CAPÍTULO 19

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— Olivia, acorda! — as mãos balançavam meus ombros me fazendo sair daquele mundo de pesados que minha mente havia criado.

Abri os olhos vendo Dani me olhando com pena, abracei seu corpo tremendo. Odiava aquele alucinação...

— De novo sonhando com ele?

— Sou uma idiota por sofrer por ele ainda — choraminguei — Mas, parece tão real... O sangue, o acidente e as palavras dizendo que não se lembrava. Dói, muito.

— Tudo bem e você não é uma idiota— sorriu — Já está na hora de irmos.

Me levantei da cama com os flashses do sonho ainda rondando minha mente. Fazia três semanas que eu havia ido embora, tinha abandonado a cidade que eu achava que era o meu lugar e vindo para Califórnia viver minha vida como ele havia pedido.

Três semanas que meu subconsciente sempre me assombra com aquelas três palavras "quem é você?", Criando cenas com sangue e colocando a culpa em mim. Eu devia ter o impedindo de ter ido de moto...

Já tinha conseguido um dormitório na faculdade, minha amiga vinha as escondidas para minhas colegas de quarto que eu mal sabia o nome não me acharem um louca pelo ex que a deixou no meio de uma calçada dando a certeza que nunca mais nos veríamos. E ele fez de tudo para isso acontecer.

Não seria mais o padrinho do casamento que aconteceria daqui alguns dias mas, não sabia se viria pelo menos como convidado. Me bloqueou de suas redes sociais as notícias que tinha era as que eu conseguia com meus ex sogros que ficaram uma semana sem falar com o próprio filho, voltaram a falar depois de seu insistir em dizer que a culpa não era dele. Simplesmente, não nos amávamos.

O que, tinha um pouco de verdade segundo ele.

Meus dias viraram monótonos, eu ainda estava acostumando com a nova rotina e ainda tinha que me acostumar com os comentários nos corredores dizendo ”olha, não é a namorada do cara que perdeu a memória?" "Ela não estava com o namorado?".

Eu ainda estava sentada do vaso com roupa e tudo buscando criar coragem para mais um dia quando Daniela abriu a porta colocando apenas o rosto para dentro do banheiro.

— Vamos para o bar hoje — abri minha boca para negar — Não foi um convite.

Suspirei alto, eu sabia que ela queria a amiga sorridente de volta e não essa depressiva que chora por causa de homem.

Tomei meu banho colocando uma roupa confortável para os estudos e depois parti para a aula de economia que me esperava. Me sentei no único lugar vago, ao lado de um cara que parecia mais triste e sombrio que eu. Na verdade, nessas semanas que estive aqui nunca o vi conversar mas ele sempre esteve por perto, sempre que eu olhava para os lados ele estava em algum lugar próximo. Diria até que me observa. Balancei a cabeça com tal pensamento estúpido.

A aula seguiu como deveria ser, uma chatice.

Mal deu tempo de entrar no dormitório novamente no final da tarde quando fui sobrecarregada com informações sobre vestidos, saltos e maquiagem.

— Você não pode ir de calça — Dani reclamou, como uma criança mimada.

— Mas eu vou, sim — bati o pé contra o piso de madeira.

— Deixa ela, amor — Aline sorriu — Pelo mesmos ela está indo. Já é um bom começo, não acha?

Os ombros de minha amiga caíram antes de assentir. Nós três, fomos para o bar que ficava a alguns quarteirões de distância poderíamos ir muito bem a pé.

Fazia tempo que eu não via tanta gente feliz em um só lugar, as mulheres e homens dançavam ao ritmo da banda ao vivo que ali estava, outras pessoas já estavam sentadas enchendo a cara no álcool.

Nos sentamos nos banquinhos do balcão, pedimos bebida por mais que eu não gostasse de álcool eu bebi um pouco. Apenas um pouco, não queria ficar de ressaca em aula no dia seguinte. 

Estava até sorrindo as vezes, junto a companhia das duas quando o cara da aula mais cedo se sentou ao meu lado pedindo whisky. O cheiro de álcool que exalava dele me fazia revirar o estômago.

— Ei! — a voz dele era grossa mas estava totalmente embolada — Você faz economia comigo, não faz?

Assenti, desconfortável buscando com o olhar minhas amigas que estavam no meio do povo se divertindo.

— Prazer, me chamo Simon — ele estendeu a mão me oferecendo um sorriso torto e nada atraente.

— Olivia — eu disse, mas não me dei o trabalho de soltar o copo da bebida que estava em minhas mãos para pegar a dele.

—Você é muito bonita, as vezes, fico te olhando de longe — olhei para ele tentando disfarçar minha expressão que não estava gostando de estar perto dele.

— Já percebi que você tem esse hábito — falei entre dentes.

Seu sorriso se alargou e minhas estranhas tremeram de medo.

— Podíamos ir para um lugar mais reservado, não acha?

— Estou bem aqui — olhei para os lados a procura das minhas amigas. As achei, no canto fazendo coisas que casais fazem.

Mandei mensagem para elas avisando que iria embora, estava cansada mas não queria as preocupa-las.

Me levantei de súbito quando senti a mão do homem ao meu lado passando por minha perna em cima do jeans. O olhei indignadas, ploriferando xingamentos que eu nem sabia que tinha conhecimentos de tais palavras.

— Foi mal aí, gatinha. Pensei que queria por livre e espontânea vontade — ele levantou as mãos como se estivesse em rendição.

— Eu não falei nada com você, seu louco — peguei minha bolsa que estava sobre o balcão — Idiota.

Dei as costas e sai daquele bar, havia esfriado muito o que fez com que eu abraçasse meus corpo. A raiva aos poucos foi saindo de mim enquanto eu respirava fundo fechando meus olhos por alguns segundos.

Era quase inacreditável que existiam homens daquele jeito.

Estava quase chegando, na verdade, ainda faltava uns três ou quatro quarteirões para chegar na rua de trás da faculdade onde ficava a entrada dos dormitórios quando senti aquela sensação que a maioria das mulheres sentem com medo: havia alguém me seguindo.

Olhei para trás vendo a silhueta de um homem tropeçando em seus pés mas com um ritmo rápido, não sei como era possível um bêbado andar tão rápido.

— Docinho — gritou — Não acha que vai escapar, ou acha?

O desespero tomou conta, não havia ninguém na rua. Aumentei meus passos sentindo cada vez mais frio.

Peguei meu celular e apertei no primeiro nome da lista sem ao menos ler. Na minha cabeça, se o homem atrás de mim pensasse que estava ligando para alguém ou pedindo ajuda iria embora.

— Você não quis do jeito fácil, vai ser do meu jeito então — fechei meus olhos quase correndo ouvindo o telefone chamando mas nada de alguém atender.

Por que Califórnia tem que ter os quarteirões tão longos?

— Não fuja, não estou conseguindo correr tão rápido — olhei para trás vendo cada vez mais perto, não era tão fácil manter o ritmo naquele frio da madrugada.

— Por favor... — sussurrei para o telefone.

— Alô? — arregalei meus olhos,  meu coração saltou. Ele não tinha me bloqueado?

— Peter?

Até você se lembrar. {Completa}Onde histórias criam vida. Descubra agora