capítulo 3

8.8K 825 67
                                    

The narrator's point of view.

- Bom dia Lauren! - A voz da negra repercutiu pela cozinha, fazendo Lauren liberar um baixo resmungo.

A morena não havia dormido bem e não havia sido porque o colchão a incomodava; ou porque teve uma insônia; ou porque passou a noite trabalhando, mas sim porque a vizinha da casa ao lado passou boa parte da noite gritando. Sua vontade era de ir a porta da casa ao lado, esmurrar a porta da casa e gritar mandando a vizinha calar a boca, pois, ela queria dormir. Lauren percebera que não era um choro qualquer e sim de angústia, então reprimiu a sua vontade e tentou de todas as maneiras possíveis dormir.

Normani não fazia ideia do que havia acontecido durante a noite, ao menos havia passado a noite em casa e Lauren não se importou com isso, sabia que a amiga estava com a mulher dos cabelo loiros que conheceu durante o vôo para Fargo. Mani estava tão animada, que chegava a irritar a morena que teve sua boa noite de sono arrancada de si, durante o café da manhã na companhia de sua amiga, Lauren se limitou a responder apenas o básico, não queria conversar, queria se acalmar e achar disposição para encarar o pacato dia de sábado, que havia amanhecido frio, diferente do dia anterior que fora um dia ensolarado, quentinho e com brisas refrescantes.

— Isso só pode ser brincadeira! – Lauren resmungou ao ouvir a vizinha voltar a gritar.

- Foi isso que te deixou com esse péssimo humor? - Normani perguntou curiosa.

- Ela gritou e chorou a noite toda, não consegui dormir nem por um minuto.

- Agora entendi, o que será que ela tem?

-Não faço ideia, só sei que eu quero paz! — Resmungou se pondo de pé pronta para ir bater na porta da casa ao lado e gritar com as vizinhas o mais alto que suas cordas vocais a permitissem gritar.

-O que vai fazer? - Normani indaga indo atrás da amiga.

- Bater na porta ao lado e mandar a garota calar a boca.

- Lauren a menina pode estar doente e sentindo muita dor, deixe isso quieto, logo ela para de gritar. Por que você não toca um pouco? Isso sempre te acalma e eu gosto de ouví-la tocar.

-Tem razão...

A mais velha caminhou a passos apressados até o seu Steinway & Sons Model D Concert Grand Piano, de cor preta e detalhes dourados, que a morena ganhou de seu falecido avô ao completar vinte anos e sempre fora muito bem cuidado por ela, contanto que ainda aparentava estar novíssimo. Em busca de paz, Lauren tocou a sua melodia favorita 'Für Elise', a bagatela típica do romantismo, composta por Beethoven, uma composição musical breve, de carácter ligeiro e despretensioso, que nunca fora sujeita a um plano formal concreto.

Für Elise, em lá menor, de Ludwing van Beethoven é, entre as obras deste compositor, a predileta de Lauren, por ser uma obra composta para uma mulher misteriosa, uma mulher que Beethoven amou e, que hoje, todos geram especulações de que foi composta para uma senhora a qual pediu ele em casamento, mas pouco se sabe a verdadeira história.

Normani admirava a amiga impressionada, não era preciso ser nenhum gênio para ver que Lauren ama tocar piano, ama as músicas clássicas, e que se conecta as melodias de forma que tornam-se apenas uma. A mulher e a melodia, fundidas em uma só. A dedicação e concentração da morena ao deslizar os dedos por cada tecla, emitindo dela um som que forma a linda melodia do compositor alemão, impressionava Normani e lhe dava mais vontade de se deliciar do momento de paz da sua amiga.

Na casa ao lado, Camila gritava e chorava por não achar a sua pelúcia, Cindy havia sumido pela madrugada, deixando a menor desesperada e apavorada, e também deixando os vizinhos próximos sem uma noite de sono agradável. Sinuhe havia revirado a casa atrás de Cindy, mas não a achava, a mais velha já não sabia o que fazer, estava à beira de ter um colapso nervoso por não encontrar a pelúcia de sua filha e conseguir acalmá-la.

O choro de Camila cessou ao ouvir ressoar o som do piano, a pequena correu a escadaria indo diretamente para o jardim de sua casa, sentou-se recostada na cerca que divide sua casa da casa ao lado e apreciou a melodia, uma de suas favoritas de Beethoven. Permitindo-se fechar os olhos, Camila deixou sua imaginação fluir, se imaginou em um palco com alguns focos de luz somente no piano de cauda na cor preta com detalhes prateados, se imaginou sentando-se no banquinho acolchoado, e de madeira muito bem entalhada, do piano e tocando uma melodia linda de Mozart, sua favorita pertencente ao compositor.

A pequena Cabello sempre gostou de pianos, de músicas clássicas e seu sonho é aprender a tocar o instrumento tão lindo, ela sabia lhe dizer tudo sobre piano, era o seu maior foco, seu ponto de interesse, assim como o desenho. Ela sempre se permitiu observar a professora de música da escola tocar piano, sempre achando encantadora a forma como a professora franzia o cenho ao buscar tanta concentração no que estava fazendo, ela também sempre quis tocar, mas tem vergonha de pedir para aprender, pois, as aulas são em grupos e Camila é tímida suficiente para reprimir seus desejos de aprender.

A música chegou ao fim, Camila estava mais calma e até sorria para o nada, sua pele alva e pouco coberta arrepiada por causa do frio que sentia, a pequena levantou-se do gramado úmido e guiou-se para dentro de casa. Sinuhe observara da janela do quarto a filha no jardim, com os olhos fechados, feições serenas e um pequeno sorriso nos lábios rosados. Observou como Camila meneava a cabeça no ritmo da melodia, como Camila sorria e se permitia aproveitar cada segundo, buscando sua paz através da música.

Embasbacada, foi como sinuhe se sentiu ao ver que em questão de milésimos de segundos a filha havia parado de chorar e se punha a correr para o jardim apenas para ouvir a melodia que vinha da casa da vizinha nova. Ao cessar da melodia, Sinu voltou a procurar pela ovelha de pelúcia e não a encontrou, desistindo de insistir na busca, ela desceu a escadaria e viu sua filha sentada no sofá vendo um desenho na televisão.

Ao término da melodia, Normani percebera que a vizinha já não gritava mais, também percebera que sua amiga estava mais relaxada e tinha um pequeno sorriso nos lábios livres de qualquer batom. A negra se pôs a admirar o sorriso meigo que a amiga tinha no rosto, o brilho dos olhos dela e a coloração avermelhada nas maçãs do rosto de Lauren, que haviam tomado a tonalidade ao notar que Normani a observava fixamente enquanto tocava o instrumento tão refinado e delicado.

AUTISM (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora