Após dois anos longe de sua família em um intercâmbio em Londres junto de seu irmão gêmeo, Augusto, tudo que Amanda deseja é descansar em sua casa no Brasil, situada em uma cidadezinha no interior de São Paulo.
No entanto, seus planos são virados de...
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Demorou uma questão de segundos para o mundo parar novamente e Kelvin abrir a porta do armário com uma naturalidade revoltante.
Michael estava inerte, limpando uma pistola com um pano de microfibra. A arma era muito bonita, com desenhos ornamentais no cabo e no cano. Era de uma cor dourada, refletindo as luzes da sala como ouro recém-conquistado.
Amanda sentiu arrepios nada agradáveis por todo o corpo. As lembranças voltaram com tudo à sua cabeça. Achava tudo aquilo irônico, não importasse o quanto ajudasse Augusto, ele sempre se metia em encrenca.
Aquele olho roxo, contra sua vontade, a recordou de uma série de acontecimentos que inundaram seus olhos.
Augusto havia acabado de chegar da rua quando passou pela mãe na cozinha e o olho roxo destacou-se sob as luzes do cômodo. A briga que se seguiu foi inevitável, Augusto quase ganhou um segundo olho roxo quando deu uma resposta malcriada para ela.
Ele não explicou onde havia conseguido o ferimento, apenas disse que "brigou com uma pessoa". Mesmo com raiva, a mãe cuidou do olho dele colocando uma bolsa de gelo em cima do machucado.
Depois, sem querer que ela reparasse, Augusto começou a usar camisetas que cobriam até seus pulsos em pleno verão do Brasil. Desconfiada, um dia, Amanda o encurralou no corredor do quarto que dividiam. Sem que ele pudesse impedi-la, ela subiu as mangas de sua camiseta e ali estavam vários hematomas e arranhões em sua pele.
O olhar ansioso em seu rosto evidenciou as olheiras sombrias sob seus olhos...
— Então foi assim que Augusto conseguiu o olho roxo. — Kelvin comentou, passando a mão pela barba recém-aparada.
Aquela frase afastou temporariamente as imagens do passado. Amanda o encarou.
— Você nunca tinha visto essa cena?
— Nunca de perto, sempre tive receio de ser descoberto. Os Ajudantes possuem uma espécie de aura que nos faz ficar irrelevantes para o resto das pessoas, a menos que elas prestem muita atenção em nós ou, em casos raros, se elas tiverem um terceiro sentido aflorado. Geralmente, pessoas que enxergam entidades ou coisas através do fino véu do outro mundo.
Ajudantes do Tempo, e agora fantasmas? De fato, ela está sabendo de mais coisas que gostaria. Agora, como ela vai tomar banho sem achar que alguma coisa está observando-a?
— Então, você ficou com medo de que Michael pudesse ser um desses casos raros?
— São raros, mas não impossíveis.
— O que acontece quando as pessoas veem vocês? Aparecendo do nada nos locais?
Kelvin parecia apreensivo. Amanda sentia que já sabia mais do que deveria, mas a curiosidade a impulsionava a perguntar cada vez mais. De certa forma, aquela parte do mundo que ela não conhecia era fascinante, ela nunca teria outras formas de descobrir mais sobre o Tempo, seus Ajudantes ou, como recém descobriu, fantasmas.
