Prólogo.

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Na calada da noite, o vento frio percorreria pela espinha de Craig enquanto o mesmo devia decorar o que era de se falar no dia seguinte, escrevendo no papel e corrigindo os erros para exercer a mais bela apresentação que deveria ter para que todos os seguidores da igreja acreditassem nas suas palavras vazias. Era o único a estar tão empenhado nisso, na verdade era o que único pelo qual foi permitido ter um futuro cargo e um bom futuro como pastor, o único que podia cumprir com todos os seus ensinamentos mas era o único que de todos, tinha os desejos mais simples e sem enormes emoções. Até porquê, devido ao seu cargo, devia reprimir os seus sentimentos. Algo que Craig já fazia antes de começar a se empenhar no caminho para se tornar um pastor.

Ele já fazia apresentações, cultos, tinha a voz tão firme que todos já o consideravam como um pastor e era o que mais demonstrava convicção em suas palavras, as pessoas assistiam com esplendor porém aquelas palavras não passavam de palavras vazias que o Tucker só falava por ser apenas uma fala decorada, poucos sentimentos eram carregados naquilo que falava a não ser o de desprezo pelas pessoas que o assistiam ou o seu desdém em relação a seu posto.

Estava sempre observando a falsidade das pessoas enquanto passava pelo corredor, reparava na inveja de seus colegas, podia ver a hipocrisia apenas no olhar das pessoas mais velhas e podia notar o desprezo que muitos dos seus soberanos tinha por ele mas não demonstravam abertamente. Craig era de fato observador e apático mas a maioria o tratava bem que chegava a ser detestável e tudo pelo simples fato que metade desse tratamento era para esconder desprezo que tinham pelo moreno. Ninguém estava ali porquê queriam, na verdade, maior parte das crianças de South Park apenas moravam na catedral porquê os seus pais não tinham condições financeiras suficientes para os manter, ou eram escolhidos pelos pastores e sacerdotes para que tivessem cargos religiosos no futuro com o pretexto de fazerem o bem para todos quando na verdade só queriam ter a certeza de que aquelas crianças iriam salvar as suas almas e as abençoar caso a verdade suja visse à tona.

A luz da lua que adentrava o quarto de Craig por meio de sua janela, permitia que o Tucker pudesse escrever melhor o que deveria decorar para o dia seguinte, o olhar sério enquanto estava ainda com as suas vestes de jovem pastor escondia o desânimo em estar escrevendo algo que era esperado falar para todos quando queria dizer outras palavras, era um tanto quanto irônico aquilo... De fato, era irônico.

[...]

Enquanto abria lentamente os olhos notou que era de manhã e tinha dormido em sua escrivaninha. "Droga." pensou enquanto se queixava ainda mais sobre a sua má sorte em ter dormido nesse estado.

Notou que no ponteiro do relógio marcava 8:00 e devia se apressar caso quisesse tomar o seu café da manhã já que a sua apresentação na igreja ocorreria às 8:30 e duraria cerca de duas horas.

Era de se esperar que Stan Marsh ou algum outro viesse verificar se já tinha decorado a sua fala mas não o fizera dessa vez. Enquanto caminhava pelo corredor com a bíblia em sua mão e o seu relógio de bolso, recebe olhares de seus colegas que cochichavam entre si em pequenos grupos que Craig nunca fez questão de se enturmar até ter criado o seu próprio grupo que envolvia: Clyde Donovan, Token Black, Butters Stotch e Jimmy Valver. Formando assim a conhecida "Gangue de Craig" na verdade, não era tão conhecida, os seus colegas não davam atenção para gangues e só se juntavam em ciclos sociais para ganharem pontos com os pastores. Possivelmente a Gangue de Craig tenha se tornado uma das únicas que realmente foi genuína ou tenha acontecido de modo natural e não forçado como alguns. A gangue de Stan era duvidosa já que ninguém sabia como os garotos conseguiram formar uma gangue, Stan era o mais desinteressado e os outros tinham personalidades difíceis de lidar para alguns.

O corredor se iluminava devido as janelas médias e com detalhes simples de mármore e de pedras, dando um tom mais medieval para aquele lugar antiquado. Os olhares que Craig recebia eram difíceis de aceitar, não eram olhares bons, não tinha como ter em meio a tantos olhares, um olhar genuíno sem um desejo egoísta por de trás. Embora todos fizessem questão de disfarçar, até porquê aquele lugar era o simples resumo de: "Lobo em pele de cordeiro", ninguém era uma anjo quando se tem os seus próprios demônios.

Ao entrar pela sala cujo todos se reuniam para tomarem a sua refeição, foi notório que Craig foi o primeiro e único a se dirigir ao refeitório. O sino ainda não tinha batido para reunir as demais crianças mas então bate, fazendo com que ele deixasse os seus pensamentos de lado e era possível escutar os passos sincronizados dos demais aspirantes ao local.

Depois da oração feita antes de comerem, as crianças pegam a refeição de sempre: pão, leite ou café (para aqueles que eram intolerantes a lactose ou que não gostassem de leite), bolachas e alguns bolinhos aparentemente de baunilha com chocolate. Como não havia muito diálogo na hora da refeição, a única coisa que incomodava Craig naquele momento era exatamente isso, a falta de comunicação, não que seja novidade, mas dessa vez foi algo bem mais quieto e monótomo, decidiu que não ia dá muita atenção para isso já que não queria se preocupar com aquilo naquele momento, até porquê até mesmo em seu ambiente familiar o que mais faltava era uma boa comunicação.

[...]

Depois da sua apresentação na igreja, Craig recebeu inúmeros olhares admirados com a sua fala, parecia que ele podia dizer qualquer coisa portanto que naquelas palavras envolvessem amor, amizade, união e paz, apenas assim seria imensamente admirado depois. A sua apresentação não foi perfeita, houve alguns erros que ele teve de esconder aumentando mais o seu tom de voz para continuar a sua fala como se nada tivesse acontecido, ele não tinha ao menos emoção ao fazer aquilo, apenas se sentia estressado tendo que dizer tudo aquilo por muito tempo.

O resto do seu dia foi normal: Ter de ajudar a limpar a igreja, fazer a oração junto das outras crianças, fazerem favores para os seus superiores, ensaiarem as suas falas, no final disso tudo era hora da refeição e depois se preparar para dormir. Todos foram para os seus devidos dormitórios, assim como o Tucker. Mas aquela não seria apenas mais uma noite normal. Não, não seria apenas a mesma rotina de sempre, e Craig estava disposto a mudar aquilo... Naquela noite.

Noite para os demônios.Onde histórias criam vida. Descubra agora