"Trarei sobre eles uma desgraça da qual não poderão escapar. Ainda que venham a clamar a mim, eu não os ouvirei." - Jeremias 11:11
Se almas tivessem cor, a sua seria enegrecida como seus olhos.
É claro que ela só enxergou quando era tarde demais.
Naquele tempo, ela via o mundo como um lugar mágico, acreditava que todo mundo tinha bondade dentro de si. E você enxergou isso nela assim que a viu.
Era bom, não era? Quando você brincava de contar mentiras, ela era sua platéia favorita.
Seu coração batia mais rápido, não batia? Quando a manipulava e a dobrava ao meio, empurrando-a em direção ao abismo.
Você se achava no controle, não achava? Arrogância era seu ponto fraco e a sede do seu pecado a engoliu.
Você gostava do perigo, não gostava? Seus pensamentos tortos e podres quando olhava pra ela, premeditando cada passo do que seria sua próxima sentença.
Quando que decidiu que aquilo deveria acontecer? Quanto tempo teve que esperar pela oportunidade perfeita?
Você riu, não riu? Porque ninguém poderia os ver. Ninguém poderia os ouvir.
Aquilo te excitava, não excitava? Quando ela te pediu pra parar e você usou toda sua força.
Você sentiu prazer, não sentiu? Quando viu o desespero nos olhos dela enquanto a tocava.
Você estava se divertindo, não estava? Enquanto a mente dela tentava fugir do próprio corpo. A mente não podia continuar lá, porque suas marcas estavam por toda parte.
Aquilo te fez gozar, não fez? Quando a machucou de todas as maneiras que se pode machucar alguém.
Ela chorou, você não viu? Quando a obrigou dizer em voz alta que era uma vagabunda, uma puta, uma vadia.
E então você partiu. Deixou aquele pedaço de corpo frio e meio morto para ser roído pelos vermes e assombrado por fantasmas.
Com o tempo, as feridas da carne se curaram, mas os fantasmas ainda a perseguem.
Eles a observam do escuro enquanto ela tenta dormir, e nunca realmente se vão.
Mas ela se perdoa, por ter passado tanto tempo odiando a si própria.
