Sala de Emergência

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Todos me olhavam de forma muito estranha logo quando entrei na emergência, a maioria se afastando. Eu só queria ser atendido logo, sentia muita dor no pé, até o rapaz que estava no balcão de atendimento demorou cerca de quinze segundos depois que pedi por atendimento médico.

O rapaz disse para eu sentar e aguardar, então quando me virei para sentar vi um lugar vago entre duas pessoas, a dor estava insuportável e precisava muito sentar. Assim que comecei a ir em direção ao assento vago as duas pessoas perceberam e com expressões de pavor em seus rostos se levantaram nervosamente, como bonecos de braços congelados se afastaram e ficaram de pé no outro lado da sala de espera, não deixando de me encarar por um segundo.

Assim que sentei um alívio indescritível e nem dei atenção a este comportamento estranho dessas pessoas, na verdade nem me importei, até achei bom ter bastante espaço do meu lado e sem ninguém para querer "puxar conversa", que iria me forçar a ser simpático.
Entretanto minha tranquilidade não durou muito, logo uma senhora minúscula e até meio encurtada nas costas ficou a me encarar, estava sentada bem na minha frente.

Desviei o olhar o quanto pude, mas minha visão periférica me permitia perceber que esta senhora nem piscava, com seus olhos vidrados em mim. Calculei quanto tempo ela levaria para me perguntar o que tinha acontecido, como se não tivesse muitas outras pessoas lá com algum problema para ela perturbar com perguntas que em nada vai resolver o problema de ninguém.

Estranhamente me equivoquei, o que por si já me deixou irritado, isso não é normal que aconteça. A senhora, após alguns minutos me encarando e sem falar nada como se tivesse em queda livre e com o pescoço envolto em uma corda de enforcamento, levantou-se de forma abrupta e se dirigiu à recepção. Lá gesticulava e apontava para mim, mas falando de forma que eu não pudesse ouvir, já o rapaz ficava com as palmas das mãos voltadas para ela como se a estivesse abençoando, mas que creio era um sinal para ela se acalmar, colocando por vezes o dedo indicador direito nos lábios comprimidos para que ela cessasse de falar.

A senhora, após alguns momento desta tentativa de diálogo confusa, deu meia volta e, não deixando de me olhar mais uma vez com expressão de pavor, saiu desabalada para a rua proferindo algumas palavras inaudíveis que aparentavam ser pedidos de atenção ou xingamentos. Impressionante como as pessoas não conseguem não nos perturbar, não sei o que em mim teria incomodado esta desequilibrada senhora, mas que bom que foi embora, não sou a Monalisa e nem ali era o Louvre para ela ficar me olhando.

Após esta situação comecei a perceber que cada vez mais a sala estava ficando vazia, tudo enquanto eu ficava apalpando meu pé direito, massageando para tentar aliviar a dor que sentia, suportável mas constante e extremamente desagradável. Quando levantei o rosto, percebi que o rapaz da recepção já não estava em seu posto e que havia um policial em frente ao balcão apontando e chamando as pessoas, às vezes de uma em uma e outras vezes em pequenos grupos, para irem na direção dele e depois saírem para a rua.

Cheguei a pensar que era um exercício de incêndio, mas logo a sala ficou praticamente vazia, ficando apenas eu e o policial com seus óculos escuros que, mantendo a sua distância de mim em frente ao balcão da recepção e voltado para mim, parecia estar mantendo vigilância. Confesso que gostei daquela sala vazia, eu tinha mais espaço e sossego, bem como pensei que não teria mais ninguém na minha frente para ser atendido.

Como o rapaz da recepção não estava mais ali, pensei que seria estranho que o policial iria me chamar, então pensei em brincar de guarda de trânsito com ele e fazer sinal para ele vir na minha direção providenciar logo meu atendimento. Entretanto, não houve tempo hábil, logo senti uma espécie de picada no lado direito do meu pescoço e meus sentidos se apagando um a um de forma muito rápida.

Minha última lembrança antes de me sentir caindo em um vazio infinito foi a de ver o vulto do policial da recepção correndo em minha direção e atrás dele outros vultos, tudo envolto em um nevoeiro de gritos abafados e histeria do pequeno grupo...

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⏰ Última atualização: Feb 28, 2021 ⏰

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