O Velho Sábio

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   Era mais um dia normal na vida do estudante Josh, um garoto de estrutura óssea magra, cabelos escuro e bem curto, junto de seus olhos claros e intensos.

Caminhava após a aula para a sua casa como havia feito durante toda sua vida praticamente, mas quando chegava à praça via sempre o mesmo mendigo sentado perto de um canteiro cheio de flores, aquele senhor com longas barbas, sujo e com olhos extremamente tristes, parecia que estava cansado de viver. E repetia a si mesmo:

- Se ele parece tão triste porque não desiste logo ao invés de ficar nessa vida?

- Espero nunca ter que ficar assim um dia.

Então seguia sua caminhada brigando intensamente consigo mesmo, numa tremenda batalha mental, se questionava muito do porque de não conseguir se dar bem com garotas ou porque as coisas de ruins só aconteciam com ele, buscava respostas, mas no fundo ele sabia que estava se sentindo muito sozinho e isso o incomodava muito.

Então logo em seguida chegou a sua casa, sem falar com seus pais ou trocar qualquer misera palavra, foi em direção ao seu quarto, fechou a porta, ligou o computador e colocou seus fones de ouvido, parecia que estava tentando fugir de alguma coisa, e precisasse manter sua mente sempre ocupada.

Minutos se passaram ali dentro do quarto e então começou, as duvidas surgiam na mente de Josh, perguntas simples relacionadas à sua existência, e isso o deixava mal, ele então repetia em voz alta aquilo que se passava na cabeça:

- Porque isso acontece comigo?

-Porque eu tenho que ser sozinho?

-Porque nada de bom acontece comigo?

E o silencio dominava todo seu quarto por um longo período de tempo, e ali sentado na cadeira, escorria lagrimas de seus olhos por não conseguir obter respostas. E de fato ele acreditava que deveria receber algum tipo de sinal que mostrasse o porquê daquelas coisas acontecerem com ele, mas na verdade, só queria colocar a culpa em alguma coisa ao invés de começar a tomar atitudes e mudar o contexto de sua vida.

Josh não conseguia ver suas qualidades e nem tudo o que tinha de bom ao seu redor, com o tempo veio se tornando uma das pessoas mais negativas que podia existir, seus amigos haviam se afastado por esse mesmo motivo, estavam cansados de ouvirem as suas reclamações e suas desistências, tentaram lhe ajudar, mas tudo que fizeram não valeu de nada.

Mais um dia se passou, e mais uma vez, ele voltava caminhando para sua casa, cabeça baixa e com um ar de fracassado que havia desistido de tudo, inclusive de si mesmo.

Só que de repente, quando estava passando pela praça, ouvia uma voz grossa e meio rouca dizer:

- É difícil estar sozinho não é?

Josh olhou para trás meio espantado e procurou quem havia dito aquilo, rodava a cabeça e não encontrava ninguém, até que olhou pra baixo e viu o mendigo sentado lá. Então perguntou:

- Foi você quem disse isso?

- É difícil, eu sei, mas da pra ver nos seus olhos que você tenta se livrar desse sentimento de solidão.

- Como você pode saber disso? Você é só um morador de rua, viver sozinho faz parte da sua vida e eu não quero viver como você assim.

De uma maneira bem arrogante Josh tentou humilhar o senhor que estava ali sentado, mas ficou espantado com a resposta que ouviu:

- você tem razão garoto, viver sozinho faz parte de minha vida, mas não somos tão diferentes assim.

O menino olhou para ele, riu e disse:

- Com certeza não temos nada em comum, olhe pra mim e olhe pra você.

O sábio com um gesto pediu para o garoto chegar mais perto que ele queria entregar uma carta, escrita em um papel amassado e velho, e disse:

- o que esta escrito aqui vai te ajudar a compreender o que esta acontecendo com você, mas a escolha vai ser sempre sua, viver como prisioneiro ou ser livre.

- Na vida escolhemos sempre o que queremos e quando queremos, mas nunca paramos e pensamos se tudo isso é realmente para nós, damos valor as coisas que nem são importantes, e quando perdemos aquilo que é valioso perguntamos o motivo, como se fosse obrigação do universo nos responder.

- Você acha que é diferente de mim, e tem toda razão, nossas carcaças nos separam em um mundo onde as pessoas olham apenas para o 'ter', em terra onde se valorizam o ser, todos se tornam doentes por nunca terem conhecido a si mesmo.

- Uma ultima coisa garoto, vale muito mais se concentrar na caminhada, a busca por uma resposta imediata das coisas nos deixam doentes, sinta e aproveite os desafios, eles fazem de você quem realmente é, as respostas e o fim, nada mais é que o sucesso da transformação.

O garoto sem entender nada, com uma grande vontade de abrir o bilhete, mas decidiu guardar em sua mochila para ver em casa com mais calma, mas havia aquela grande duvida em sua cabeça, ''porque ele esta me dizendo isso, ou qual motivo dessa conversa''.

O senhor então se calou e não disse mais nenhuma palavra se quer, Josh virou as costas e começou andar rápido para que pudesse chegar logo a sua casa, olhou para trás e não viu o mendigo, e se pergunto ''onde havia se metido aquele rapaz''. Mas não se importou com isso naquele momento, e continuou a andar.

Pronto, agora estava ele, sentado na cadeira do seu quarto com a porta fechada, mas uma coisa tinha mudado, não havia fones, não havia música, sua cabeça estava totalmente preocupada com o que estava escrito ali, então sem delongas, começou a abrir e ler.

'' Entenda garoto, na vida você estará sempre sozinho se não acreditar que possui a si mesmo, coisas irão dar errado não importa onde e quando, mas, olhe para as arvores, cada estação elas passam por transformações, elas mudam e se recompõem, elas escolheram aceitar quem realmente são e viver 'livres', seja como uma arvore, permita-se dar frutos e mudar, e no final seja resistente, perguntas sempre existirão e muitas delas não terão as repostas.

Aceitar a vida como ela é não significa que você não pode muda-la, significa que vai dar seu melhor para aproveitar o seu tempo que tem aqui e do seu jeito!

Abraço, O velho Sábio. ''

Josh simplesmente travou, queria na mesma hora ir ate onde se encontrava o senhor para conversar e perguntar o que tudo aquilo significava, mas decidiu esperar amanhecer.

Logo no dia seguinte, ao sair de sua aula foi correndo à praça, mas o senhor não estava mais ali, perguntou se as pessoas haviam visto, mas ninguém nunca tinha visto tal pessoa com tais características, meio perdido o garoto se sentou no chão onde o senhor ficava, com a mão em seu rosto e milhões de dúvidas, não sabia o que fazer.

Minutos se passaram e ele olhou pra cima, era outono, as folhas das arvores mudando de cor e caindo levemente, lembrou que isso acontece por causa da natureza sinalizando para elas que precisam poupar energia. Foi descendo olhando pelo tronco da arvore e viu escrito ali, ' Aprecie'.

Josh sorriu, e naquele pequeno instante da sua vida, foi capaz de entender tudo, ainda sorrido disse:

- Sou grato a você, Velho Sábio.

Raul Fellipe Xavier Custódio.

O velho SábioOnde histórias criam vida. Descubra agora