Capítulo III

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SUNGHOON

O frio deslizava sobre meu rosto. Meus pés deslizavam sobre o gelo.

Eu não percebia muito meus movimentos, pois estava com a mente a vagar para longe dali. Havia tanto em que se pensar.

Minhas mãos se moviam em sequências ordenadas, buscando a perfeição do encanto. O dom da água se era mais estável quando eu estava perto desta, então me deixava levar sobre o lago congelado, que sempre me transmitia mais confiança.

Ao findar os gestos, porém, o resultado foi um impulso irregular pra trás, me jogando abaixo e atirando lanças afiadas de gelo à frente, vindo dos meus dedos, indo estalar desordenadas sobre o lago congelado.

— De novo — choraminguei. Ergui meu corpo lentamente, e de pé, repeti os movimentos suaves, ainda pouco centrado. Falhei. — Ah...! Por quê? Por quê? — voltei a protestar contra a minha incapacidade de ter controle sobre mim.

Levantei outra vez e voltei a deslizar por sobre o gelo, mas agora sem encantos. Eu não podia manter a mente vazia, não conseguia.

Todas as coisas em minha volta estavam em descontrole. Quaisquer pendências que estivessem sob meu dever, sejam em qualquer aspecto da minha vida, estavam fora de ordem.

E então, nem mesmo controlar o gelo eu era capaz.

Deveria ser o mínimo, mas meu alcance natural era muito superior ao que eu podia dominar. Meu dom era tão insano, que eu facilmente poderia matar uma pessoa sem ter verdadeiramente a intenção de o fazer.

Eram raros aqueles com tamanho poder como eu, logo precisava manter em segredo esse excesso que me assombrava. Pra todos, eu era um príncipe de dons medianos, mas que não sabia os controlar.

Por fim, eu não tinha autorização para usar magia fora dos muros do Palácio. Não podia usar da magia em espaços com outras pessoas. Também não podia usar a qualquer hora. Todos sabiam que eu tinha o dom, mas nunca me viam o fazendo.

Continuei dando voltas pelo lago, deslizando até cansar de ver a mesma paisagem. Era noite e a luminosidade fraca era preenchida somente pelas tochas pequenas distribuídas pelas casas do palácio.

Num breve momento de reanimo, voltei a praticar a sequência de gestos. A intenção era fazer um movimento de ataque, atirando estilhaços de gelo em um perigo imaginário.

Por menor que fosse o esforço, o impacto era sempre grande e talvez por estar pensando sobre a manhã seguinte, coloquei força demais na minha atitude.

Fui lançado fortemente pra trás, sendo arrastado por uma distância considerável e caí de costas de novo. Desta vez o impacto foi tão maior, que acabei ficando na mesma posição que caí, imóvel, respirando fundo e absorvendo a dor.

Olhando o céu, era negro e sem estrelas... e eu nunca as tinha visto. Eram brancas e brilhantes como contavam as lendas?

Passos apressados vieram até mim e eu sabia que era meu guarda pessoal. Achava que eu tinha desmaiado certamente.

— Alteza? O senhor não está bem? — Chegou perto de mim, se abaixando, mas não ousou me encostar.

— Estou sim, é claro! Acha que eu morreria por uma queda tão ridícula? — Cortei, mas também não me movi do lugar.

— O senhor bateu a cabeça, pensei que talvez...

— Você pensa demais — o interrompi.

— Peço perdão, Alteza. — E se curvou minimamente.

Ele era tão mais sério que Kim Dongyoon. Na verdade, aquele meu guarda tinha sumido das minhas vistas desde o incidente da criança e eu temia por sua vida, achando que tinha sido morto por não ter protegido a mim como deveria. Eu não consegui tirar informações de ninguém quanto ao seu paradeiro, apenas que seu sobrenome era Kim.

Império de Gelo • sungsunOnde histórias criam vida. Descubra agora