Olá, caros estudantes!
Vamos aprofundar um pouco mais essa conversa.
Nessa semana, vamos pensar sobre as origens e as formas de convivência das sociedades humanas com as drogas. Já vimos um pouco desse assunto na semana passada, com o prof. Francisco Coelho (vídeo, site). Mas vamos explorar um pouco mais esse assunto. Desde quando as drogas existem? Será que todas as sociedades humanas conviveram com os dramas do tráfico, da guerra, da prisão, da drogadição? Será que em todas as sociedades humanas que já existiram as drogas significavam as mesmas que significam para nós?
E vocês devem estar se perguntando que diferença isso faz. Afinal de contas, a guerra, as mortes, as mazelas que são relacionadas às drogas estão aí! E cuidar disso é o mais urgente! Resolver isso é o que importa!
Sim, mas como resolver?
Essa semana, o exercício é refletir sobre como, em outros tempos e lugares, outras sociedades conviveram com essas substâncias. Será que em todos os outros lugares essas substâncias receberam o mesmo tratamento que nossa sociedade tem dado a elas e aos envolvidos com elas?
Nos materiais abaixo, há mais uma pequena amostra de como outras sociedades viveram essa experiência.
Bebidas alcoólicas e outras drogas na época moderna.Economia e embriaguez do século XVI ao XVIII
Prof. Dr. Henrique S. Carneiro/USP
A história das bebidas alcoólicas e das drogas remete a um âmbito pouco conhecido dahistória das sociedades humanas: o da vida material, da cultura material, o que o homem come,bebe, veste, onde mora e, também, os remédios com que se cura e se consola. O grandehistoriador francês Fernand Braudel dizia, a propósito das drogas, serem alguns dos maisimportantes produtos do "imenso reino do habitual, do rotineiro, 'o grande ausente dahistória'": "não penso que se deva relegar para o campo do anedótico o aparecimento de tantosprodutos alimentares, do açúcar, do café e do chá, até ao álcool, que constituem, cada um porsi, intermináveis e importantes fluxos de história (...) são, com certeza, questões densas deconsequências: a história das drogas antigas - o álcool, o tabaco, a forma fulgurante como otabaco, em especial, conquistou o mundo, deu mesmo a volta ao mundo - não constituirá umaséria advertência em relação às drogas, muito mais perigosas, dos nossos dias?"(1989:19/20).
Quanto ao maior ou menor perigo, os dados oficiais da OMS demonstram que o maiordano à saúde pública mundial no século XX foi causado pelo tabaco, seguido do álcool. Otabaco sozinho seria o maior vilão da história da humanidade, tendo matado mais do que todasas guerras, numa cifra de cinco milhões de mortos por ano, totalizaria meio bilhão em todo oséculo!
O estudo histórico das drogas, incluindo os álcoois, até duas décadas atrás poucas vezesfora realizado fora de abordagens excessivamente monográficas (histórias específicas do vinho,da cachaça, etc). O papel das drogas, no entanto, particularmente na história moderna, é de umaextrema importância econômica, política e cultural.
O conceito de droga é extremamente polissêmico. Seus significados abrangem tudo oque se ingere e que não constitui alimento, embora alguns alimentos também possam serdesignados como drogas: bebidas alcoólicas, especiarias, tabaco, açúcar, chá, café, chocolate,mate, guaraná, ópio, quina, ipecacuanha assim como inúmeras outras plantas e remédios.
Ao menos três grandes ciclos comerciais se constituíram em torno do tráfico de drogas.O primeiro deles, o das especiarias, no século XVI, foi responsável pela era das descobertasmarítimas e forjou a própria palavra droga, da denominação em holandês para os produtossecos do ultramar. O segundo, baseado na produção e no comércio do açúcar, da aguardente edo tabaco, marcou a formação do sistema colonial desde o século XVII e montou a economiaatlântica, baseada no tráfico de escravos e das drogas por eles produzidas nas plantationsamericanas. O terceiro ciclo, o das bebidas quentes e excitantes, desde o século XVII mas,especialmente, desde o XVIII, desequilibrou a balança comercial inglesa com a Ásia, devido àcrescente compra de chá, o que provocou, no século XIX, as duas guerras britânicas contra aChina, chamadas de guerras do ópio, que visavam substituir os pagamentos em prata pelo chá,por pagamentos em ópio. Do início para o final do século XVIII, a Europa passou de umconsumo anual de 1 para 54 milhões de quilos de café, de 1 para sete milhões de quilos dechocolate e de 500 mil quilos de chá para 20 milhões.