Aula de Defesa contra as Artes de Windsor.

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        Marcus acordou com o rangido da porta. Estava escuro no dormitório masculino do primeiro ano, a luz da lua atravessava fracamente os vitrais da janela. Naquela noite, era o desenho de um troll feio e remelento que ocup­ava o vitral, dormindo num ronco baixo e inconveniente. Não que fosse apenas o ronco de um troll enfeitiçado no vidro o que tornava o sono de Marcus tão leve. O dia em Hogsmeade o rendera emoções fortes demais para que tivesse uma noite tranquila.

        Erguendo-se nos cotovelos, Marcus logo notou a cama de Alvo vazia. Uma onda de aflição prontamente o abateu. O amigo havia se recusado a jantar, sequer aceitara o sorvete que Marcus o trouxe em segredo. O que era claramente um absurdo. Não importava o quanto Marcus empurrasse o pequeno pote para a boca do menino, ou rosnasse guturalmente para que ele tomasse a droga do sorvete; Alvo simplesmente não cedia. Nem quando Marcus ameaçou a sufocá-lo com o travesseiro, o amigo aceitou se alimentar. Muito menos quando Marcus, tomado pela impaciência e preocupação, de fato o sufocou. Alvo era um cara de tão difícil trato... Marcus não sabia mais o que fazer para ajudá-lo.

        Prontamente se levantando e desviando das camas com suas cortinas fechadas, Marcus se lançou para fora de seu dormitório. Aquela maldita porta de madeira rangeu no irritante nhééé que lhe era peculiar, não importava o quão furtivo Marcus tentasse ser. Bufando, o menino avançava pelo corredor no qual as portas de cada dormitório masculino da Grifinória se dispunham.

        Antes que descesse as escadas que o levariam à Sala Comunal, uma figura pulou de onde só Merlin sabe. Num reflexo selvagem, o menino tirou a varinha das próprias cuecas e a apontou para seu agressor.

        Com o coração ribombando, custou-lhe um longo segundo até que Marcus processasse o que havia acontecido. Assim que reconheceu a dona daqueles olhos castanhos assustados e fartos cabelos crespos, ele sibilou baixinho:

        — Lia! — Marcus abaixou num gesto irritado a varinha que jazia na jugular da amiga. — Eu já te disse, sua cara de centauro com câimbra! Sustos nem são tão engraçados assim! Eu podia ter te trucidado!

        Lia também abaixou sua varinha, a qual só agora Marcus notava que estava apontada para sua barriga. A garota engoliu em seco, piscou os olhos abatidos e, como se num passe de mágica, estampou um sorriso confiante que Marcus não fazia ideia de como fora parar ali. Lia levantou uma das sobrancelhas, sussurrando:

          — Até parece. Eu ia super te trucidar primeiro. — Ignorando o cenho franzido de um Marcus descrente, a menina de pijamas continuou. Sua postura vacilou o bastante para que o garoto pudesse perceber o tremor de sua voz. — Dessa vez não foi para te dar um susto. Eu ouvi um barulho. Achei...

         Marcus sentiu seu cenho se suavizar. Atrás de Lia, um olho alarmado os observava numa quina próxima à escada. Mesmo na luz fraca vinda da Sala Comunal lá embaixo, Marcus pôde reconhecer as sardas e olheiras fundas de Rose. Estufando o peito para que parecesse mais alto do que realmente era, Marcus estabeleceu em ares sérios, sussurrados e diretos:

        — Deve ter sido o Alvo. Ele saiu do quarto e eu vim atrás dele. Não tem nenhum bruxo maligno aqui. Ninguém vai precisar trucidar ninguém hoje.

        — Isso é decepcionante — Lia suspirou como se fizesse graça, mas Marcus notou seus ombros bem menos tensos. Ela partiu pelo corredor, guardando a varinha no longo cano de sua meia felpuda e multicolorida. — Então vamos lá ver o Alvinho.

        Naquele instante, uma Rose estranhamente calada saiu de sua tocaia, os cabelos revoltos e emaranhados. As duas meninas se dirigiam às escadas; Marcus mais do que depressa as seguiu tal qual um cão de guarda, até que os degraus se tornaram subitamente abarrotados. Rose e Lia pararam de supetão, impedidas, e Marcus precisou se esticar para ver melhor.

O Invasor de Hogwarts - ano 1Onde histórias criam vida. Descubra agora