6. Você não cansa de ser inconveniente?

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Delphine POV

– E se formos ao shopping? – questionou Charlotte, já me enchendo a paciência, listando inúmeras coisas que poderíamos fazer naquela tarde tediosa de sábado, já que eu não trabalharia e ela já havia terminado todos os deveres de casa.

– Não temos dinheiro para ir ao shopping, Char – limitei-me a responder, enquanto surfava sem vontade alguma pelos canais usando o controle da televisão, jogada de qualquer forma no sofá, trajando apenas uma social branca com as mangas dobradas até o cotovelo e um short confortável.

– Nunca desejei tanto que Anthony estivesse aqui – comentou de maneira cansada, tomando minha atenção imediatamente. Ela odiava Anthony, então por que desejava que ele estivesse lá?

– Posso saber o motivo, já que o odeia tanto? – questionei levantando o meu olhar, assistindo ela jogar-se no sofá, como quem não aguentava mais estar ali.

– Porque ele fazia questão de te entreter no sábado. E te entreter no sábado, significava me manter longe, e isso, significava ingressos de cinema e pipoca grande!

– Ridícula! – repreendi, ainda que em um tom brincalhão. Havíamos chegado a um ponto em que eu tinha que passar insuportáveis horas com Anthony para que ela se entretece.

Aquela semana passou voando, e sem conhecer muitas pessoas na cidade, realmente não tínhamos outra escolha a não ser alimentar o tédio deplorável em nosso pequeno apartamento. Naquele sábado, nem almoço havíamos pedido ainda, pois a preguiça de ambas era tanta, que inibia a vontade de comer.

Ouvi três batidas na porta, e revirei os olhos em resposta. Odiava quando Charlotte chamava as amigas e não me avisava, já que nem a casa eu havia chegado a arrumar naquele dia. Olhei para ela, como quem perguntava apenas com o olhar, o que ela estava esperando para abrir a maldita forma. Entretanto, ela me olhava da mesma forma.

– Não vai atender? – indagou segurando o travesseiro.

– Deve ser Karen, não estou esperando ninguém – respondi voltando a me deitar de forma despojada no sofá.

Charlotte, ainda bufando, foi atender a porta, contra sua própria vontade. Não escutei gritos, então imaginei que pudesse ser outra pessoa de sua escola, que não fosse Karen. Grande pensamento ingênuo e idiota.

– Espero que não tenham almoçado ainda!

Era ela. Era a voz dela. Gelei, e arregalei os olhos. Imediatamente coloquei-me de pé, e no susto, desliguei a televisão. Cosima Niehaus estava em meu apartamento bagunçado e nada sofisticado. Estava ali, em minha porta, depois de ter sumido por quase cinco dias. Segurava quatro sacolas em sua mão, e carregava um sorriso gentil no rosto.

Analisei suas roupas, e estava perfeitamente bem trajada, formalmente de modo que parecia mais ser o seu casual, como sempre. Mas algo estava diferente desta vez. Seus sapatos, certamente. Ela usava allstar branco, que combinava com todo o resto de sua roupa, no mesmo tom de cor. Normalmente ela usava reenete, mas de um couro de qualidade tão absurda, que ao brilhar, chegava quase a ofuscar.

Como assim, normalmente, Delphine? Você havia a visto uma vez!

– Srta. Niehaus? O que faz aqui? Como soube onde eu moro? – foi a primeira coisa que perguntei, depois de minutos analisando aquela mulher, que realmente estava ali.

– Cosima – corrigiu – Achei seu endereço na ficha de cadastro da empresa – disse com naturalidade, como se não fosse a coisa mais esquisita e absurda do mundo – E então, almoçaram? – tornou a questionar, e vi Charlotte pegar as sacolas de sua mão e pedir para que ela entrasse.

Não diga que me amaOnde histórias criam vida. Descubra agora