Draco estava apoiado em uma das pias e olhava o espelho, chorando como se o que estivesse vendo não fosse seu reflexo, mas um monstro. Era como ele se sentia: um monstro.
Mas ele não tinha escolha; tinha sido obrigado a virar um comensal e o próprio Lorde da Trevas tinha designado a ele — e a ele especificamente — a tarefa de matar seu diretor. Tinha falado pessoalmente com o garoto, os olhos vermelhos de cobra olhando no fundo de seus olhos cinzentos, procurando qualquer fraqueza para dar o bote. Aqueles intimidantes, assustadores e cruéis olhos vermelho-sangue que Draco se sentia ser tomado por pânico só de olhar.
De repente ele ouviu a voz mais improvável de se ouvir fazendo essa pergunta para si:
— Draco? V-você tá bem?Era o seu inimigo. Seu inimigo desde que os dois tinham apenas onze anos de idade — Harry Potter. Agora, ambos tinham dezesseis. O mais provável era que ele jogasse algum feitiço como um sectusempra, mas apenas fez essa hesitante pergunta, como se não soubesse o que fazer em tal situação.
Draco se assustou e rapidamente sacou sua varinha e apontou para o garoto; seu rosto estava estampado de pavor, surpresa e raiva por ser encontrado nessa situação.
— O que você quer, Potter? — perguntou desafiador. Assim como seu pai duramente lhe ensinou, ele não poderia deixar ninguém vê-lo fragilizado. Qualquer um usaria isso contra ele. Qualquer um.
Harry levantou as mãos em rendição, mostrando que não empunhava a varinha, que não queria fazer-lhe mal algum e Draco hesitou em baixar a sua, recuando um passo. Ele já tinha sido muito machucado nas poucas vezes que baixou a guarda para simplesmente confiar.
O garoto grifinório lentamente deu um passo na direção do sonserino, com medo de que ele saísse correndo ou — mais provável — o azarasse por ele estar ali.
— Tô te ouvindo — foi tudo o que ele disse.
Mesmo ainda apreensivo, Draco precisava colocar o que sentia para fora. Não poderia continuar segurando todo esse peso em seus ombros. Era apenas um adolescente, afinal.
— Quando todos os dias são frios e as cartas já foram jogadas, e os santos que vemos são feitos de ouro; quando todos seus sonhos falharam e aqueles que você chama são os piores de todos e o sangue continua escorrendo.
"Eu quero esconder a verdade, eu não quero fazer todo esse mal, mas com o monstro que tem dentro de mim não tem onde eu me esconder. Não importa o que eu faça, eu ainda sou um monstro. Esse é o meu "reino", vê? É assim que eu vivo, tenho que aceitar isso."
Harry se aproximava ainda muito lentamente, ouvia atentamente as palavras que o loiro proferia. Malfoy não recuava, mas ainda não queria que o moreno se aproximasse.
— Quando você se sentir à vontade, olhe nos meus olhos. É aonde meus demônios se escondem. Todos nós temos demônios, Draco — Potter tentava acalmar o garoto que jogava todas aquelas palavras, chorando, quase gritando para conseguir colocar tudo o que sentia para fora, para descarregar todo o peso de suas costas.
— Não chegue muito perto, é tudo escuro por dentro. É aonde meus piores demônios se escondem — tantava alertar, mas o grifinório já havia decidido. Aquele garoto poderia ter sido seu inimigo por anos, mas agora era apenas um adolescente vulnerável e que precisava de ajuda.
Harry tocou o braço do sonserino, tentando ainda confortá-lo, mas ele se encolheu com esse toque. Olhou nos olhos do mais baixo, incrédulo de que ele realmente quisesse ajudá-lo e acalmá-lo.
Ele acenava com a cabeça, o encorajando a continuar. Ele ainda estava ali, ainda o estava ouvindo.
— São os mascarados que vêm apontar o que eu faço de errado. Não quero te decepcionar, mas eu estou destinado ao inferno. Não consigo mais esconder a verdade. Não importa o que eu faça, eu ainda sou um monstro.
"Dizem que depende do que fazemos, eu digo que depende do destino. Está marcado na minha alma, eu tenho que desistir. Você brilha tanto e sempre faz o certo, eu queria ter essa luz. Eu não posso mais fugir disso, a menos que você me mostre como."
Harry olhava profundamente nos olhos daquele que deveria ser seu inimigo e não via crueldade, via apenas um garoto que não tinha escolha.
Eles, que agora estavam muito próximos, apenas ficaram com as testas encostadas, sentindo que agora não estavam sozinhos, tinham um ao outro para se apoiar. Ambos já tinham passado por muita coisa e sabiam como era sentir sem ninguém. Tinham isso em comum e tinham uma ligação.
Talvez por Harry não tê-lo julgado quando ele estava frágil, Draco se deixou ser guiado pelo impulso — coisa que nunca faz — e beijou o mais baixo, que surpreendentemente retribuiu em um beijo calmo e sentimental, molhado pelas lágrimas.
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Demons
FanfictionSabe aquela cena que tode Drarry shipper (ou qualquer pessoa que goste do Draco na real) sofre no sexto filme? Eu adaptei um pouquinho e adicionei a música Demons de Imagine Dragons. Bem, é uma one shot bem curtinha, porque é minha primeira então tô...