não sou de escorpião, gêmeos, quiçá sagitário. sou de sentir, nascida em dia e hora errada; que tem muito para pensar e nada diz.
sou de temores e tremores, frágil durante noite tempestuosa e ouvidos sensíveis, pele quebradiça pelo frio estarrecedor; tal apreciadora de música clássica e quadros de eras passadas, que deseja o deslize de digitais quentes e marcadas com o passar das cordas do violino.
sou de paixões, à primeira vista ou cultivada secretamente, ao longe, em cores. boba demais para acreditar, flutuante por bastante para encerrar. em caos apaixonado vive meu coração, disperso em teu sorriso tímido e por vezes largo, presa em teu olhar comicamente perdido - e assim me perco em teu tão falado universo interior, amado saturno.
de mágoas sufocantes, lágrimas de prata cortantes. de respirações pesadas e mãos machucadas, batimentos frenéticos e frio na barriga. como companheira tenho a ansiedade, esta que cala gritos dolorosos de ajuda em meio multidão, impedindo que me faça centro de atenção.
sou de mentiras, aquelas que contamos e no fim são aceitas, fáceis de comprar. de vida falsa, felicidade torta e congelada, sou máscara de teatro. mas também a verdade, aquela que me é pertencente, protegida por barreiras de fim inalcançável. a verdade que dói, deixa louca a mais sã das mentes.
misto, tudo. de falsas alianças, telhado frágil em telha velha. sou de fardos e rancores, ao tempo em que não sou nada. onde tudo que me consome é a vontade de estar sempre cambaleando no limite de viver, chorar, amar, sentir, pulsar. ser o mais feliz dos homens. e então, sou vazio. solidão que nenhum jamais sentiu, que não se encontra em renomados livros. avassaladora, dominante, sufocante.
me visto de pequenas alegrias e, por vezes, permito que casulos sejam formados em mim para que voem por meu estômago gentil e graciosamente; para milésimos tragos depois sufocar-me os pulmões, na obrigação de que as cuspa por todo custo.
sou da melancolia, noites frias e canções melodiosamente tristes, que causam a euforia e o oco, tocadas no rádio que fora deixado um dia por alguém me me amou, tendo como única e aceitável companhia o cigarro. de textos desconexos, alma confusa e amores inexistentes.
tenho apenas dezoito anos e não sei nada sobre o mundo. mas sei sobre sentimentos, e eu (não) os quero.
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e assim criou-se o caos.
Poetrytentativas de dizer coisas que há muito já não sei. poesia (?), textos | 2022.