Capítulo Único

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Levi já estava quase morrendo dentro daquele carro. De tédio. Por um lado era bom que as coisas estivessem assim, significava que a segurança da cidade estava estável e não precisaria fazer troca de tiros com ninguém, mas por outro, o seu trabalho ficava no fundo do poço do mais puro tédio.

Sua bunda já doía de tanto ficar sentado no carro enquanto andava pelas ruas de Sina a procura de algo suspeito. E não achava nada, nem uma vírgula suspeita. Além disso, sua área era sempre tranquila, então costumava fazer os turnos sozinho, e isso também era incômodo. Agora não tinha seus subordinados para fazer piadinhas com seu humor ácido e assustá-los com algum papo bizarro. Fazer os novatos tremerem de medo era a sua dose de humor diária, mas hoje nem isso ele estava tendo.

Resolveu estacionar um pouco e inclinar o banco para trás. Suspirou pesado olhando para o celular com uma chamada perdida da sua mãe. Provavelmente estaria ligando para saber como estavam as coisas e preocupada também, já que seu turno era durante a noite. Esperou para que ligasse novamente, então atendeu.

— Como está indo? — a voz sonolenta de quem tinha acabado de acordar soou no telefone.

Levi sorriu.

— Tá tudo tranquilo, mãe — Ele respondeu tranquilamente — até agora não tive problemas, mas também estou patrulhando a área norte de Sina, aqui quase não acontece nada mesmo.

— Que bom, menos perigo pra você — Kuchel bocejou — cuidado, ok? E nada de chegar em casa e não ir dormir.

Levi deu uma pequena risada. Certamente sua mãe sabia suas manias.

— Sim, senhora! — respondeu prontamente, ouvindo a voz feminina soltar uma risadinha.

— Vou voltar a dormir, meu anjo. Fique bem. Boa noite.

— Boa noite — A ligação se encerrou, e Levi se perguntou se ninguém iria ligar para ele para tirá-lo daquele tédio. Depois de dez minutos encarando o teto, Levi teve a sua resposta. Nem mesmo Isabel, sua irmã, tinha ligado para ele para saber se estava vivo. Irmã desnaturada.

Vendo que a rua estava completamente normal, com todas as casas silenciosas, Levi resolveu sair dali e dar mais uma volta. Seu turno não levaria mais do que duas horas para terminar, e ficar sentado no meio de uma rua deserta, não ajudaria a passar o tempo.

Chegando ao final do bairro, numa rua sem saída e com alguns terrenos baldios para venda, Levi decidiu dar a volta e sair, mas acabou que um pontinho vermelho perto de um muro chamou sua atenção. Ele forçou um pouco os olhos para enxergar: um homem, sozinho e fumando alguma coisa. Bom, aquilo poderia tirá-lo do tédio.

Se fosse apenas um cigarro não teria problema. Se fosse outra droga, Levi teria que confiscar. De qualquer maneira, estar sozinho às três da madrugada fumando era motivo suficiente para ele ser suspeito de alguma coisa.

Levi saiu do carro arrumando o coldre e a arma dentro dele, verificando também se o detector de metais estava dentro do bolso para a revista, e é óbvio, fazendo uma cara de mau porque esse era o trabalho dele.

Quando o desconhecido notou a aproximação, ele deu um jeito de apagar o cigarro e tirar o capuz, e com a iluminação alaranjada Levi pôde ver um pouco dos cabelos compridos e da silhueta do rosto.

— Vira de costas e mãos na parede — Levi mandou autoritário com a voz em um tom normal para não reverberar pela rua toda.

O desconhecido virou-se rapidamente apoiando as mãos na parede como ordenado, contudo, seu rosto não se virou por completo, olhando para o policial por cima dos ombros.

— Fazendo ronda sozinho, senhor policial? — o desconhecido perguntou, a voz grave o suficiente para Levi ficar um pouco surpreso. Entretanto, só pela voz ele sabia que o cara devia estar chapado, ou no mínimo, bêbado.

Piercing | Ereri/RirenOnde histórias criam vida. Descubra agora