oito

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OITO

Assim que saio da sala subo a escada correndo, vou pelo corredor até o quarto e verifico o celular. Mas só está carregado pela metade e não faço idéia de onde vou encontrar um sinal. Se Ingrid conseguiu, devo conseguir também. Qual será a operadora dela?

- Regina?

A voz de Ingrid emerge do térreo.

- Regina? - Ela parece irritada. Agora posso ouvir seus passos subindo aescada.

- Senhora? - Vou depressa pelo corredor.

- Aí está você! - Ela franze a testa ligeiramente. - Faça a gentileza de não desaparecer para o seu quarto enquanto está de serviço. Não quero ter de ficar gritando por você desse jeito.

- É...sim, Sra. Mitchell - digo. Quando chegamos ao corredor meu estômago dá uma cambalhota. Atrás de Ingrid vejo o The Times sobre a mesa. Está aberto na página de economia e uma manchete diz GLAZERBROOKS CHAMA CREDORES.

Meus olhos percorrem o texto enquanto Ingrid começa a remexer numa gigantesca bolsa Chanel branca - mas não vejo qualquer menção à Carter Spink. Graças a Deus. O departamento de RP deve ter conseguido esconder a história. 

- Onde estão minhas chaves? - Ingrid parece aflita. - Onde estão? - Ela remexe mais um pouco e mais violentamente dentro da bolsa Chanel. Um batom dourado sai voando pelo ar e cai aos meus pés. - Por que as coisas desaparecem?

Pego o batom e entrego a ela.

- Lembra-se de onde as perdeu, Sra. Mitchell?

- Eu não perdi. - Ela inala profundamente. - Foram roubadas. É óbvio. Teremos de trocar todas as fechaduras. Nossas identidades serão tomadas. – Ela segura a cabeça. - É isso que esses fraudadores fazem, você sabe. Saiu um artigo enorme sobre isso no Mail...

- São essas? - De repente notei um chaveiro Tiffany brilhando no parapeitoda janela. Pego o molho de chaves e estendo.

- É! - Ingrid está absolutamente pasma. - É, são elas! Regina, você é maravilhosa. Como encontrou?

- Não foi problema. - Dou de ombros com modéstia.

- Bem! Estou muito impressionada! - Ela me dá uma olhadela significativa.- Contarei ao Sr. Mitchell.

- Sim, senhora - digo tentando injetar na voz o tom exato de gratidão avassaladora. - Obrigada.

- O Sr. Mitchell e eu vamos sair num minuto – continua ela, pegando um spray de perfume e se borrifando. - Por favor, prepare um sanduíche leve para almoçarmos à uma hora, e faça a limpeza do andar de baixo. Mais tarde falaremos sobre o jantar. - Ela gira. - Devo dizer que ficamos os dois muito impressionados com seu menu de foie gras tostado.

- Ah ... é... que bom!

Tudo bem. Na hora do jantar já terei ido embora.

- Agora. - Ingrid dá uma última batidinha no cabelo. - Venha um momentinho à sala de estar, Regina.

Acompanho-a à sala e vamos até a lareira.

- Antes de eu sair e você começar a limpar o pó aqui - diz Ingrid -, queria lhe mostrar o arranjo dos ornamentos. - Ela indica uma fileira de bibelôs de louça no aparador. - Isso pode ser difícil de lembrar. Por algum motivo, o pessoal da limpeza nunca entende. De modo que, por gentileza, preste atenção.

Obedientemente viro-me para o aparador da lareira.

- É muito importante, Regina, que esses cachorrinhos de louça estejam virados um para o outro. – Ingrid aponta para um par de King Charles spaniels. – Está vendo? Eles não ficam virados para fora. Ficam virados um para o outro.

Regina Mills, executiva do lar - SwanQuennOnde histórias criam vida. Descubra agora