treze

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TREZE

Ela não tem namorada. Sim. Namorada. 

Emma é lésbica, Ingrid revelou tudo. 

Consegui arrancar essa informação de Ingrid ontem à noite, com o pretexto de perguntar sobre todos os vizinhos. Parece que houve uma garota em Gloucester – mas isso acabou há meses. O caminho está livre.

Só preciso de uma estratégia.

Enquanto tomo banho e me visto na manhã seguinte, estou totalmente fixa nos pensamentos em Emma. Sei que reverti ao comportamento de uma adolescente de 14 anos; que vou estar rabiscando "Regina ama Emma" com um coraçãozinho servindo de pingo do i. Mas não me importo. Afinal de contas, ser uma profissional madura e de alto nível não estava dando muito certo para mim.

Escovo o cabelo olhando para os campos verdes cobertos de névoa e sinto uma leveza inexplicável no coração. Não tenho motivo para estar tão feliz. No papel, tudo continua catastrófico. Minha carreira decolada acabou. Minha família não tem idéia de onde estou. Estou ganhando uma fração do que ganhava antes, num trabalho que implica pegar no chão a roupa de baixo suja dos outros.

No entanto não consigo deixar de cantarolar enquanto arrumo minha cama.

Minha vida mudou e estou mudando com ela, como se a velha Regina convencional e monocromática tivesse se desbotado até virar uma boneca de papel. Joguei-a na água e ela está se dissolvendo até o nada. E em seu lugar há uma nova eu. Uma eu com possibilidades.

Nunca corri atrás de ninguém antes. Mas, afinal, até ontem eu nunca havia assado um frango. Se posso fazer isso, posso convidar uma mulher para sair, não é? A velha Regina teria ficado sentada esperando a abordagem. Bem, a nova Regina, não. Já vi os programas de namoro na TV, conheço as regras. Tudo tem a ver com olhares, linguagem corporal e conversa cheia de flerte.

Vou ao espelho e, pela primeira vez desde que cheguei, examino minha aparência com um olhar honesto e inabalável.

Imediatamente me arrependo. A ignorância era melhor.

Para começar, como alguém pode parecer bonita num uniforme de náilon azul? Pego um cinto, prendo na cintura e puxo o uniforme até que a parte de baixo esteja uns dez centímetros mais curta, como usávamos na escola.

- Oi - digo ao meu reflexo, e casualmente jogo o cabelo para trás. - Oi, Emma. Oi, Emm.

Agora só preciso de um monte de delineador preto mal aplicado e estarei de volta ao meu eu de 14 anos em todos os detalhes.

Pego a bolsa de maquiagem e passo uns dez minutos aplicando e tirando maquiagem, até conseguir algo que pareça natural e sutil, mas definido. Ou então que pareça que gastei dez minutos. Não faço idéia.

Agora vamos à linguagem corporal. Franzo a testa tentando lembrar as regras da TV. Se uma mulher se sentir atraída por uma pessoa, suas pupilas se dilatam.

Além disso, vai inconscientemente se inclinar adiante, rir das piadas dela e expor os pulsos e as palmas das mãos.

Experimentalmente me inclino para o reflexo, estendendo as mãos ao mesmo tempo.

Estou parecendo Jesus.

Tento acrescentar um riso de flerte.

- Ha, ha, ha! - Exclamo em voz alta. - Você me mata de rir!

Agora pareço um Jesus alegre.

Realmente não sei se isso vai melhorar minhas chances.

Vou para baixo, puxo as cortinas, deixando entrar o sol brilhante da manhã, e pego a correspondência no capach. Estou folheando a Revista de Propriedades dos Cotswolds para ver quando custa uma casa por aqui, quando a campainha toca. Um cara de uniforme, segurando uma prancheta, está parado do lado de fora, com um furgão na entrada de veículos.

Regina Mills, executiva do lar - SwanQuennOnde histórias criam vida. Descubra agora