capítulo único

111 14 35
                                    

— Nós vamos realmente sair... Desse jeito? — Jisung arrumou a franja que caía em seus olhos, suspirando por saber que era a única coisa que poderia arrumar, já que a maquiagem borrada e desigual não poderia ser desfeita tão facilmente com um passar de mãos.

— Por que não? Você tá maravilhoso! Vamos, hoje é seu aniversário e temos que comemorar.

— Tudo bem, mas você pode ao menos clarear a cor dessa sombra? Esse vermelho obviamente não combina com meu tom, sério. E que batom  horrível onde que você viu maravilhoso aqui? — Ele não parecia tão calmo quanto de costume e hoje não era exatamente o dia do seu aniversário. Eu não podia estar com ele na data por ser no ano novo lunar, então estávamos indo curtir uma semana depois.

E admito que eu fiz um trabalho um pouco horrendo e ele ficou parecendo um palhaço meio emo. Quase não consegui segurar a risada encarando minha belíssima obra de arte que deveria ser posta numa galeria.

— Vou ter que refazer minha obra prima? — Sabia que no fundo Jisung estava segurando a risada mas preferiu apenas soltar um ar de incredulidade para não me magoar. Adorável, não? — Tudo bem, eu refaço pra você.

Ao ouvir isso ele se endireitou na cadeira e fechou os olhos devagar, lançando a cabeça pro lado uma vez no intuito de arrumar a franja. Mesmo que isso fosse mais uma mania do que realmente uma arrumação.

Passei de forma calma o algodão com demaquilante pela sua pálpebra direita, que tremia com meu toque, o que era agonizante ao mesmo tempo que engraçado. Parecia até que Jisung estava nervoso, por mais que nós dois soubéssemos que não é verdade.

— Sabe algo que acho engraçado? — Comentei.

O som vibrante vindo da sua laringe assinalando que estava ouvindo me fez respirar de forma mais contida, esquecendo por um segundo do que iria dizer.

— Por que está reclamando da cor que você mesmo escolheu pra sombra? — Terminada a primeira pálpebra fui diretamente pra segunda. — Se bem que o batom eu entendo que talvez tenha exagerado um pouquinho.

— Porque queria sentir essa sensação de novo. — O algodão sujou um pouco a sobrancelha pelo meu movimento brusco de surpresa. — Zoeira, eu achei que ficaria legal mas infelizmente suas incríveis habilidades não funcionam comigo. E como assim um pouquinho?

— A culpa é sua que não fica quieto. — Assim que terminei de limpar peguei a paleta junto do pincel, ainda tentando absorver que aconteceu antes. — Qual cor acha que combina mais? Algum tom de amarelo? Azul? E nos lábios?

— Aquele verde que você gosta. — Um pequeno sorriso brotou em seu rosto enquanto eu tentava entender suas intenções. — E você ainda tem aquele gloss verde? De que era mesmo?

— Menta. — Fiquei paralisado, com algumas memórias batendo fortemente em minha porta.

— Exatamente. Menta.

Nós nos conhecemos por acaso perto de um riacho há cinco anos, e fomos descobrir que morávamos no mesmo bairro poucas semanas depois. Ele estava sentado ao lado dos pés de mentas aquáticas que cresciam a beirada, cabelo molhado e com gotas escorrendo pelo rosto, observando as flores lilases e rosadas no meio daquele verde com cheiro forte que chegava até mim pela brisa.

Your Mint « chenji »Onde histórias criam vida. Descubra agora