino ou menina, e não sabia o que seria da pobre criança. 
Decidiu que fugir era a melhor solução para todos. O ômega não conseguiu preparar nada, não podia levantar suspeitas. 
Um dia quando o alfa saiu para satisfazer os seus desejos imundos ele tirou dinheiro do esconderijo e vestiu apenas um casaco fino e muito velho. Contou o dinheiro e saiu de casa olhando em todas as direções esperando algum mau trato. Caminhou rapidamente até à praça de táxis e entrou num. 
-Até onde posso ir com este dinheiro? - perguntou ao taxista mostrando-lhe algum dinheiro, este riu enquanto o olhava. 
-Rapaz… com esse dinheiro o máximo que posso fazer é deixá-lo aqui ao lado em Daegu..
O ômega engoliu em seco - É melhor que nada. Por favor, então.
O ômega colocou o cinto de segurança e deixou-se ser levado dali. A respiração começou a ficar mais leve à medida que se afastaram da cidade de SangJu. O bebé que até então não tinha mexido, deu sinal de vida. 
 
Jimin On  
 
    Quando o táxi parou em Daegu senti-me renascido apesar de toda a dor. Olhei em redor e vi um centro de autocarros. Caminhei de forma mais rápida mesmo que a minha barriga já fosse um pouco pesada. Encarei o mapa de todas as rotas que faziam e mordi o lábio. Não sabia bem o que fazer, embora, não tivesse gastado muito dinheiro no táxi. Agora que estava longe, podia pensar melhor. 
    -Boa tarde  - disse à moça que se encontrava no local de venda dos bilhetes. - Quando sai o autocarro que vai para Seoul? - perguntei vendo que era o local mais longe dali.
    -Em 4 minutos - respondeu já mexendo no computador depois de apontar para o autocarro azul.
    -Quanto é o bilhete? - suspirei 
    -26,560 won - respondeu-me e esperou pela minha decisão 
    -Um bilhete por favor 
    Paguei pelo bilhete e fiquei com 2 wons. É verdade que foi a primeira vez em anos que pus a minha mão em dinheiro e não demorou a desaparecer todo. 
    Sentei-me no banco do autocarro e não demorou para que o mesmo seguisse o seu caminho. Adormeci durante a viagem, exausto por não ter comido nada há cerca de 48 horas e cheio de frio. 
    Acordei com um toque no meu ombro. Esfreguei os olhos e tentei lembrar-me do que tinha acontecido. 
    -Senhor, chegamos a Seoul.
    Encarei o homem, um beta, e sorri. Levantei-me e caminhei para o exterior. 
    -Obrigado por me acordar. - disse-lhe e segui o meu caminho. 
Não conheço a cidade, não tenho dinheiro e sou um ômega grávido. Ninguém me vai ajudar. Preciso pensar no que fazer. 
Sentei-me num banco ali na paragem do autocarro e inspirei do ar gélido. Não parecia estar no centro já que não havia tanto movimento. Quem me olhasse diria que eu era um sem abrigo, e acho que me tornarei num  em breve. 
    O movimento dos carros começou a abrandar e percebi que logo ficaria noite. Precisava encontrar um sítio mais abrigado para dormir. 
   
    A minha primeira noite em Seoul foi passada numa estação de metro subterrânea. Não estava tão quente quanto pensei que estivesse, mas pelo menos não chovia ali. Assim passei mais três dias. Bebia água na casa de banho sempre que precisava e gastei os meus dois wons em bolachas numa máquina de venda automática. Pensei que não podia ficar pior, mas ao fim do quarto dia, a polícia entrou de noite na estação onde eu pernoitava e expulsou todos dali. 
Vi-me a vaguear pela cidade, dormia em paragens de autocarro e quando amanhecia tentava pedir esmola, mas nunca tive muita sorte. Mais uma noite gelada em que tentava caminhar para não sentir tanto frio. 
Quando a neve vier não quero imaginar o que será de mim! A minha vinda para Seoul não tinha sido tão boa ideia assim. Ao fim de duas semanas já não sabia o que pensar. Precisava comer para alimentar o bebé, pois se continuasse assim ele provavelmente iria morrer, assim como eu.
Estava tão fraco que até as lágrimas custavam a sair. Mais uma noite a andar e a chorar enquanto o fazia. As minhas pernas doíam e o bebé não parava de se mexer chutando me as costelas. A minha boca ficava cada vez mais seca e o frio deixava o meu corpo cada vez mais dormente. Talvez tivesse sido melhor ter-me atirado da ponte. Com este frio não ia sentir nada. 
Comecei a ficar tonto, a minha visão embaçou e nesse momento eu chorei mais ainda. Ninguém me iria ajudar, ninguém! 
Devia ser bem tarde pela posição da lua no céu e eu não aguentava mais. Entrei numa rua com casas pequenas e de cor neutra, tentei limpar as lágrimas que me deixavam a visão turva e caminhei até uma das casas, sentindo que não aguentava mais. Esperava que me ajudassem, que me dissessem onde pedir ajuda. Pressionei a campainha com o dedo por uns segundos e deixei que o meu corpo descansasse um pouco. Demorou, pensei que não ia vir ninguém, que estivessem com medo de quem fosse, mas quando a porta se abriu eu não pensei. 
-Ajude-me! Por favor 
A minha voz saiu tão fraca e o frio não me deixava pensar de forma coerente. 
-Por favor
Senti que o homem me ajudou a levantar e só então todos os meus sentidos entraram em alerta. Ele era um alfa. 
Ele falou algumas coisas e eu só conseguia pensar na merda que tinha feito. Eu tinha pedido ajuda logo a um alfa. Não me consegui mexer durante um tempo, apenas fiquei ali a observá-lo até o cheiro de baunilha me acertar em cheio. Por mais estranho que fosse senti o bebé acalmar-se e engoli em seco. Nunca imaginei que um alfa pudesse cheirar a baunilha. O quão estranho era aquilo?  
Ele saiu deixando-me sozinho por uns segundos. Ponderei voltar para a rua, mas ele tinha acabado de me oferecer um banho sem nem me conhecer. Eu podia aquecer-me por breves minutos e ir depois. 
Respirei fundo e segui para onde ele tinha apontado. Liguei a água quente e tirei a roupa entrando logo sentindo o alívio percorrer o meu corpo. Quase chorei de alegria ao sentir-me mais quente. Lavei o cabelo e o corpo usando os produtos do alfa, que quase não tinham cheiro. Eu queria ficar ali para sempre, mas não podia fazer o alfa gastar tanto do seu tempo e dinheiro comigo. Contudo, fui um pouco egoísta e mantive-me ali por algum tempo. Desliguei o chuveiro e peguei numa toalha limpa, sequei o corpo e logo depois o cabelo. 
Vi então roupas sobre o móvel e peguei as mesmas para vestir. A cueca ainda tinha etiqueta... Olhei o chão tentando acalmar-me. Aquele alfa estava mesmo a ceder uma peça, que nunca tinha usado, a um desconhecido? Vesti-a e logo depois peguei no moletom sentindo o cheiro de baunilha. Acariciei a barriga e suspirei. “E agora?” Quando estava vestido saí do banheiro abraçando-me e fiquei sem reação ao ver que o alfa preparava o sofá com cobertores. 
Tremi quando ele me chamou para mais perto. Esperei qualquer coisa ruim, mas apenas me surpreendi mais uma vez. O meu coração começou a martelar no meu peito quando percebi que ele cuidou de cada um dos machucados no meu rosto. E saiu depois de um boa noite sem absolutamente mais nada. 
Toquei a minha barriga e suspirei. “Só hoje”. Deitei-me na cama improvisada e cobri o meu corpo sentindo melhor do que algum dia estive. Não notei quando adormeci. Só sonhei que por uma vez na vida alguém se importou comigo mais do que uma vez. 
 
⏩⏩
 
Acordei com o bebé a mexer. Abri os olhos mas deixei-me estar ali só mais um pouco. Talvez o alfa me expulsasse assim que eu me levantasse dali então não havia o porquê de apressar as coisas. Esperei algum tempo mas não conseguia ouvir nenhum movimento. Acabei por me sentar no sofá e espreguicei-me. Logo notei um pequeno papel na mesa e peguei-o 
 
Bom dia...Tive de ir para o trabalho. 
Não deu para esperar que acordasses....
Tem comida na geladeira se sentires fome, o que eu acho que vai acontecer.  
Não sei se quando chegar vais estar aqui. Não sei se podia ajudar de qualquer forma. Boa sorte. 
Suspirei enquanto olhava para o papel. 
”Será que ele quer que eu vá? Acho que estarei, preciso de agradecer..”
O meu estômago roncou de forma dolorosa. Eu tinha permissão, mas será que devia? 
Levantei-me e caminhei para onde achei ser a cozinha. Entrei e caminhei até à geladeira e um som de descontentamento saiu pela minha boca sem que eu quisesse. Não havia quase nada. Só tinha um pacote de leite por abrir e uma caixa de ovos. Mordi o lábio e agarrei na caixa de ovos e tirei dois. Depois vi que havia pão em cima do balcão, o que era uma grande sorte.
    -Do que é que ele se alimenta? Nem ramen tem…
Cozinhei os ovos e comi-os com o pão. Não era nada de especial mas matava-me a fome. 
    Estava distraído a lavar o que sujei, quando reparei que havia um relógio na parede. Arregalei os olhos ao ver que eram seis e dez. Como é que tinha dormido tanto?
    Ouvi o som da porta abrir e encolhi-me, mas logo passou quando o cheiro de baunilha se intensificou. 
    -Ei… - ele disse parando perto da porta da cozinha. 
    -Ei - olhei para baixo. Fui ensinado a nunca olhar nos olhos de um alfa. 
    -Melhor? - perguntou 
    Apenas acenei. Sentia-me renovado. Não tinha frio ou fome e ninguém me bateu nas últimas horas. Então foi uma vitória.
    -Estou surpreso. Não esperei ver-te aqui - o alfa disse.
    Engoli em seco e abracei o meu corpo sentindo-me estúpido. Óbvio que devia ter-me ido embora.
    -Desculpa. Eu vou embora. - Andei em direção à porta, mas parei ao ver que ele não se tinha movido.
    -Eu não quis dizer que tens de ir. Só achei que sim, depois de não teres dito nada ontem. - sorriu - comeste alguma coisa?
    -Sim.. obrigado.
-Eu vou tomar banho. Depois conversamos sobre isto, pode ser? - perguntou e eu apenas acenei que sim. 
Não demorou para que ele seguisse para o banho e para que eu me acomodasse no sofá. E esperei. Ele voltou de roupa mudada para algo mais confortável e quente. Andou até ao braço do sofá e sentou lá. 
-Então… imagino que não tenhas para onde ir. - disse e eu apenas acenei - e também pelo jeito que te encontrei acho que não deves ter roupa ou tão pouco roupa para o teu bebé.
-Sim - mordi o lábio 
-Tudo bem. Eu posso ajudar por agora. Quando tiver mais tempo ajudo-te a procurar uma daquelas instituições que ajudam ômegas na tua situação. 
Apenas acenei.O que podia eu dizer-lhe? Era tão bom saber que alguém me podia ajudar.
-Eu posso ajudar nas tarefas de casa como agradecimento. - sugeri 
-Não te vou deixar trabalhar com esse barrigão! - o alfa riu - parece uma gravidez bem avançada. Quantos meses? - perguntou de forma curiosa 
Fiquei vermelho de vergonha. O que eu lhe podia dizer? Que todos os alfas que conheci eram um porcos, indecentes e totalmente fora de si? E por isso não fazia a mínima ideia.
-Não sei… - encarei o chão 
-Como? - a pergunta foi feita de forma curiosa.
-Eu só não sei…
-Mmm.. nas ecografias não disseram? - questionou novamente
-Eu não fiz nenhuma..
O alfa ficou calado por um instante e logo levantou. 
-Por escolha ou por outra razão? - sentou mais perto 
-Só não tive a oportunidade.
Ouvi-o respirar pesado e mover a cabeça.
-Queres fazer uma? Eu conheço uma clínica.. Posso levar-te lá.
Senti-me mais triste e toquei a minha barriga. Eu não queria ocupá-lo e além disso:
-Eu não tenho dinheiro… 
-Eu sei - ele riu - vou marcar para amanhã. Venho-te buscar depois do trabalho e vamos.
Senti os meus olhos encherem-se de lágrimas e olhei para cima sem medo pela primeira vez em muito tempo. A posição dele não parecia ser a de um alfa ameaçador ou tão pouco medonho. E eu sentia-me bem perto...
-Eu não terei como agradecer ou forma de compensar 
Vi o alfa rir - Eu sei… - Ele levantou novamente e pegou o telemóvel. - Vou pedir uma pizza. De que sabor gostas?
Surpreso não era bem a palavra que me definia naquele momento. Aquele alfa era diferente. Completamente diferente. 
-Quatro queijos - disse enquanto brincava com as minhas mãos 
 
Encolhi-me no sofá enquanto o ouvia falar ao telefone. Um alfa que eu nem sabia que nome tinha, fez mais por mim num dia do que a minha família durante toda a minha vida. Talvez existisse um que eu não odiasse.
 

Life Goes On - JiKook ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora