Acatalepsia

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"Não são as sementes más que afogam a boa semente, e sim a negligência do lavrador." - Confúcio

Louise Orleans - França, 1395

O trono está sendo disputado há anos, só de compreender que não poderei me apossar deste por ser uma dama me causa repulsa. Primogênita da nova linhagem da família real francesa, descartada da sucessão pelo estigma religioso. Patético. Tenho absoluta convicção de que seria a melhor a reinar pelos territórios de cá. A coroa real deveria ser minha por direito, mas não, as mentes retrógradas conduzidas por uma doutrina religiosa desfazem-se de meu valor. Há dias acordo e saio de meus aposentos degradada, aborrecida de olhar para todas as arestas desse gigantesco castelo e não achar uma sequer forma de ter minha ascensão, me vejo à deriva, sem saída.

Ando pelos corredores lentamente, olhando os raios de luz e a paisagem do lado de fora, tão singelo seria se eu me sentisse quente quando o clima deste dia. Vez ou outra posso escutar os gritos de meu pai, que por uma neurose desconhecida veio a enlouquecer, e desde então tudo piora com essa guerra fria que vivemos aqui dentro. Lembro-me bem do último pedido de meu pai em sã consciência, suplicando que eu abdicasse das minhas ideologias mortíferas e me casasse com seu escolhido. Será um martírio eterno não concretizar esse pedido, mas, eu não posso consumar isso.

Eu sou uma mulher irrestrita, da vida, que se pudesse beber e dançar em cima das mesas de uma taverna qualquer assim faria, sem me preocupar se os movimentos estão indecentes ou o vestido decotado demais. Eu não quero ter filhos e muito menos reprimir meus instintos sexuais, eu sou dona do meu paradeiro, plena e digna. E primeiro, eu desejo ser queimada em brasa quente a me subordinar à um homem que teria de mim até minha autonomia.

Após o tempo de reflexão, encaminho-me para a mesa onde acontecerá a última ceia, meus passos beijam o chão em despedida, selando o acordo que acabei de fazer entre a minha mente e meu coração, o de partir e nunca mais voltar. Assim que adentro o local observo a mesa farta posta, e em volta dela, rostos familiares. Na cabeceira se encontra meu irmão Adam, detentor de meus piores pesadelos e possível possuidor do que eu deveria ostentar. À sua direita se encontra Stephanie, amiga da qual compartilho tudo que não sustento ocultar para mim mesma, seja glória ou desgraça. E por fim, à sua esquerda se encontra Joseph, príncipe da Inglaterra elegido por meu pai para ser meu cônjuge.

Contrariando o que os bons costumes de moça pregam, me sento ao lado de Stephanie, deixando Joseph com uma cara enraivecida por já estar de pé com a cadeira ao seu lado vaga, esperando por mim.

- Poderia ao menos ter uma conduta exemplar perante ao teu futuro marido? - Diz Adam tentando desfazer a carranca que adorna a face do homem a minha frente.

- Eu pensei que estivesse deixando bem nítido que não irei casar-me com homem algum. - Digo um tanto quanto abalada, buscando por debaixo da mesa pela mão de Stepanie em um pedido mudo de consolo.

- Louise, aceite, não há mais nada que possa fazer, já estipulamos até seu dote, que é imenso por sinal. Chega de lamentações e conforme-se com isso.

Joseph abre um sorriso, idiota, nem mesmo em sonho ele colocará suas mãos imundas e malciosas em mim. Sem falar nada me levanto puxando Stepanie pela mão, e após alguns passos Adam segura meu pulso.

- Onde você vai? - Adam pede um pouco aflito.

- Já que o senhor está tão interessado nesse matrimônio, case-se você com ele. - Puxo meu pulso de seu aperto um pouco enfurecida - Perdi o apetite, passar bem.

Digo saindo do local às pressas, não mostraria sensibilidade na frente de dois homens tão... Crápulas. Mesmo que eu não expresse nada enquanto caminhamos, Stephanie sabe o que se passa em minha consciência.

- Ei doce, seja forte, não chore. - Diz Stephanie segurando meu rosto, em sua face adorna uma expressão tão serena que por alguns segundos estive dopada, até cair na real de que minha vida estava fadada ao fracasso e desgosto, e sem ter o que falar após tantas noites em claro chorando em seu colo, abraço-a forte.

- Phanie, eu vou cometer a loucura mais insana da minha vida hoje e, apesar de todo o medo, nada me assola mais que a possibilidade de perder toda minha liberdade. - Digo apertando a mesma, quase que como em saudade e separação - Não diga nada, apenas me siga.

Digo pegando em sua mão, guiando-nas até meus aposentos, caminho tão conhecido por nós pelas nossas noites de festim ou de lamentação. Logo que entramos tranco a porta, encaminhando-me para o armário, puxando deste duas malas. Assim que trago-as para a cama visualizo a face de Stepanie que se encontra pálida, com os olhos focados e as sobrancelhas franzidas. Sei que sua sagacidade entendeu o aviso.

- Louise! Você está louca? - Ela diz vindo até mim rapidamente, me chacoalhando pelos ombros, totalmente alvoroçada.

- Eu prefiro morrer nadando do que ficar parada na praia, observando a imensidão do mar sem ter peito para lhe desbravar - Digo mantendo-me firme.

- Eu não posso simplesmente permitir que você saia mundo afora arriscado a sua vida, Louise. - Ela fala gritando em desespero.

- E por acaso teu amor permite que eu seja amargurada ao lado de um homem que eu não amo? Por acaso teu amor permite que eu seja enjaulada e obrigada a ser a categoria de mulher que eu não quero? Não me diga que teu amor não me permite de ser espontânea e louvada longe dessa droga de sina, Stephanie! - Digo sentindo as lágrimas salgadas começarem a escorrer. - Eu sou apta de decidir meu futuro, mesmo que eu morra por isso.

Stephanie se cala por alguns segundos assim que o baque das palavras e fatos atingem sua face. Uma lágrima solitária escorre pelo seu rosto, e antes mesmo de começar a suplicar pelo seu silêncio para que eu pudesse partir, ela me cala abraçando-me.

- Então se for para morrer buscando a sua prosperidade, eu vou junto. - Ela diz firme logo me soltando, puxando uma das malas para si.

- Então nós vamos, e mais nada importa agora, apenas nosso êxito incondicional. - Digo ficando ao seu lado, puxando a mala restante para mim, secando as lágrimas e deixando que um sorrio imenso erga-se em meu semblante.

E foi nessa circunstância em que o efeito borboleta e o árbitro de duas mulheres decididas nunca tiveram tanto fundamento quanto agora.

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Então foi isso gente, eu espero muito que tenham gostado e que passem a acompanhar A arte de amar, caso queiram contato direto meu insta de autora é switcherrie. Xoxo ~ ❤️

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⏰ Última atualização: Mar 10, 2021 ⏰

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