Capítulo 1

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- Skyfall is where we start -

"Quem luta com monstros deve acautelar-se
para não tornar-se um também."
- Friedrich Nietzsche

As histórias e superstições que atravessavam oceanos e transmutavam-se entre mais línguas do que era possível contar não faziam jus ao verdadeiro poder que a Casa Black possuíra durante tantos anos. Um poder capaz de salvar o mundo tanto quanto de destruí-lo.

A consciência disso era um fardo pesado, tão pesado que era difícil não ficar preso entre suas correntes. E os Black poderiam ser muitas coisas, mas eram ignorantes o suficiente para não perceberem os sinais.

Eles consideravam-se mais próximos dos deuses do que do humanos, orgulhosos sobre o tamanho de seu domínio. Sobre tamanha influência persuasiva. Mas até mesmo os deuses podem ser amaldiçoados. Até mesmo os deuses podem cair.

E depois de sua queda, a única coisa que sobrou para trás fora rastros de destruição. Um legado manchado de sangue. Uma linhagem aristocrática originada das trevas. Um ciclo amargo no qual Aurora Black estava inserida.

"O sangue que carregamos dita nosso destino, é inútil tentar fugir dele." Aurora havia lido essa frase em um livro da biblioteca de Hogwarts há algum tempo atrás, na época, as palavras não causaram nenhuma comoção, agora, ela não conseguia para de pensar nelas.

Deitada na banheira vitoriana, com apenas metade do corpo dentro da água, Aurora observava a pintura do teto descascar. Seus olhos estavam pesados, ela não havia dormido na noite passada, nem nas anteriores.

O motivo estava no fato de que bastava fechar os olhos para a fatídica cena da Batalha no Ministério começar a se repetir por trás de suas pálpebras, como uma fita cassete antiga e quebrada.

Pesadelos onde Aurora se via andando pelos corredores escuros do Ministério e não encontrava uma saída, então imagens de um grande arco de pedra antigo, fechado por uma cortina de véu esvoaçante. E na sequência, os Comensais da Morte; o pânico e o desespero daqueles momentos.

Mesmo nos sonhos, ela não conseguia impedir. Não conseguia evitar. O feixe de luz verde sempre atingia o seu pai e ele caia morto diante de seus olhos.

Aurora deu mais uma tragada no cigarro que descansava entre seus dedos, então afundou na banheira até que apenas a cabeça estivesse de fora. A água já havia esfriado, afinal, estivera ali dentro durante as últimas duas ou três horas.

Remus havia saído durante as primeiras horas da manhã, usava terno e sapatos sociais, o que fez Aurora supor que ele iria ao Gringotes lidar com a papelada referente à herança que seria dividida entre ela e Arcturus. Este que, por sinal, provavelmente não sairia do próprio quarto antes do horário marcado para o funeral.

A perda de Sirius afetou Arcturus mais do que Aurora poderia imaginar. Nos últimos dias, o garoto quase não saiu do quarto. Às vezes, quando ia levar comida para ele, Aurora o escutava chorando, outras vezes o escutava vagando pela casa durante a madrugada, sem conseguir pregar os olhos.

Os dois eram diferentes em muitas coisas, mas em relação aos próprios sentimentos eram exatamente iguais. Sempre sofriam em silêncio.

Embora, pelo menos ele conseguisse chorar e colocar algo para fora, pensava Aurora. Ela, por outro lado, não conseguia esboçar nenhuma reação desde o incidente. Naquele dia, não foi apenas a morte de Sirius que arrancou um pedaço de si. Algo pior havia acontecido, algo que a colocara num estado de choque infinito.

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