Os barulhos externos eram desconfortáveis, repetitivos, deixavam seus ouvidos com náuseas. Por este motivo, seus fones estavam sempre conectados a si.Não precisavam necessariamente estar tocando alguma música, as vezes, apenas ficavam ali, amenizando os ruídos irritantes da humanidade.
Ela não ouvia apenas músicas cantadas ou instrumentais, ia além disso. Belos cantos de diversos pássaros e melodias da terra também eram transmitidas por aqueles fones. Era de seu agrado, já que estes sons já haviam sido extintos do centro urbano, sendo substituídos por falatórios e contrações de grandes prédios que tapavam o sol matinal.
A chamavam de antissocial. E de fato ela era, porém não dava ouvidos as falácias que rondavam sobre si. Andava com as mãos bem abrigadas do frio dentro dos bolsos confortáveis de seu moletom, enquanto seus pés se moviam ao som da música presente nos fones.
Mas tinham algumas ocasiões, alguns momentos que eram tão preciosamente calmos que lhe eram concedidos a retirada de seus fios. A chuva era uma delas, pingando serenamente, criando melodias agradáveis nas folhagem e margens de rios e lagos. Outra situação seria suas escaladas até as pequenas e distantes colinas, nos limites da cidade, onde o poente exalava toda sua cor, e a brisa noturna surgia timidamente, acordando os galhos das árvores e a relva, que cantavam ao seu comando.
Ali a jovem se sentia dentro de seus fones, se sentia livre, era sua alma quem ouvia agora, apreciando cada nota feita por aqueles lugares, a música que sempre existiu, muito antes de quaisquer seres fabricarem um gravador ou quaisquer semelhantes. Os sons da natureza, os sons que teus fios amavam.
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Contos De Uma Madrugada Mal Dormida
Short StoryCada capítulo será uma história diferente, sem um padrão aparente, apenas histórias curtas e rápidas, fáceis e intensas de se ler.