capítulo 6

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The narrator's point of view.

-Mamãe!- Camila balbuciou em meio a melodia, quando notou a presença da mãe na porta ao lado da morena que ajudou a socorrê-la, distraindo Lauren e fazendo-a parar de guiar os dedos da mais nova.

- Olá, meu amor. Sinuhe falou sorrindo, Camila se levantou rapidamente e correu para mãe, abraçando-a bem forte.

A pequena prolongou o abraço de sua mãe até que a mais velha reclamasse pelo fato da filha estar a sufocando, elas se sentaram no sofá com Camila sobre o colo da mãe, Normani explicou detalhadamente tudo o que o médico disse a ela e sobre o quadro clínico de Sinu, que teria que ir ao hospital uma vez por semana para tratar de sua saúde mental, antes que seja muito tarde e que haja consequências mais graves. Lauren também contou a Sinu onde encontrou a ovelha de pelúcia, conversou sobre como a menina olhava encantada para o instrumento em sua sala, Sinuhe comentou que colocaria a filha para fazer aulas de piano, Camila sentiu uma grande euforia dentro de si e também medo de ficar no mesmo ambiente que muita gente.
Após longas conversas, Sinuhe e Camila partiram para sua casa, Lauren permitiu-se subir, tomar seu banho e se deitar para descansar, o dia não foi cansativo, mas ainda se sentia muito exausta por causa das duas noites mal dormidas. Na manhã seguinte, Lauren levantou-se cedo, arrumou-se para o seu primeiro dia de trabalho, desceu a escadaria cantarolando uma música qualquer e encaminhou-se para sua cozinha, a mais nova tomou um rápido café da manhã, juntou suas coisas e quando estava próxima a sala ouviu o som de sua campainha ressoar por toda a casa.

-Camila? — A mais velha olhou a pequena surpresa, Camila trajava uma saia franzida da cor preta, uma blusa branca com o emblema de sua escola, meias três quartos e uma sapatilha preta.-O que faz aqui?

Minha mochila... – Balbuciou observando a roupa da mais velha, Lauren escolheu uma saia lápis justa de cor preta, uma blusa social branca e um scarpin também preto, a blusa da mais velha tinha uns três botões abertos, deixando o volume de seus seios medianos exposto para mais nova, que o encarou timidamente.

- Oh, claro! Pode ir lá buscar.

A pequena Cabello correu para dentro da casa em direção a escada, ela desapareceu ao subir a escadaria, Lauren a esperava ainda na porta, ela percebeu o olhar da menor no decote de sua blusa, mas não se incomodou, pela primeira vez ela não se sentiu incomodada por ter alguém olhando o decote de sua blusa. Camila desceu a escadaria com sua mochila pendurada em seus ombros, ela guiou o olhar para o piano e Lauren sorriu, as duas saíram da casa juntas, Camila despediu-se da hispânica com um aceno e foi caminhando em direção a sua escola.

- Espere! - A morena pediu, fazendo a mais nova parar de andar. — Você vai sozinha para escola? — Camila acenou levemente a cabeça em um sim. — Entre, eu te levo até lá e depois vou para o trabalho.

- Não precisa.

-Não vou deixar você ir sozinha. Venha, eu coloco uma música que goste.

A menina sorriu minimamente e foi para o outro lado do carro, ela entrou ao mesmo tempo que Lauren, colocaram o cinto e partiram dali, a mais velha colocou uma música clássica no aparelho de som de seu carro e percebeu que a menor relaxou ao ouvir a música ressoar. Camila guiou a mais velha com sinais até a sua escola, Lauren liberou uma baixa risada ao estacionar o carro em uma das vagas do estacionamento, fazendo a pequena olhá-la com curiosidade.

- Vou dar aulas aqui. – Esclareceu, surpreendendo a pequena ao seu lado.

A mais velha recolheu seus pertences, desceu do carro e viu a menor fazer o mesmo, ela travou o seu carro e atravessou o estacionamento na companhia agradável de Camila, que ao ver sua amiga Ally saiu correndo para os braços da menina loira. Ally recebeu o abraço de sua amiga de muito bom grado, é apertado e quentinho, e ela ama os abraços de Camila. A menina de cabelos lisos começou a indagar Camila como havia sido o seu fim de semana e a contar tudo o que tinha acontecido no seu, de como o almoço na casa de sua avó havia sido uma loucura, pois, sua tia pegou o filho fazendo coisas inapropriadas com a namorada no quarto.

Camila sorria toda vez que achava algo engraçado, ela buscou com os olhos a sua vizinha, mas não a encontrou, isso a frustrou, Camila gostou da companhia de sua nova vizinha. A vizinha que ousou tocá-la sem que ela desse o primeiro passo, a mesma que sentou tão perto dela que fez o seu coraçãozinho bater desregulado, que a ajudou a tocar pela primeira vez o instrumento que tanto ama. Camila gostava da companhia dela. O sinal ressoou avisando que as aulas iriam ter início, acompanhada por ally, a mais nova foi para sua sala de aula, seria história e Camila gostava, bem pouco, mas gostava.

A manhã correu bem, a pequena estava no horário de almoço e ainda buscava com o olhar a sua vizinha, mas não a encontrou em canto nenhum. Ally havia deixado Camila sozinha para ir ao banheiro, a menor sentia-se insegura por estar sem ninguém ali, então se levantou de seu lugar e começou a vagar pelos corredores, com a pequena esperança de esbarrar-se com sua vizinha. Mas a esperança da pequena Cabello desapareceu, quando esbarrou-se com Austin, o menino que sempre implicava com ela por causa de sua condição e dessa vez não foi nem um pouco diferente.

-Calminha.- O menino de quase um e setenta de altura, falou segurando a menina que tentou escapar dele. — Você parece um bichinho assustado. — Liberou

uma risada debochada, enquanto Camila tentava se soltar do mesmo que a prendia com suas mãos fortes. - Você odeia isso, não é? Odeia que cheguem perto de você assim? Você deveria estar em um zoológico aberração!

Camila começou a chorar, cada palavra que Austin proferia a machucava internamente, afinal, ela não tinha culpa por ter nascido diferente das outras pessoas. O menino continuou a falar coisas absurdas a pequena, que nunca lhe causou algum mal, ele ousou tocá-la com mais intimidade, guiando sua mão para de baixo da saia de Camila, tentando alcançar sua calcinha, mas a menina começou a gritar e se debater. Atraindo a atenção de Lauren, que estava na sala de música próxima dali, a mais velha saiu da sala e viu que era Camila e que o menino estava tentando tocá-la por baixo da saia.

-O que está acontecendo aqui?- Proferiu em um tom de voz alto, atraindo a atenção dele, o moleque paralisou ao ver a nova professora se aproximar deles. — Eu fiz uma pergunta!

-E-Eu só estava ajudando-a, professora.

O garoto disse atropelando a própria fala, estava nervoso com o que a mulher poderia ter visto.

Lúcia? - A mais velha chamou a inspetora que passava por ali na hora.

- O que está havendo? — Lúcia, a inspetora do colégio que sabia exatamente da condição de Camila, indagou se aproximando dos três.

- Este menino estava tentando pôr a mão dentro da saia de Camila.

- Você vem comigo para sala do diretor, Austin.

- Mas eu não fiz isso! — Protestou em uma falsa indignação.

-Então, eu estou mentindo? Quer que eu peça a gravação da câmera de segurança? - Indagou fazendo o menino engolir a seco, Austin negou com a cabeça e seguiu a inspetora para sala do diretor, ouvindo os sermões da inspetora sobre ele mexer com a menina.

-Você está bem? Lauren indagou preocupada, Camila não a respondeu, a menina estava encolhida contra os armários do corredor e chorava. — Quer vir comigo para sala de música, eu posso tocar piano para você?

Camila olhou a mais velha nos olhos, o primeiro contato visual direto que fez com a vizinha desde que ela chegou a cidade, mas ela não o sustentou por muito tempo, logo o desviando para o chão e aceitando a mão de Lauren, que a havia estendido em direção a pequena. Juntas entraram na sala de música, caminharam em silêncio até o piano, Lauren se sentou e começou a tocar uma sonata mais alegre de Mozart para Camila. Que aos poucos sentiu os seus músculos relaxando, sua respiração e o seus sentimentos também, a menor permitiu-se sentar-se ao lado da mais velha e a observou deslizar os dedos pelas teclas.

-Me dê a sua mão.- Lauren pediu, insegura Camila esticou a mão para mãos velha, que a pegou com delicadeza e posicionou os dedos da menor sobre as teclas do piano.- Eu vou falar e você faz, tudo bem?

Camila meneou a cabeça em um aceno positivo, Lauren instruiu a menor a tocar algumas notas fáceis e Camila pôde sorrir minimamente, como sempre fazia, por estar tocando sozinha o instrumento amado. Ally estava parada na porta da sala de música observando a cena, ela havia procurado por Camila pela escola e não a achou, então foi buscar pela amiga no único lugar em que ela se sentia segura naquela enorme escola. A sala de música.

AUTISM (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora