Capítulo Treze

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Oi gente, como vocês estão? Espero que tudo bem. 

Aqui está mais um capítulo.


Há momentos em que a vida parece complicada. Mas há aqueles que são tão magníficos, tão extraordinários, que você só deve agradecer por fazer parte. Enquanto eu corria e tentava reter as lágrimas que mostrariam o quanto eu estava emocionada, eu lembrei de fazer isso: eu simplesmente agradeci.

À minha frente, um homem que por puro amor e bondade, reservou algumas horas do seu precioso domingo, para mostrar a um menino, claramente feliz, que nenhuma deficiência seria capaz de detê-lo. Havia uma força quase palpável em Arthur, que impulsionava cada passo de Enryque, como se ele não pudesse fazer isso sozinho. Como se fossem um só.

O som das ondas batendo nas pedras, o barulho das rodas deslizando no chão, eram música para meus ouvidos. Como se a perfeição e o equilíbrio do mundo finalmente tivessem se encontrado. Eu não era acostumada a correr tantos quilômetros, mas a energia deles parecia afastar a minha inexperiência e cansaço. Principalmente quando eles sorriam calorosamente para mim. E a sensação que eu tinha, é que minha presença era bem vinda, que eles gostavam de nós três juntos, e estranhamente, eu também.

Enquanto eu corria e pensava, ouvi a voz de Arthur me chamando.

— Vem, Alice, segure a minha mão, se for capaz de correr tão rápido quanto nós. — Fui desafiada e acelerei os passos, tentando alcançá-los. A mão dele estava estendida no ar e eu segurei. — Não é demais? — ele gritou e tive que concordar, porque realmente era. Eu estava extasiada.

Nós corremos e corremos, e eles só desaceleraram na linha que indicava os quinhentos metros finais, e fui surpreendida pela oferta de Arthur.

— Você aceita ser as minhas pernas, Alice? — Eu ainda segurava a mão dele, ele tinha parado de sorrir e aguardava a minha resposta. Enryque balançou a cabeça discretamente, me pedindo em silêncio que eu dissesse sim, mas eu estava com medo de me atrapalhar e acabar nos derrubando.

Mas quem poderia negar a um pedido desse? E se Arthur era tão corajoso, eu também seria.

— É claro que sim — falei, incerta, ocupando o lugar de Enryque, que tinha quase parado para facilitar a troca.

Comecei empurrando timidamente, então percebi que era mais fácil do que havia imaginado, principalmente quando senti uma das mãos de Enryque cobrir a minha. Meu coração acelerou. Pela emoção do momento, pelo toque dele, mas principalmente, pela alegria de Arthur. Por perceber que, às vezes, são as coisas simples da vida que nos trazem alegria, por ter tido a oportunidade de viver essa experiência.

Então eu acelerei, como se fosse buscar a nossa medalha, e lá no fim da linha, estavam uma senhora e um rapaz, que nos esperavam vibrando como se fôssemos verdadeiros vencedores. E era exatamente o que éramos. Vencedores. Vencemos uma limitação física, vencemos preconceitos, e acima de tudo, mostramos que nem sempre o que parece impossível não pode ser alcançado.

— Uhu!!! — Arthur gritou, com as mãos jogadas para o ar, quando finalmente terminamos o percurso. Inclinei-me com as mãos apoiadas nos joelhos, eu estava exausta, mas acima de tudo, cheia de uma felicidade que há muito tempo eu não sentia.

Enryque fez as apresentações, mas eu ainda estava ofegante demais, então apenas levantei a cabeça e sorri, para as pessoas que cuidavam da casa e do jardim.

— Água de coco para todo mundo — a senhora ofereceu, e agradecida, levei a garrafinha aos lábios, bebendo até o último gole. Meus companheiros de corrida fizeram a mesma coisa.

— Você gostou, Alice? — Joguei o recipiente vazio numa lixeira próxima, e voltei para onde Arthur e Enryque estavam.

— Eu amei, obrigada por me convidarem.

— A ideia foi dele, mas acho que correr a três foi bem melhor. — Este foi Enryque, nós nos encaramos por alguns segundos, ele estava molhado de suor, mas continuava tão bom de olhar como antes. Eu apenas sorri como resposta, ainda cansada demais por conta da corrida, ou apenas por preocupação em demonstrar o quanto estava afetada por tudo.

— Vamos, Arthur? — Os empregados o chamaram, já empurrando o triciclo.

— Nós nos vemos daqui a pouco, Alice. — Assenti e eles se afastaram.

Olhei para o gramado ao lado esquerdo, e para uma mangueira que deixava uma boa parte dele sombreado. Então caminhei até lá e deitei, fechando os olhos em seguida, ouvindo o som das ondas batendo nas pedras, das gaivotas que sobrevoavam acima de nós. Senti Enryque fazer a mesma coisa ao meu lado.

— Ele gosta de tomar um banho depois da corrida, não vai demorar muito.

— Não me importo de esperar, minhas pernas estão queimando, e esse lugar é simplesmente o paraíso — respondi, ainda de olhos fechados, tentando acalmar a respiração.

— Deveria ter te avisado que você podia dar um mergulho no mar.

— Talvez da próxima vez? — E sem pensar eu estava me convidando, e com certeza não era uma boa ideia, mas má ideia mesmo, foi abrir os olhos e olhar na direção dele.

Enryque estava de lado, com a cabeça apoiada em uma das mãos, e me observando, não apenas isso, ele estava sorrindo como se tivesse gostado da minha sugestão.

— Arthur adoraria se você viesse... Na verdade, eu também.

A praia e o homem deitado ao meu lado eram uma combinação terrível. Adicione um sorriso em seu rosto, e eu estava perdida. Eu não sabia que o ritmo acelerado do coração depois de um esforço físico, demorasse tanto tempo para passar, mas podia jurar que tinha melhorado um instante antes.

— Quem sabe eu consiga vir, algum dia. — Tentei não parecer muito interessada, embora o momento que tive hoje, não seja do tipo que alguém deseja experimentar apenas uma única vez.

Eu me virei para ele, e imitei sua posição, Enryque não disse nada, mas senti que o nosso silêncio dizia tantas coisas...Naquele instante, era como se o tempo não tivesse passado, como se ainda fôssemos dois adolescentes destinados a uma vida inteira juntos, e mesmo que não compartilhássemos dos mesmos pensamentos, mesmo que não estivéssemos sentindo as mesmas emoções, era como se seus olhos me contassem uma outra história, uma que nos levava para a mesma estrada... Talvez eu estivesse enxergando demais, desejando que as coisas pudessem ser diferentes, onde nós dois éramos personagens do mesmo livro, um que com certeza teria um final feliz. Suspirei, voltando à posição anterior, fugindo da intensidade que ele dispensava, apenas olhando para mim.

— Vou repetir o que disse mais cedo, é realmente incrível o que você faz por ele, aliás, nunca imaginei que fosse possível uma pessoa numa cadeira de rodas participar de uma corrida.

— Existem alguns grupos aqui no Rio de Janeiro, e até em outros lugares que fazem essa corrida solidária. Eu vi a primeira vez nos Estados Unidos e pensei que Arthur ia gostar. — Ele sorriu. — E pelo que você viu aqui hoje, eu estava certo.

Sim ele estava, e não era só isso, mas também todas as outras coisas que ele fazia. A casa que ele preparou especialmente para Arthur e a mãe, o incentivo aos desenhos, e o principal: o amor que ele dispensava como se fossem da família.

Esse homem parecia um vislumbre do garoto que amei, não daquele que se despediu e desapareceu para sempre, mas aquele que eu tinha amado, desde o nosso primeiro encontro.

— Eles têm sorte de ter você. — A frase era apenas uma pequena parte do que eu estava pensando, a única coisa que resolvi falar em voz alta, antes de fechar os olhos, e apenas sentir o que quer que eu estivesse sentido hoje.

Permanecemos em silêncio por mais alguns instantes, até que ouvimos o barulho de rodas tocando o chão, e a conversa animada de Arthur.

Eu sabia que nosso tempo tinha chegado ao fim.

Quando fui deixada em casa, agradeci mais uma vez pela manhã inesquecível que tinha tido. 


Espero que tenham gostado

Beijos!!

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