De alguma forma eu estava torcendo para o grandalhão voltar mais furioso, só assim eu teria a chance de extravasar de verdade, mano a mano com ele, mas as palavras de Heric faíscaram na hora, a hipótese que ele tinha sobre existir um suposto traidor.
Para um primeiro dia, eu estava exausta, a cabeça exausta. Voltei ao prédio com cheiro de insenso para limpar o sangue da boca, fiquei imaginando as possíveis broncas que Salim me daria. Pensar nele e em Têrcy só alimentava meu fervor em poder ter Trezzius de volta, ter minha casa de volta.
--- Droga! Como vou sair daqui?
Desabafo.--- Eu sei como!
O som invade o ambiente sem que eu perceba.
--- Que susto! --- falo. Não esperei ele responder, a preocupação estava toda lá fora. --- Estão mais calmos? --- pergunto.
--- Não se preocupe os animais foram para a baía.
Diz ele passando para mim uma satisfação em ter participado da briga.
--- Por que você os trata assim se lutam pela mesma causa?
Questiono.
--- Sua boca não estaria assim se fossem gentis.
Irônico demais, imagino que isso não fosse da conta dele nem parte do trabalho.
--- Eu não esperava menos, são todos prisioneiros de si mesmo. Você por exemplo...
Ele interrompe a mim.
--- Não estou preso aqui como a Jac que ainda não vê a gravidade das nossas ações, ou Eloisa achando que é possível liderar esses... --- ele engole em seco --- nenhum aqui tem experiência...
--- Se você tem deveria ajudá-los ao invés de fazer nada.
Saiu como uma ordem prestes a rasgar minha garganta, uma fúria sem motivo.
--- Fasta para lá! --- disse ele, vendo meu bloqueio.
Meus pés impulsionaram meu corpo, o coloquei contra a parede de modo repentino. Aquilo não acontecia sempre, Salim me alertara sobre os instintos caso perdesse a cabeça, hoje estava bem longe de ter plenitude.
--- Quê que foi? --- voltei ao momento, as íris pretas do Corvo fixadas acima dos meus ombros. Seria algo que eu não vi como a chegada dele anteriormente!?
--- Não sentiu isso? --- diz ele.
A parte que me cabia em manter sigilo sobre esse detalhe na hora da confusão, acabara de falhar.
--- Sinto. --- falei. Por um simples instante as minhas asas se ergueram espontaneamente. --- Mas dessa vez foi por instinto, tem certeza que o grandalhão foi dormir?
Não pressentir perigo e mesmo assim saltaram para me defender.
--- Só há a gente aqui, Keith.
Ainda que ele tivesse certo, comecei a ouvir um zumbido baixo sem identificar que tipo de engrenagem estava funcionando em meio o museu a nossa volta.
--- Me diz que você desligou as luzes.
Passou uma leve suspeita pela minha cabeça mas resolvi pergunta-lo, ele me encarou tentando assimilar, imaginei.
--- Keith, aqui ainda há energia, não desliguei nada.
A asa direita abriu sua envergadura ficando apontada para um amontoado de caixas de madeira.
--- Você ta fazendo isso? --- pergunta ele.
--- Não, é um presentimento.
--- Ninguém veio chamar a gente. Deve está enganada. --- ele vai até uma fresta entre os caixotes. --- Que barulho é esse? --- diz o Corvo enquanto retira a bagunça, existia uma porta pré-histórica e enferrujada bem na nossa frente agora.
--- Eu ja estava ouvindo, agora está mais alto.
Na tentativa de mover as pernas para verificar a porta junto dele o espaço entre nós foi tomado por um breu, a energia fora desligada com toda certeza dessa vez.
--- Keith? --- ouço a voz do Corvo mais perto que a meio segundo atrás.
--- Tem medo do escuro?
--- Não --- diz ele.
--- Por que ta em cima de mim... hã...
Eu não o via mas imaginei que estivesse rindo. Acabei por não corrigir a frase equivocada, ele seria capaz de entender.
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SÉLLON - Saga Rajadas de Vento - Parte II
Fantasía#2 ficcion - 27.09.2022 #1 ficcion - 11.12.2021 ⚠CONTÉM CENAS COM GATILHOS VIOLENTOS! A meta humana originária das antigas Strixs está na sua timiline!!! Keith quer a liberdade de seu distrito, a posse da sua vida. Nas suas recordações mais antigas...