''Já estou indo, querido.''

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Na manhã seguinte acordei para ver Mark fumando na janela, o olhar perdido no horizonte, com a cabeça cheia de pensamentos, suspirei e me movimentei na cama, olhei em volta e fechei os olhos novamente.

- Bom dia. – Ouvi sua voz, olhei para Mark e lhe dei um pequeno sorriso.

- Que horas são? – sentei na cama deixando meus peitos a mostra, Mark relutou para não me encarar.

- São 8. – Ele disse finalizando o cigarro e colocando a camisa que estava no chão.

Pude perceber o quanto aquela noite perturbou ele de alguma maneira, sabia que ele teria que encarar a maior forma de karma da vida dele quando chegasse em casa, graças a Deus era domingo. Não trocamos muitas palavras durante todo o tempo de arrumação, Mark me olhava com carinho e eu retribuía o gesto, recebi um beijo delicado nos lábios após ser entregue a casa de Mitchell, eu estava ainda apaixonada por Mark, mas não tinha a menor ideia de onde isso ia nos levar.

Semanas se passaram e eu não havia ouvido de Mark por lugar algum, nem telefone, ou e-mail, e ele não retornava minhas ligações, meu coração palpitava quando eu pensava que eu tinha destruído a vida de alguém.

-

Ao entrar no elevador do prédio, após minha consulta com a dentista no sétimo andar, alonguei meu pescoço depois de passar 30 minutos com o queixo empinado naquela cadeira dura. No quinto andar o elevador, olhei para minhas mãos e logo para o casal que bateu de frente comigo e fez meu estomago embrulhar na hora. Mark e.. Não lembro mais o nome dela. Me encostei no canto do elevador e recebi um olhar mortal da noiva dele, como se ela soubesse de tudo, segurei minhas mãos em frente ao meu corpo e olhei para baixo. Mark vestia um terno cinza e gravata, o olhar dele parecia surpreso e cansado, ficamos todos lado a lado com Mark no meio, os andares pareciam descer em câmera lenta. Olhei de canto de olho para Mark que segurava um envelope que eu conhecia, ele olhou de canto de olho para mim e meu coração acelerou, era um envelope de obstetria, ela estava grávida, os braços dela se mantiam em frente ao corpo como eu, mas em suas mãos haviam papéis, fotos, era um ultrassom, só podia, não tem como não diferenciar. Lágrimas vieram rapidamente aos meus olhos. Era demais para Mark, eu queria cair ali mesmo. Fechei meus olhos com força ainda mantendo meu rosto virado pra frente, senti minhas mãos suarem, eu sabia que aquele era o fim, por mais que houvesse acontecido tudo que aconteceu, eu conhecia Mark suficiente para saber que ele jamais iria abrir mão de algo assim ou não fazer parte desse grande sonho que ele tinha, seja comigo ou com outra pessoa. Olhei para cima em direção ao seu rosto, que me olhou novamente de canto com um olhar triste e a boca semi aberta, o canto dos lábios dele dessa fez não faziam uma linha reta, estavam caídos, cansados, seus olhos eram de tristeza.

Ao chegar ao térreo, ambos saíram, porém eu não consegui me mover, eu não iria sair dali tão cedo para entrar na realidade, ambos caminharam para fora e Mark olhou para trás, após estarem a 10 passos de distancia, ele hesitou na hora de caminhar mas manteve o passo curto, olhei em seus olhos e senti minhas lágrimas descendo no meu rosto. Eu sabia que era a última vez que eu ia ver ele, e havia sido a última vez que eu iria sentir os lábios dele, os seus olhos abraçaram minha alma, me confortando, ele também sabia que não ia mais poder sair do lugar onde estava, aquele tinha teria sido nosso ponto final, o final de toda a paixão, lembranças e saudade. A partir de agora éramos nós por nós mesmos, com o passado sendo mantido com carinho e amor dentro do cofre, por certo lado eu admirei ele naquele momento, mesmo sentindo todas as emoções que eu temia sentir, eu estava aliava por ter resolvido tudo e orgulhosa pelo homem que ele havia se tornado e tinha certeza que ele poderia quebrar milhões de corações na vida dele mas nunca de um filho ou filha, seu lado conservador sempre falou mais alto e não ia ser diferente daquela vez, de certa forma eu senti no meu coração isso, eu ouvi seus pensamentos, eu ouvi as palavras dele mesmo que elas não tivessem sido ditas em voz alta ''Eu sinto muito, dentro de mim sempre haverá um pedaço de ti..'', seus olhos desviaram do meu antes que a porta fechasse por completo. Soltei um soluço alto quando fiquei completamente sozinha, bati meu punho na parede e chorei tudo que pude até a porta abrir novamente para novas pessoas entrarem.

Não foi nada fácil, por meses e até anos, se eu me permitir ser honesta, todos os anos da minha vida foram repletos de experiencias e aventuras que eu mesma havia conquistado, porém nunca, em nenhum segundo eu havia tirado Mark da minha mente, carregando no final apenas um carinho imenso e uma sensação de gratidão por ele ter feito parte de tanta coisa boa, de ter me mostrado amor, compaixão e ter feito eu me sentir a pessoa mais especial do mundo. No final eu havia encontrado o meu final feliz, após a morte do meu pai, pude compreender exatamente o sentimento que ele carregava no coração, e sabia que ele não era infeliz no casamento dele ou que carregasse uma dor continua no coração, mas que na verdade, era um sentimento de carinho, por alguém especial que havia passado por nossas vidas.

- Vovó, vamos mais tarde tomar sorvete? – meus dois netos sorriram animadas, dei uma risada e concordei.

- Senhor Darcy, conversaremos mais tarde em breve. – Ouvi pelas minhas costas enquanto pagava pelos sorvetes.

- Eu quero escolhei a cobertura. – Meu neto Henry pulou de alegria.

- Claro, vai lá! – sorri com ternura e olhei para trás, me deparei com um jovem alto conversando com um senhor.

Eu poderia ter esquecido muita coisa, mas não dos traços de Mark, e eu sabia que aquele jovem tinha todos eles, era como olhar para o passado em outra geração, calmamente me aproximei.

- Com licença.. Darcy? Não é um nome muito comum. – sorri.

- Boa tarde, senhora. Agradeço, me chamo Mark, sou advogado, provavelmente já deve ter ouvido do meu pai ou nosso escritório em Londres. – Ele sorriu exatamente como Mark, sorri com carinho.

- E seu pai, acredito que seja Mark então? – eu sabia.

- Sim, senhora. – ele sorriu orgulhoso, e devia.

- Eu conhecia seu pai, estudamos junto direito, agora aposentada é claro, porém aprendi muito com ele. – sorri enquanto memorias passavam pela minha cabeça.

- Ah, que ótimo, raramente encontramos conhecidos do meu pai assim de tanto tempo, ele era um pouco anti social – ele riu. Era..

- Vocês ainda trabalham juntos? – perguntei

- Na verdade, eu sou diretor da empresa agora após o falecimento dele. – seus olhos expressavam tristeza, respirei fundo sentindo um aperto no peito.

- Lamento muito meu jovem, tenho certeza que ele tem muito orgulho de você. – toquei seu braço com carinho e ele agradeceu.

- Ah, venha, conheça minha irmã! Viemos tomar um sorvete depois de uma audiência agitada – ele riu e andou até a mesa dele, onde havia um jovem bonita de cabelos castanhos, Mark havia tido outra filha, meu coração se encheu de emoções.

- Olá, muito prazer! – sorri estendendo a mão para a jovem que havia se levantado – Ela é uma conhecida do papai, da época de faculdade. – ele falou animado.

- Ah, que incrível, é ótimo conhecer alguém do circulo do papai. Muito prazer, me chamo Emma! – ela sorriu e apertou minha mão. Sorri e volta e fechei os olhos por alguns segundos.

Emma... O nome dela era Emma.. Demos o nome um do outro para nossos filhos, saber que o carinho dele por mim iria seguir gerações era a maior prova de amor que eu poderia receber nessa vida.

Mais tarde, ao chegar em casa e colocar os netos para dormir, tomei uma taça de vinho sozinha no quintal, sentada a beira da piscina, fechei meus olhos para todas as oportunidades que haviam passado pela minha vida, sorri com ternura ao pensar em todo o passado que a anos não aparecia mais na minha mente, o vinho eu não precisava nem citar o nome... Senti calafrios pelas minhas costas e abracei meus braços, eu sabia que era Mark...


''Já estou indo, querido..''

FIM.

Direito de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora