Capítulo 15

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(...)

Foi absolutamente odioso para Anahi. Ela encarou o chão, contrariada, derrotada. Queria poder nunca mais tocar no assunto, mas sabia que dali para frente dificilmente se falaria sobre outra coisa, então pelo menos naquele instante, e até o fim da noite, decidiu não conversar. Virou as costas, caminhando de volta para tudo que a aguardava. Mas Alfonso aparentemente não estava de acordo com aquela decisão.

- E você nunca me avisou? Ia escondê-la de mim? - ele perguntou em tom acusativo. Anahi girou de volta com o ódio dilatando suas pupilas outra vez e já tinha perdido toda a doçura que antes dirigiu a filha.

- Eu tentei - sibilou, furiosa - Enviei cartas. Era a isso que se referiam.

Alfonso balançou a cabeça, fitando o chão, tentando capturar alguma memória que o fizesse entender, mas nada vinha.

- Devem ter se perdido no meio de tanta coisa - ele balbuciou - Você ouviu Claire, não restou pendência - então apertou os olhos como se lamentasse, atormentado - Se eu tivesse lido antes...

- Mas, pelo que entendi, escolheu não ler, e agora nem sabe onde elas estão - Anahi acusou, batendo um ombro. Ele resfolegou, apertando as têmporas.

- Não foi assim que aconteceu, Alfonso, deve ter havido algum engano - Claire intercedeu, ansiosa, a voz angustiada de preocupação.

O olhar de Anahi se direcionou a morena, dessa vez demoradamente, percorrendo-a dos pés a cabeça. E terminou no centro de seu rosto, como se estudasse algo. Claire começou a ofegar, sentindo-se intimidada.

- Você com certeza deve ter cometido algum engano - Anahi disse, por fim.

- Isso não importa agora - Alfonso dispensou, largando os braços - Traga-a de volta. Eu quero vê-la. Quero falar com ela.

- E o que você vai dizer a ela, Alfonso? - a loira confrontou, exigente.

- Eu não sei! - ele gritou, alterado - Vou dizer que ela tem um pai!

- Ela nem entende o que é isso! - Anahi devolveu rispidamente - Não faz diferença. Você é insignificante pra ela. Ela tem a mim, tem ao avô, tem a Ian...

- Ian?! - ele gritou outra vez como se a loira tivesse lhe dirigido um insulto - Se você deixou que ela entendesse que Ian era seu pai, então você vai me ajudar a fazê-la entender que na verdade eu sou.

- Não fiz isso. Nunca fiz isso - ela rosnou - Eu também não sei o que vou dizer e justamente por isso preciso raciocinar. Não vai ser agora, não vai ser hoje. Mas é claro que o seu ego vai levá-lo a tomá-la como uma disputa. Eu sabia e era isso que eu queria evitar. Mas escute bem, Alfonso: minha filha não é um troféu. Ela é uma criança e não merece ficar confusa pela nossa confusão.

Ela ia sair, ia dar o assunto por encerrado, mas Alfonso a impediu novamente.

- Eu não estou disputando, Anahi - disse, detendo-a. Ela fitou a mão que apertava seu braço, exasperada, sentindo-se ofendida pelo toque sem permissão, principalmente porque mesmo diante daquela situação, ainda era quente, firme... Ainda tinha a força exata para deixá-la com as pernas fracas. Ela se afastou, ultrajada.

- Mas...? - perguntou, sabendo que ele tinha algo a completar.

- Mas não é uma opção ir embora sem conhecê-la.

- Não é uma opção ir embora - Arthur corrigiu e Anahi, que já nem se dava contas das pessoas ao seu redor, virou para ele apenas para ouvi-lo falar: - Você vai ficar na mansão.

Ela temeu finalmente desmoronar naquele instante, provando a amarga perspectiva de viver novamente tudo que havia sido enterrado no passado. Era o inferno anunciado. Queria gritar, agarrar os próprios cabelos, se bater, quebrar alguma coisa... Mas se conteve, tremendo inteira. Não ia dar o gosto a ninguém.

Depois do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora