A mata era quase silenciosa: além dos grilos, os únicos ruídos vinham das folhas sendo amassadas pelas patas de uma onça que, entorpecida, seguia sem se preocupar em fazer barulho.
Um cheiro extraordinariamente doce tomava o ar, aroma esse que também tomava os pensamentos do animal. A onça andava em direção a ele, obstinada. As árvores logo ficavam para trás enquanto ela saía da floresta, avistando a fonte do perfume parada numa campina.
Uma roseira repousava na grama, as folhas escuras e os espinhos afiados feito agulhas, mas o que mais chamava a atenção eram as flores: vermelhas feito rubis, cintilando no sol da tarde. Aquela era, sem dúvida, a causa do cheiro.
A felina caminhou vagarosamente até a planta, mal conseguindo controlar o próprio corpo. Ela apenas queria chegar mais perto, como uma maçã que busca o chão. O aroma ficando mais forte a cada centímetro que ela se aproximava.
E ,então, a onça toca a roseira. O odor, agora insuportavelmente doce, mais parecia um narcótico. Os ramos da planta se enroscam aos poucos nas suas patas, espetando e puxando para dentro.
A onça mergulha na roseira.
O perfume mascara a dor, faz parecer natural. O animal sequer percebe enquanto as pontas pinicam o seu couro. E ela afunda na planta, a luz sumindo devagar à medida que ela adentra.
No fundo a onça sabe que isso não é bom, ela sente que um final doloroso se aproxima, encoberto pelo cheiro esmagador. Mas não consegue mais sair, agora os seus músculos relaxam involuntariamente.
Até que um raio de luz irrompe pelas folhas e, apenas por um segundo, o veneno adocicado perde o efeito. Isso é o suficiente para que ela reaja. A felina pensa em como estaria se não fosse interceptada pela planta. Talvez estivesse em cima de uma árvore ou mesmo dentro do rio. Ela não quer terminar ali, se recusa a aceitar essa possibilidade.
O perfume não vale a onça.
De repente, o cheiro forte é inútil contra a vontade do animal. Ela rasga uma saída com as garras e emerge da prisão verde, correndo para longe, se afastando do perigo traiçoeiro.
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A Onça e a Roseira
Short StoryOs aromas doces atraem animais desavisados com facilidade, mesmo quando mascaram espinhos pontiagudos. A onça era um desses animais desavisados.