❛❛Eu queria um mundo onde não existisse decepções. Uma casa quente com cheiro de receptividade, que eu não tivesse medo de retornar a cada pôr-do-sol. Um manto macio para me aquecer durante o inverno, ou uma xícara de café morno depois das aulas com gosto de calmaria.
Eu não precisaria temer o escuro, pois eu estaria seguro. Eu queria um ninho confortável onde meu lobo pudesse encontrar sua paz, e também um lençol de linho onde pudesse deitar minha cabeça.
Eu queria uma rotina onde o soco não viesse, e meu coração não sangrasse. Um lugar para chamar de meu, um amor, uma amizade. Queria, nem que por alguns instantes, ter a sensação de ser amado e escolhido preenchendo meu peito.
Porque no fundo, eu queria acreditar que ninguém nasce tão desventurado quanto eu. E que algum dia, eu seria libertado e tudo faria sentido.
É realmente uma pena que eu tenha me esquecido disso tudo, e passado a viver somente de acordo com o que me és dado segundo após segundo.
Porque eu não existia mais, a alma não, mas o corpo sim.❜ ❜
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O início da manhã de sábado foi marcada pela grossa neve cintilante que se desprendeu do extenso céu cor de cinza, acompanhado de um suave sopro gélido, que por sua vez, indicava outra temporada de mais um inverno rigoroso que logo cairia sobre Lastria. Naquele reino, as outras estações do ano eram sempre modestas e calmas e o frio tomava conta de quase todos os dias do ano, por ser localizada em um relevo alto.
Os olhos esverdeados de Taehyung estavam fixos naquele imenso céu fúnebre enquanto a carruagem se locomovia de forma vagarosa por conta da neve escorregadia, essa que já haviam acumulado e se agarrado ao chão fortemente. Ele não estava atento a conversa que rondava dentro da carruagem, mas sabia que era igual a todas as outras; seu pai, rude, aniquilava o ânimo da sua mãe com uma dose de indiferença quando ela falava sobre algo, seu irmão mais velho tentava intrometer-se na conversa sempre que possível, e Daehyun permanecia calada como sempre com aquele olhar distante e a feição congelada. Ele não sabia o que se passava dentro dela, mas costumava pensar que era exatamente o mesmo que ele; nada de bom.
Para Daehyun, não existia mais nada a ser explorado, não havia surpresas, felicidade ou qualquer outro tipo de sentimento. Seu único desejo era somente viver o resto dos seus dias em paz, sem sentir aquele sufoco diário com aquela família, e ela esperava lá no fundo que o homem que se casaria pudesse dar isso a ela. Ela não esperava fidelidade, amor, ou nada parecido, seu único desejo era que pudesse ter paz. Só paz. Estava farta de ter que olhar para aquele homem que chamava de pai destratando quem fosse mais fraco, estava cansada da ladainha egoísta da sua mãe, não suportava o irmão mais velho que era apenas um retrato mal feito do seu progenitor, e também, estava cansado daquele olhar perdido e vazio preso nos olhos de Taehyung, que ela sabia bem como havia sido causado.
Estava farta de tudo aquilo. Das lembranças ruins e das agressões que sofrera junto com aquele garoto. Ela se recordava do porão escuro e empoeirado onde eram jogados somente por quebrar uma das regras tolas de seu pai.
O choro dele, melancólico e solitário, sempre a perseguiria onde quer que fosse.
O que rondava na cabeça dele nos longos e infinitos momentos de silêncio, ela não sabia, mas tinha certeza que todos os pensamentos eram caóticos. E ela não queria estar ali quando ele finalmente definhasse, pois sabia que iria acontecer em algum momento.
Seu lobo já havia ido, então porque Taehyung continuava ali, de pé ?
Ele não parecia forte, era apenas uma caricatura gasta pelo tempo e pelas más pessoas.
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Phoenix
RomanceEm uma época extremamente conservadora, Taehyung é criado por uma rígida família que prega que o único dever de sua vida como ômega é casar e servir um alfa. Não admitia, mas lá no fundo desejava uma vida longe das agressões que sofria, apesar de nã...