Constelação de Órion

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Eu olhei para os céus e fiz um pedido novamente.

Contudo, querendo me surpreender, meu pedido veio de um jeito diferente.

Na calmaria dos seus olhos profundos, me perco, ainda contente.

Você passou rápido demais pela minha vida, assim como o brilho de uma estrela cadente.


Eu chorei mais e mais.

Todo o meu corpo tremia com a força que as lágrimas chegavam aos meus olhos, acompanhando a dor dilacerante que corroía cada pedacinho lindo que existia dentro de mim. Ah, céus! Sentimentos podem matar alguém, não de corpo, porém de alma. Quando a nossa alma morre, o que fazer para recuperá-la? Como conseguir trazer a vontade de viver e continuar de volta para nós?

Todas as histórias tristes tinham uma perda de alguém especial. Meu alguém especial lutou tanto para que no final fosse embora da pior forma possível. Um acidente provocado, um assassino se fazendo de pobre coitado. A raiva que ficou em meu peito durou tanto tempo que não percebi os dias passando e as noites durando mais do que deveriam sempre que meus olhos focavam no céu escuro das noites cansativas. Foi tirado de mim o futuro com a pessoa que protegi e amei até seu último suspiro.

E quando me dei conta, um ano havia se passado.

Meus joelhos reclamaram quando me movimente milimetricamente para frente, os arrastando no assoalho. Meus olhos grudados na lua cheia, brilhante e tão bela como no ano anterior, nesse exato dia. Meu casamento, pensei com um sorriso nos lábios. Meu casamento a luz do luar, todos tão emocionados quanto eu, todos alegres quanto eu.

A lua estava tão linda naquele dia... Ela deve ter ficado triste com o desfecho tão trágico.

— Soando como poderia soar, minha pequena — sussurrei, lentamente fechando os olhos, enquanto lembrava de suas palavras ao me ver com o vestido de noiva — Sabe que é algo lindo para se olhar. Eu nunca deixarei de te amar, mesmo que um dia eu tenha que lhe deixar.

Duas lágrimas grossas caíram dos meus olhos e eu respirei fundo. Minhas mãos voltaram a tremer, precisava abrir aquele envelope. Um ano se passou desde o melhor e pior dia da minha vida e eu cumpriria a promessa de ler todos os seus sentimentos descritos naquele papel. Um pedido que ele havia feito antes de fechar os olhos para sempre. Antes de afrouxar seus dedos ao redor dos meus e sorrir para mim pela última vez. Antes de prometer a mim que iríamos nos encontrar novamente em um futuro não muito distante.

"Lhe deixei um presente na última gaveta da mesa principal do seu escritório. Um ano, tudo bem? Espere um ano para ler todos os meus sentimentos transformados em palavras... Bom, ou foi o que eu tentei fazer."

Abri as pálpebras e puxei a folha de dentro do envelope verde claro. Meus dedos tremeram mais um pouco e minha respiração foi profunda, tentando acalmar as batidas do meu coração em pedacinhos. Pisquei com força e iniciei a leitura.

Somos todos feitos de carne, ossos e sangue.

Mas nem todos são iguais.

E eu sei disso porquê você nunca foi e nunca será igual a qualquer outra pessoa que conheci durante a minha triste vida. Soube quem eu fui, soube de todas as minhas merdas, soube o quão ruim eu era e ainda assim, bateu os pés no chão dizendo que todos os seres humanos são capazes de mudar por um bem maior. Eu percebi que toda a minha história poderia ser reescrita assim que seu sorriso triste se iluminou a minha frente, desesperada, gritando por ajuda dentro daquela casa em chamas. "Você me salvou", disse quando abriu os olhos naquele quarto branco. Não, eu não a salvei. Você quem me salvou. Você me deu um tapa na cara e implorou de joelhos para que eu saísse daquela vida, para que eu me levantasse. Garota, eu fui enviado para acabar com a sua vida e a única coisa que disse quando eu revelei isso a ti foi "teria me matado no primeiro instante que me viu se realmente fosse um homem ruim.". Não fugiu, não me denunciou, apenas ficou lá e implorou para que eu saísse daquela merda para sempre.

My Star | Park JiminOnde histórias criam vida. Descubra agora