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Quando senti o ar puro depois de horas no carro, parecia que estava em casa novamente. Aquela cidade pequena e isolada me trás boas lembranças, aquelas que cultivei ali. A maioria das boas lembranças você estava nelas.
 
Deixei minha mala na casa de meus pais. Passei pela praça de gramado verde vivo que cheirava mal quando é cortado. Passei a sola do tênis naquele verde, caminhando até a árvore ainda bem cuidada e grande. Os meus dedos passaram no tronco firme, tentando achar nossas iniciais escritas dentro de um coração bobo que fizemos. Sorri genuinamente quando encontrei as letras um pouco apagadas, toquei e senti como se fosse ontem  que demos nosso primeiro beijo ali em baixo daquelas folhas ressecadas. Quando nós deitávamos na grama e ficamos olhando a grande constelação acima de nossas cabeça. Gostava de contar e te dizer o resultado que nunca era o mesmo que você havia contado.
 
Não muito longe, tinha a única escola da cidade. Estudava no máximo 100 alunos ali, contando com as crianças de alguns municípios vizinhos que estudavam lá também. Costumávamos pular o muro no recreio e comprar doces que gostava. Reclamava que ia perder aula e morria de medo de se machucar se caísse do muro, mas eu sempre estava ali em baixo para te segurar. Nunca fomos os populares nem “nerds” da escola, mas com notas boas e amigos próximos. Ninguém sabia de nós, mas éramos conhecidos como melhores amigos, e apenas. Ninguém mais que eu precisava saber que o amava. Além de que não seríamos muito aceitos.
 
Sempre que me convidavam para uma festa, eu te levava junto. Não durava 30 minutos de festa, reclamava que estava muito chato e queria embora. Pois estão, nunca neguei um pedido seu e saímos porta a fora da pequena casa de festa. Comprava uma bebida alcóolica barata na conveniência e íamos rua a frente sem destino. A risada alta saindo do timbre de nós dois preenchiam a avenida pouco movimentada. Ria e batia palmas da forma mais escandalosa possível, dançava aleatoriamente e me puxava para a valsa desengonçada, cantava músicas desconhecidas que criava na cabeça. Ficávamos horas naquilo, risadas, danças, brincadeiras, gritaria, e toda forma que extravasa felicidade de você. Guardava cada dia como esse na mente, por que sempre serão os mais contagiantes possíveis.
No final da madrugada, o sol nascia e sentados na calçada, você dormia em meu colo enquanto eu cantava baixinho uma música. Seus cabelos bagunçados, roupas e a cara amassadas quando voltávamos para casa era cômico. Sem banho ou escovada de dente, deitava na cama de solteiro me puxando. Sua mãe dormia no outro quarto, logo eu saia antes das oito.
 
Aproveitei essas noites como se fosse a ultima. Infelizmente teve uma ultima de tudo que vivemos.
 
Coloquei meus pés na água gelada da cachoeira. Nosso lugar secreto era a cachoeira de águas cristalinas. O descobrimos no último verão juntos, depois de andar uma estrada de terra desconhecida e escutar a água caindo, tornamos nosso lugar secreto aquela cachoeira.
A vista de você colocando o cabelo para trás depois de mergulhar e sorrir grande me tirava qualquer fôlego que tinha. Me puxava pela mão pro fundo logo subia nas minhas costas. Não era tão fundo, mas sempre fora baixinho e não conseguia pé em certos lugares. Ria da sua cara quando via que era fundo, me arrependia em seguida quando me puxava para de baixo da água por um certo tempo. A sua risada vingativa seria uma maravilha, se não estivesse na situação que estava.
 
Ficávamos sentados em uma pedra molhada ate a água de nossos corpos ficarem secas. Te dava a flor rosa que sempre nascia perto da beira da cachoeira. Amava a imagem do rosa claro atrás de sua orelha, você ficava sorrindo bobo toda vez que o encarava por muito tempo. Mas não perceber o quanto seu cabelo castanho claro caiam tão bem em seu rosto, e seus olhos cor mel são tão profundos, seus lábios pequenos e carnudos, queria beija-los pelo resto de minha vida. Aqueles detalhes, sempre me cativaram, porém o que sempre amei foi sua personalidade. É a pessoa mais forte, sincera, honesta e otimista que já conheci ao decorrer da minha vida. Sempre viu a parte boa das pessoas, e nunca levou os sentimentos para o lado negativo. Sua cabeça sempre em pé e consciência limpa, o fazia o ser mais forte. Carrega a honestidade e sinceridade por aonde vai. Entregava o mínimo centavo que achava no chão a um policial, mesmo sabendo que o cujo o pegaria. Não era bobo, só não queria o que era seu, sem esforço vindo do próprio suor. Lindo dos pés a mente inteligente como um sei-la-o-que.
 
O sol já se punha e o movimento da rua se permitia diminuir. Meu último destino não estava nos planos, mas ver cada coisa que passei com o meu grande amor na pequena e pacata cidade do interior de Seul, me trouxe lembranças boas. E carrega minha última lembrança na casa branca, o jardim com mato alto e as janelas quebradas. Mas nosso balanço ainda pendurada na árvore quase morta.
 
Eu infelizmente te deixei ir sem poder dizer um adeus, um último “eu te amo”. Tomar nossa última garrafa alcoólica, dançar no meio da avenida com nome estranho, e no final ser recompensado mais ainda com uma penúltima risada. Por que eu sei que a última seria quando eu dizer que sinto sua falta.
 
A flor rosa que carregava em mãos deixou a pétala cair, e deixei a lágrima salgada ter o mesmo destino.
 
Por que querendo ou não, aquele seria seu último verão. E eu não sei rir sozinho no verão. Flores rosas não são tão bonitas tanto quanto estavam em sua orelha.
 
Por que, no final das contas, as lembranças dessa cidade são as mais dolorosas.

just... | stray kids.Onde histórias criam vida. Descubra agora