A data do safári estava se aproximando. Olhei desanimada para os documentos da viagem. Pelos vistos, ainda não era desta que o meu sonho se realizaria. Voltei a guardar o envelope e olhei à minha volta no quarto. Uma vez mais estava sozinha. Simão e David ficaram numa reunião com os detetives da agência de investigação contratada para descobrir o paradeiro de Diana.
Mariana já dormia. A babá e as outras empregadas também já se tinham recolhido nos seus aposentos. O silêncio da casa me sufocou. Sem paciência para ler ou assistir televisão, acabei descendo até à cozinha e me empanturrei com bolo de brigadeiro, até ficar enjoada. Me recriminei logo de seguida.
Merda! Só faltava eu engordar para minha vida piorar ainda mais.
Celeste me paparicava com meus doces preferidos. Ultimamente, a boa da senhora se desfazia em carinhos e mimos para me alegrar. Ela não era cega nem parva. Apesar de não haver discussão e briga entre mim e Simão, ela percebia que o clima entre a gente não estava legal e tentava compensar, me mimando. O seu carinho maternal era delicioso mas estava se tornando perigoso para a minha bunda.
Ouvi Simão chegar. Fui ter com ele.
Não estranhei a expressão dura e fria, acentuada pelo rosto magro e anguloso. A tensão transparecendo na rigidez da mandíbula e dos ombros fortes. Calculei que não havia novidades nenhumas. Mesmo assim, perguntei.
- Alguma novidade?
- Nada.
- David? Como está ele?
Deu de ombros.
- Vivendo um dia de cada vez.
Não adiantou mais nada. Desapertou o nó da gravata, num gesto que revelava o seu cansaço e depois encaminhou-se para as escadas, deixando-me ali plantada.
- O safári ... é melhor cancelar.
Parou e olhou para trás, na minha direção. Os olhos semicerrados. Provavelmente ele já nem se lembrava mais do safári.
- Cancelar? Por quê?
Afinal lembrava. Até fiquei admirada.
Dei de ombros. Para quê viajar sozinhos se atualmente ele só se sentia confortável longe de mim? Já estava sendo difícil conviver com a distância e frieza de Simão aqui em casa, onde eu estava rodeada de pessoas que me davam atenção e carinho, onde tinha minha filha para me compensar e reconfortar. Imagina só passar o tempo todo sozinha com ele. Seria insuportável viver 24 horas seguidas com a sua indiferença e frieza.
- Não é o momento ideal para você se afastar ... com tudo o que está acontecendo. - justifiquei, optando por esconder meu motivo verdadeiro.
- O safári se mantém.
- Você não pode largar assim a Paradisum, com David ...
- David está 100% focado na empresa. - me interrompeu - Não há motivo para cancelarmos nossa viagem.
Falou determinado, como se fosse uma ordem e depois virou-me as costas, dando o assunto por encerrado. A minha inércia e apatia desapareceram. Minha paciência também.
Fui atrás dele.
- Eu não quero viajar. - declarei alto.
Parou de novo, no início da escadaria, e voltou-se lentamente para mim.
- É a sua viagem dos sonhos. - estranhou.
- Não quero que vire a viagem dos pesadelos.
Meu desabafo foi amargo, em tom acusador. Ele ficou silencioso, parado como uma estátua de pedra, sem expressar qualquer emoção e eu desisti de nossa conversa. Apressei-me a subir as escadas. Ir para a cama dormir e esquecer a porra da nossa vida.
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Quer pagar pra ver? Volume II
ChickLitPara Inês, descobrir que Simão sempre a amou é um sonho tornado realidade. Para Simão, descobrir quem anda assediando Inês com as mensagens anônimas torna-se a grande prioridade. A verdade é desvendada e eles finalmente podem viver em paz. Mas nem t...