DOZE
Acordo no sábado com o coração martelando e salto de pé, a mente disparada com tudo que preciso fazer...
E então ela pára, como um carro cantando pneus na freada. Por um momento não consigo me mexer.
Depois, hesitante, afundo de novo na cama, dominada pela sensação mais estranha, mais extraordinária que já experimentei.
Não tenho nada a fazer.
Nenhum contrato para revisar, nenhum e-mail para responder, nenhuma reunião de emergência no escritório. Nada.
Franzo a testa tentando lembrar a última vez em que não tive nada para fazer. Mas não sei se consigo.
Parece que nunca fiquei sem nada para fazer desde que tinha uns 7 anos. Saio da cama, vou à janela e olho o céu azul translúcido do início da manhã, tentando entender a situação. É meu dia de folga. Ninguém tem controle sobre mim. Ninguém pode me chamar e exigir minha presença. Este tempo é meu. Meu próprio tempo.
Parada junto à janela, contemplando este fato, começo a sentir uma coisa esquisita por dentro. Leve e meio tonta, como um balão de hélio, estou livre. Um sorriso de empolgação se espalha no meu rosto quando encontro os olhos do meu reflexo no vidro. Pela primeira vez na vida posso fazer o que quiser.
Olho a hora - e são apenas 7h15. O dia inteiro se estende diante de mim como uma folha de papel em branco. O que vou fazer? Por onde começo? Sinto uma bolha nova, de júbilo, crescendo por dentro, até que sinto vontade de rir alto.
Já estou esboçando uma planilha para o dia, na cabeça. Esqueça os segmentos de seis minutos. Esqueça a pressa. Vou começar a medir o tempo em horas. Uma hora para deleitar-me no banho e me vestir. Uma hora para me demorar no café da manhã. Uma hora lendo o jornal, de cabo a rabo. Terei a manhã mais preguiçosa, mais indolente e mais desfrutável que já tive na vida adulta.
Quando entro no banheiro posso sentir os músculos se repuxando de dor em todo o corpo. Músculos que nem mesmo jamais soube que possuía. Realmente deveriam vender o serviço de empregada doméstica como malhação. Encho a banheira com água quente e jogo um pouco de óleo de banho de Ingrid, depois entro na água perfumada e me deito toda feliz.
Delicioso. Vou ficar aqui durante horas, horas e horas.
Fecho os olhos, deixando a água bater nos ombros, e deixo o tempo passar em grandes vastidões. Acho que até caio no sono um pouco. Nunca passei tanto tempo no banho em toda a vida.
Por fim abro os olhos, pego uma toalha e saio de novo. Quando estou começando a me enxugar, pego o relógio, só por curiosidade.
Sete e meia.
O quê?
Foram apenas quinze minutos?
Sinto um relâmpago de perplexidade. Como, afinal, só gastei quinze minutos? Fico parada, pingando, indecisa por um momento, imaginando se devo retornar e fazer tudo de novo, mais lentamente.
Mas não. Seria esquisito demais. Não importa. E daí se tomei banho depressa demais? Só vou garantir que demorarei adequadamente no café da manhã. Vou realmente aproveitar.
Pelo menos tenho roupas para vestir. Ingrid me levou ontem à noite a um shopping center a alguns quilômetros de distância. Para que eu pudesse comprar roupa de baixo, bermudas e vestidos de verão.
Disse que me deixaria fazer isso - depois acabou dando uma de chefe e escolhendo tudo para mim ... e de algum modo acabei sem uma única peça preta.
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Regina Mills, executiva do lar - SwanQuenn
UmorismoRegina Mills é uma advogada workaholic, que não tem tempo para família e amigos. Relacionamentos? Apenas os profissionais, obrigada! É assim até o dia em que dá a maior mancada corporativa da sua vida. Desesperada, sai para uma voltinha. Quando perc...