Mesmo mancando cheguei em casa mais cedo do que meu pai. O relógio marcava meia-noite e o homem ainda não dava sinais de voltar. Ou ele estava com um cliente particularmente insistente, ou estava machucado.
Torci para que fosse a primeira ou então seria dois de nós mancando amanhã.Dei o meu melhor para massagear minhas contusões e percebi com um suspiro resignado que amanhã eu estaria roxo. Observei numa metade de espelho quebrado as marcas da mão de Archeon no meu pescoço e engoli em seco pensando nos olhares que receberei amanhã.
Engoli em seco, mas o ato fez minha garganta arder e eu balancei minha cabeça o que, infelizmente, doeu também.
Suspirei. Bem, pelo menos eu não estava sangrando.
Pensei em comer alguma coisa, mas o latejar na minha garganta me lembrou que não era uma boa ideia e fui pegar um balde para me limpar um pouco.
Levei a água para o quarto e tirando minhas roupas com um certo esforço, comecei a passar o pano molhado nos machucados. Estremeci vendo as marcas no meu quadril. Amanhã seria ruim até para andar: Archeon tinha sido bastante bruto dessa vez.
Ele estava puto, possesso com o que aquele faerye tinha dito e não se conteve ao aliviar a raiva em mim.Passei o pano por entre as bochechas da minha bunda e estremeci quando notei o sangue verde manchando o tecido. Desviei os olhos e terminei de me limpar, fingindo que nada estava errado.
Depois, vesti uma roupa solta para dormir e deitei no colchão.
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Acordei com um estrondo na sala e ouvi meu pai xingar. Suspirei me levantando e caminhei lentamente até lá.
Agora com meu corpo descansado, tudo doía ainda mais o que era uma merda, mas eu aguentaria isso, como sempre fiz. O relógio na parede marcava meia-noite e trinta e quatro e percebi com resignação que não tinha cochilando nem trinta minutos.
Pisquei meus olhos cansados e encarei o homem mancando enquanto tentava fechar a porta com o maior silêncio possível. A porta rangeu e meu pai xingou de novo.
Suprimi um riso pensando em como era interessante o fato de que os objetos pareciam fazer sons mais altos quando isso era justamente o que você queria evitar.
Balancei a cabeça para apagar esses pensamentos e notei quando o homem se encostou na porta fechada, como se lutasse para ficar em pé.
Alguns clientes, eu sabia, pagavam por mais que sexo; eles pagavam para dominar, humilhar e machucar. Sentiam prazer com isso.
Eu sabia apenas vendo seu estado deplorável que nesse dia meu pai tinha tido um desses clientes.
Por isso quando meu pai cedeu, caindo no tapete remendado do chão não esperei nem mesmo meio segundo antes de ir até ele com a calma que só alguém acostumado com essa situação poderia.
Lembro-me quando era pequeno, minhas mãos tremiam e eu chorava quando meu pai chegava em uma dessas situações. Não aconteceria hoje, já não acontecia á anos: eu havia crescido o suficiente para entender que minhas lagrimas não deixaria meu pai melhor.
Com mãos estáveis, levantei cuidadosamente a camisa suja. Talvez esse fosse o momento em que eu suspirasse ou chorasse com a visão que estava tendo. Mas eu não era mais assim.
Por esse motivo, olhei friamente para os machucados; categorizando todos os danos e tomando nota dos piores.
Os vergões verdes e azuis profundos pareciam doloridos, mas só metade deles eram ruins o suficiente para que o sangue esverdeado do homem caído no tapete escorresse.
Não comentei sobre as marcas adornando o corpo do zombie mais velho e mudei minha atenção para um corte particularmente sangrento.
Os piores primeiro, pensei com um suspiro.
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Sobrevivendo á Sombras e Desilusões | #1
FantasyPara maiores de dezoito anos, embora eu mesma tenha 17. Menção a violência, prostituição, exploração sexual infantil, assassinato, sexo, drogas. "As vezes é melhor fingir para não perceber. " Zouely era um jovem zombie adolescente bastante perturba...