- verdade -

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— Luísa, eu quero que saiba que nunca, em momento algum, quis ferir você, mas...

— Mas o quê, Otto? Vai dizer que fez isso tudo pela Poliana?

Sentada sobre o banco alto logo em frente ao cavalete, Luísa aguarda que Otto fale sobre o que havia ido conversar. Ela esperava que de fato fosse relacionado com Poliana, mas ao que parecia a conversa ganharia outro rumo na qual ela não sabia se estava preparada para enfrentar.

— Não, nunca faria algo que pudesse afetar ela.

— Então o quê? Por que fez com que eu ficasse nessa situação? Por que tirou minha casa e minha sobrinha de mim?

— Já falamos disso, Luísa. Você sabe que a casa era uma dívida antiga e...

— Otto, chega! Você pode inventar suas histórias malucas para qualquer pessoa, mas eu não acredito em nada do que você diz.

Por um momento ele fica sem reação. Luísa sabia exatamente como deixá-lo sem palavras e ação, ele não tinha como explicar e nem conseguia dizer mais nada além daquilo que fosse o básico para ela. Até tentava, mas algumas vezes parecia ser em vão, pois ela insistia em não ouvir. Qualquer tipo de argumentação vinda dele era logo descartado.

— Nunca quis que você pensasse que tudo isso é uma história.

— História? Como assim história? Você realmente acha que acreditei que tudo o que você fez não foi exatamente calculado para ficar com Poliana?

— Você não precisa elevar o tom da sua voz, estamos somente eu e você aqui.

— Para de me olhar desse jeito, porque me incomoda.

— Você sabe que eu não abriria mão da minha filha, porque você sabe que já perdi uma e não perderia outra. — Explica ele, enquanto ela ainda insistia em não olhar nos olhos dele. — E eu não fiz nada de caso pensado, como você diz.

— Não foi o que pareceu. — Afirma, enquanto mantém contato visual com ele.

— Claro que não, Luísa. Você acha mesmo que eu seria capaz de o quê? Arquitetar um plano maligno para ficar com a Poliana? Ela é minha filha, de uma forma ou de outra a guarda seria minha. Inclusive compartilhei a guarda dela com você e devolvi sua casa, porque eu quis que você não ficasse desamparada. Eu sei do quanto a casa era importante para você e sei que você não conseguiria viver sem a Poliana. Não sei porque ainda insiste em me culpar por tudo que aconteceu, quando você mesma já sabe de tudo e de toda a história que tive com Alice. Você mesma comprovou com o diário. — Ela de fato sabia de tudo que aconteceu, mas ainda assim insistia em discordar dele, porque não queria ceder ao orgulho que carregava consigo. Era demais afirmar que ele havia sido bom com ela durante os últimos meses e ainda pior confirmar que ele nunca havia pedido nada em troca, mas sempre esteve ali para ouvi-la, auxiliá-la e conversar quando ela mais precisou de alguém.

— Por que você fez isso tudo, então?

— Porque eu amo você, Luísa.

Porque eu amo você, Luísa.

Era isso mesmo que ela tinha ouvido?

Era imaginação da cabeça dela ou ele tinha falado aquilo mesmo? Ele estava ali, bem na frente dela, com os braços cruzados, em claro movimento de defesa, enquanto ela olhava nos olhos dele, sem entender a dimensão daquilo que havia sido expressado por ele. O ex-marido da irmã. O pai da sobrinha que tanto ama. O homem que ofereceu ajuda, quando tudo parecia estar desmoronando.

— O que foi que você disse? — Questiona ela novamente, sem ainda acreditar que de fato aquilo existia.

— Desculpa, não quero que me entenda mal.

Porque eu amo vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora