Quem diria?

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— Briga! Briga! Briga!

A algazarra dentro da cozinha industrial aumentava a cada segundo. Alguns batiam panelas, talheres, outros urravam e gargalhavam. Os utensílios pendurados no teto rebaixado vibravam com a comoção. Se não fosse pelo cenário metálico e limpo, um desavisado julgaria se tratar de uma arena de luta.

— Vai, Kirishima, quebra a cara dele!

— É sua, Tetsutetsu! Mostra quem manda!

Apesar de ser um hotel cinco estrelas, vez ou outra os funcionários duelavam até que alguém fosse levado ao hospital. Hoje, para o entretenimento geral, Tetsutetsu falou que Jackie Chan era melhor que o herói de Kirishima, o Bruce Lee. Fã assíduo de artes marciais, é claro que o ruivo não deixaria passar barato.

—  Bruce Lee andou para que Jackie chan pudesse caminhar! — Kirishima estava suado e meio confuso com a sequência de acontecimentos, a começar por Tetsutetsu desferindo-lhe golpes com a espátula de virar panquecas.

—  O certo é “caminhar para que pudesse correr”, Kiri! —  Mina gritou da plateia, ajudando-o. Naquele ponto, até as camareiras e recepcionistas tinham aparecido para testemunhar a cena.

—  Hã!? —  Kirishima parou para observá-la. Não tinha ouvido bem, mas pelo tom de censura, soava importante.

—  Bruce Lee caminhou para que Jackie Chan pudesse correr! —  Tetsutetsu complementou.

— É o que eu disse! —  Calma aí, então Tetsutetsu concordava que Bruce Lee era melhor? Por que eles estavam brigando?

—  Kirishima, atrás de você! — Jirou alertou.

Tarde demais. Olhando para cima, Kirishima viu a panela de pressão brilhando como se fosse algo divino, estilo entrada de anjos no paraíso. Antes que pudesse desviar, lembrou-se de que havia colocado batatas lá dentro, em uma tentativa de ajudar quem fosse descascá-las.

E agora estava tudo caindo sobre ele.


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—  N-não pode ser…

—  Não restam dúvidas, doutor. Fizemos a tomografia duas vezes.

Kirishima balançava as pernas enquanto olhava aquelas figuras vestidas de branco. Eles pareciam bem preocupados, o que havia de tão assustador em um exame de raio-x?

—  Foi só um galo, pessoal. Já nem está mais doendo. Vocês precisavam ver quando fui ajudar o Kaminari e bati o carro, aquilo sim foi feio. —  Kirishima começou a rir, tudo para afastar aquele clima pesado.

—  Você não está zonzo, tonto? Distúrbio de equilíbrio? Labirintite? 

—  Não, não… —  algum tempo de passou sem que ninguém quebrasse o silêncio. — E-eu estou com fome, serve?

O médico sênior sentou-se na sua frente.

— Kirishima, escute bem o que vou lhe dizer. Vê o resultado na análise cerebral, aqui em minhas mãos? Este é um cérebro normal, esse é o seu. Há vários pontinhos em branco nessa parte, percebe? É um caso raro de Síndrome de Lampington.

Eijirou balançava a cabeça como uma criança recebendo instruções. Não fazia ideia de quem era Lampington. Na verdade, só conseguia pensar que era um nome chique.

—  Quanto tempo eu tenho, doutor? — Brincou.

—  Quinze dias, por aí.


Kirishima gargalhou.

O sequestro  [ONESHOT] Onde histórias criam vida. Descubra agora