Min Yoongi não lembrava da última vez que se sentira tão frustrado.
Quando começou a escrever pequenas histórias bobas que tinha vergonha até de mostrar pras pessoas mais próximas, Yoongi jamais imaginou que um dia seria capaz de fazer da escrita a sua profissão; parecia uma ideia irrealista demais para o seu eu de dez anos atrás sequer considerar como possibilidade.
Mas Yoongi se orgulhava das suas conquistas. Se orgulhava até hoje da sua coragem para sair da sombra das expetativas que a família havia criado para si, indo contra uma ideia que lhe tinha seguido como um fantasma ao longo de toda a sua vida e batendo o pé, decidindo que a única pessoa que tinha o direito de escolher o melhor caminho a seguir, era ele mesmo.
Quando comunicou a sua decisão aos pais, a discussão fora grande, e o seu pai não lhe falou por longas semanas depois disso. Mesmo agora, sete anos e dois bestsellers publicados depois, ele sabia que o seu pai ainda guardava um certo rancor por ele ter escolhido entrar numa faculdade de letras e seguir um caminho mais artístico — um caminho sem futuro, como ele lhe disse tantas vezes — em vez de se tornar um engenheiro, como ele sempre idealizou.
Já fazia muito tempo, era verdade, mas Yoongi ainda se via revivendo aquela discussão toda a vez que algo dava errado, se perguntando se realmente tinha tomado a decisão certa naquela época. Ultimamente, a sombra dessa dúvida o seguia cada vez mais de perto, como se estivesse apenas esperando uma distração, um deslize, para finalmente dar o ataque final; e esses deslizes costumavam vir sobre a forma de bloqueios criativos, bloqueios esses que estavam ficando cada vez mais longos, mais frequentes e mais duros de combater.
O bloqueio dessa vez estava sendo especialmente duro consigo. Yoongi se sentia impotente perante tudo o que vinha junto com os seus bloqueios, quase como um personagem de nível 1 em frente a um boss final, lutando contra ele com todas as suas forças e nem sequer conseguindo lhe arranhar a armadura. Nada do que ele tentava parecia funcionar, e ele se via sendo constantemente chutado de volta para o nada com que começou, cada vez mais frustrado e com cada vez mais dores que se espalhavam como veneno por todo o seu corpo.
Yoongi sabia que talvez aquilo fosse a sua veia dramática tomando conta, mas a verdade é que ele não conseguia evitar de se sentir um lixo quando ficava tardes inteiras encarando um documento aberto no computador, escrevendo e apagando parágrafos atrás de parágrafos sem conseguir escrever uma única frase com que se sentisse satisfeito. Era alguém ambicioso, sim, e se sentia frustrado demais, puto consigo mesmo, quando a sua produtividade não correspondia sequer à metade daquilo que ele sabia ser capaz de fazer.
Depois do seu último sucesso de vendas, Yoongi fora finalmente capaz de assinar um contrato com uma boa editora, o que lhe permitiu ter uma estabilidade financeira muito melhor do que a que tinha antes, quando precisava se dividir em vários para conseguir escrever seus livros e trabalhar turnos duplos onde desse para conseguir pagar as contas.
No entanto, com o contrato com a editora, vieram também os prazos. E as exigências. E os telefonemas que não paravam de chegar quando qualquer um desses dois requisitos não era seguido do jeito que eles exigiam que fosse.
O acumular de fatores que o estavam bloqueando era tal, que ele não sabia sequer como começar a tentar resolver. Yoongi se sentia de mãos atadas, puto demais quando todos os capítulos que conseguia escrever e enviar para uma revisão, lhe eram enviados de volta com um monte de anotações e "conselhos" para os tornar melhores; ou, melhor dizendo, para mudar o rumo que Yoongi queria dar à sua história, para obrigar o livro a incluir aspetos que ajudariam a vender a um público mais alargado do que o público a que Yoongi costumava se dirigir, segundo a editora.
— Você já enviou três capítulos e os personagens principais nem sequer conversaram sozinhos ainda, Yoongi. Estamos falando de 54 páginas, e nada de evolução. — A mulher falou do outro lado da linha. Yoongi apertou o celular entre os dedos, levando os dedos às têmporas e massageando ali numa tentativa fútil de espantar a dor de cabeça que ameaçava começar a qualquer momento, bebendo um longo gole daquela que devia ser a sua quarta, talvez quinta, caneca de café do dia enquanto abraçava a sua almofada, afundando ali o rosto. Aquela chamada durava à mais de vinte minutos, e a sensação que ficava era que estava preso num ciclo vicioso, falando para uma parede.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor de Tangerina | namgi
RomanceMin Yoongi era um escritor que estava há várias semanas preso num bloqueio criativo que parecia não querer sumir de jeito nenhum. Mal sabia ele que a sua tão esperada faísca de inspiração ia chegar naquele final de tarde de outono, de uma maneira qu...