Prólogo

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Eduardo Toledo 

Seis anos atrás.

Eu e Bianca não esperávamos que nosso recente e conturbado relacionamento de oito meses tomaria esse rumo. Tinha vinte e quatro anos e, naquele ano, minha empresa finalmente alçou voos que me colocaram nos destaques em uma revista conceituada.

De qualquer modo, não rejeitei a novidade. Ter um filho não planejado não seria um grande problema, eu e a mãe dele nos convencemos de que isso acabaria de vez com nossos desentendimentos.

Ficamos parecendo dois loucos sonhadores, fazendo planos, imaginando a vida com nosso filho. Bianca era tão romântica, achava que a vida era um conto de fadas e, naquela época, acreditamos que viveríamos um.

A princípio, a escolha foi um parto domiciliar, natural e humanizado. Eu era o cara condescendente, ouvia de mamãe e da mãe dela que deveria apoiar as escolhas dela para dar a luz. Foi o que fiz. Descobrimos que era um menino, mas queríamos esperar ver o rosto do nosso filho para escolher o nome. Saber qual nome combinaria melhor para ele. A lista era infinita, mas Davi e Heitor estavam em nossas prioridades.

Quando ela beirou as trinta e duas semanas, o doutor pediu o afastamento das atividades, repouso absoluto. Não queríamos um parto prematuro extremo. Cancelamos chá de fraldas, eram dias preocupantes, mas ela estava sendo monitorada pelos melhores médicos.

Com trinta e quatro semanas, ela teve mais contrações, me deixava em pânico, mas o médico sempre conseguia me tranquilizar. Conseguimos – ela conseguiu – levar a gestação até as trinta e cinco semanas, mas apresentava muitas dores, contrações que em uma quarta-feira, o pior dia de toda minha vida, começaram a vir sem intervalos. Bianca queria o parto humanizado em casa, mas, dessa vez, eu precisei ir contra. Queria os melhores médicos monitorando, queria que estivéssemos no melhor hospital para eventuais complicações.

O doutor tentou parecer otimista, conversou com Bianca sobre o trabalho de parto, que as chances de conseguir o parto natural eram menores agora, mas que iria monitorar e fazer o possível. Fiquei ao lado dela, dando apoio, mas o medo que me corroía era cruel.

Bianca estava confiante, era nosso primeiro filho, queríamos pelo menos três, e ela queria o parto natural. Eu acatei, dei apoio, fiquei ao lado dela. Coisa que me arrependi amargamente depois. Era um parto prematuro, difícil, eu devia ter insistido para a cesariana, sei lá, talvez o destino tivesse sido outro. Foram horas esperando a maldita dilatação, que estava lenta. O doutor tentava ser otimista, alegava que estava demorando, mas que poderíamos esperar.

Quando se deu conta de que Bianca não iria evoluir, que não seria possível o parto dos sonhos dela, já era tarde. Ela começou a ter dificuldade para respirar, demorou a conseguir ficar quieta para a anestesia. Foi um inferno completo.

Bianca apresentou um quadro raro de CIVD (coagulação intravascular disseminada), e o imbecil do médico, preocupado apenas em nos tranquilizar, demorou a dar o diagnóstico, foi tarde demais. Bianca ficou agitada no centro cirúrgico, eu não queria deixá-la, mas com o agravamento do quadro, foi preciso sair da sala.

Não parei quieto no corredor daquele maldito hospital, os médicos entravam e saíam, o tempo pareceu correr, me fazendo sentir um pânico que jamais imaginei ser possível.

Nossos pais estavam lá, mas eu não queria abraço, não queria consolo. Queria esfolar o médico maldito que a deixou escolher passar horas e horas tentando o parto natural. Como profissional, ele deveria saber que não daria, que teríamos que partir para uma cesariana. Me culpei, eu não deveria ter apoiado a decisão. A gravidez começou a apresentar complicações há semanas, eu deveria ter sido mais intuitivo, mais decisivo em contrariá-la.

O mundo pareceu rodar em câmera lenta. Tudo ficou mudo, tudo que eu vi foi o médico vindo em minha direção, com uma expressão desanimadora. Comecei a tremer, tudo começou a lancinar, eu me sentia sendo esfaqueado, despedaçado em milhões de pedaços. Puxei a maldita touca que precisei colocar para entrar no centro cirúrgico e a apertei. Por um momento, não consegui respirar, o ar não entrava direito nos pulmões, tudo doía, maltratava.

A coagulação intravascular disseminada é uma síndrome adquirida caracterizada pela ativação descontrolada da coagulação no espaço intravascular levando à formação e deposição de fibrina na microvasculatura. Na maior parte dos casos de CIVD, há inibição da fibrinólise, o que contribui para a deposição de fibrina em diferentes órgãos. A deposição de fibrina pode levar à oclusão vascular e consequente comprometimento do fluxo sanguíneo para diversos órgãos, o que em conjunto com alterações metabólicas e hemodinâmicas pode contribuir para a falência de múltiplos órgãos.

O doutor tinha várias explicações médicas para o que aconteceu com ela, mas nenhuma salvação, nenhum milagre. Quando o vi em minha direção, rezei internamente para que Bianca se salvasse, minha prioridade era a vida dela. Egoísmo, eu sei. Por nosso filho ter nascido prematuro, por ter nascido abaixo do peso, foi direto para UTI neonatal. Quando soube que ele estava a salvo, me culpei, sofri ainda mais. Não teríamos sua mãe conosco, seriamos apenas nós dois e eu havia desejado muito que fosse o contrário. Queria que fosse eu e a mãe dele, apenas isso.

Tomei como um castigo, quando por complicações respiratórias, nosso filho também não resistiu. Eu vivi no automático, queria poder morrer junto com eles, porque minha vida havia sido dilacerada, completamente destruída. Estava tudo amargo, sem cor, sem nada. Eu havia perdido tudo.

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Cada lançamento é um nervosismo, medo de vocês não gostarem, toda expectativa... Fico tão apreensiva! 

Amei muito escrever Edu e Jordana. Amei desenvolver cada personagem dessa história, até as pedrinhas no sapato! 

Espero muito que gostem! 

Me contem aí o que estão achando! 

Beijo! Sejam muito bem-vindas!!! ♥

Doce Tentação - volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora