Escolhas

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– O que o fez pensar que mudaria minha opinião? – Minha irmã se assustou quando me levantei do sofá bruscamente. O homem me encarou, ligeiramente afetado.

Pensei que meu ato dramático seria o suficiente para afugentá-lo, entretanto ele permaneceu.

Antes de dar as costas para ambos, percebi que as faces pálidas de minha irmã ganharam o tom das papoulas arranjadas no vaso próximo. Inspirei fundo, refletindo. Quem aquele sujeito pensava que era?  Depois do que fez a mim...

Era o amor de minha vida. E a pior parte era que estava ciente disso. Eu não desperdiçara quaisquer chances de assegurá-lo.

Contudo o homem que mantinha os pés no tapete não era o mesmo por quem me apaixonara. Estava mudado. Ou talvez eu jamais o tivesse conhecido de fato.

Um telegrama... Um telegrama foi a despedida que eu recebera dele. Uma mensagem resumida em poucas linhas denotando sua empolgação diante do que o futuro lhe reservava. Ignorara as entrelinhas: eu não fazia parte daquele futuro. Aquele pensamento deu-me a coragem necessária. Voltei-me para ele, minhas saias farfalhando com o movimento e pedi:

– Vá embora, por obséquio.

– Imploro que reconsideres...

– A escolha que fizeste mudou tudo, senhor. Que assim permaneça.

– Senhorita, eu a amo, não posso...

– O senhor agiu levianamente, não se atreva a proferir tal palavra! – Ele surpreendeu-se com minha alteração – Pelos Céus, tu ficaste noivo de minha prima!

– Acredite-me – gaguejou – quando afirmo que foi um erro...

– Ao contrário, devo congratular o grande e astuto vencedor! O prêmio era a moça mais rica, cujo pai severamente imputava que ela deveria se relacionar com um cavalheiro distinto. Como nenhum lhe parecesse bom, o jovem senhor Taylor foi o felizardo contemplado, ao prestar seus serviços e ganhar a confiança do nobre!

– Por favor, pare! – Balbuciou.

– Oh, sim! Por quem foste recomendado ao baronete? Pelo pai da prima de classe inferior! Meu querido pai o fez na esperança de que me desposarias! Fomos tolos ao não desconfiar de tuas intenções. – Percebi algo em seus olhos – Estás chorando? Atreve-se a chorar em minha presença?

– Tenhas compaixão!

– A mesma compaixão que usaste para comigo? Ao ler o bilhete, caí em prantos. Susan é testemunha. – Gesticulei para minha irmã, que parecia desejar fugir dali – Com a passagem dos dias, a falta de notícias fazia-me chorar constantemente. Portanto dois meses depois, o senhor retornou comprometido com minha prima. – Ele tentou segurar minha mão, porém a afastei – Eu infringi regras para vê-lo, para obter uma resposta, na qual o senhor transpareceu que meu dote não era atrativo o bastante para ti.

– Arrependo-me imensamente do que fiz. Rogo-te que me perdoes. – Tirou um lenço do bolso e secou os olhos.

– Posso lhe conceder meu perdão, contanto que jamais voltes a pedir-me que deixe tudo por ti. Outrora, tê-lo-ia feito indubitavelmente, todavia magoaste-me deveras.

Ele anuiu.

– Quando se dará a cerimônia?

– Casar-me-ei no mês próximo.

– Compreendo. – Ele fechou os olhos e fez uma reverência com a cabeça – Meus mais sinceros votos de felicidade ao casal.

Devolvi o cumprimento e o observei deixar a sala. Minha irmã aproximou-se desconcertada.

– Pensei que tu amava-lo, Meg.

– Eu o amo, Susan. – Suspirei – Não pretendo assolar teus ideais românticos, minha irmã, contudo há de ser melhor assim. – Ao dizê-lo, tentei do mesmo modo convencer a mim.

A vida seguiu seu curso, qual rio que deságua no mar. O senhor Taylor não se casara com minha prima. Eu nunca soube se casara-se com outrem.

Quando o vi pela última vez, ele acabara de salvar um menino de se afogar, desaparecendo nas águas momentos depois, claramente exausto. Aquele menino era o meu filho.

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