– Uma carta? - ri com vontade.
– Sim, uma carta, algum problema? - Brian parecia levemente irritado.
– A menos que está carta esteja em braile ou seja alguma conta da casa que esteja em meu nome, sim. - fiz uma pausa mas ele não disse nada. – Não sei se você se lembra, mas seu amigo aqui, é cego.
Brian bufou e ouvi o som do papel batendo contra seu corpo.
– Porque você fala assim? Você está indo atrás da visão e continua agindo como se tivesse passado a vida toda sem ela.
– Eu passei quase a vida toda mesmo. - dei de ombros. – Além do mais, quando expectativas muito altas são criadas, a gente tem maior tendência pra decepção. Você deveria saber disso! Tenho certeza que é científico.
Brian mais uma vez bufou e, simplesmente colocou o papel em meu colo.
– Eu preciso ir pra casa. Taylor está ligando como louca. - de fato, ela estava. Mas ele com certeza não estava nem um pouco preocupado. – A carta não está em braile e o nome do remetente é "não é um admirador secreto", então... dê para a Camila ler e depois me conta do que se trata, estou curioso.
– Se estivesse tão curioso assim, teria a lido para mim quando eu pedi há uns cinco minutos atrás. - provoquei.
– Shawn, vai caçar o que fazer. Tchau, mano.
Ele saiu e em menos de minutos ouvi a porta se abrir pela segunda vez.
– Camila?
– Sim, meu bem. - ela me deixou um beijo na bochecha ao se aproximar do sofá onde eu estava.
– Chegou carta... - ela riu.
– Primeira conta do mês? Somos realmente adultos, não é... - sua voz em tom aborrecido não passava de uma zombaria da qual eu ri.
– Não, de fato é uma carta. O Brian disse que é pra mim mas se recusou a ler. - estendi o papel em minhas mãos para ela que o pegou. – Se você quiser ler para mim, fique a vontade. - dei de ombros torcendo para ela ler. Estava curioso.
– Quem é: "não sou um admirador secreto" - ela prende o riso.
– Bom... - esfreguei a nuca. – Não é uma admiradora secreta. E é só isso que eu sei. - seu riso ecoou pelo cômodo e eu a acompanhei.
– Vou ao quarto deixar minha bolsa e já volto para ler a carta da sua - sua voz mudou para um tom gozador - não admiradora secreta.
Em menos de cinco minutos ela voltou e sentou-se ao meu lado no sofá já rasgando o envelope da carta.
– Realmente não consigo entender porque alhuem madaria uma carta para mim. Quer dizer... eu não posso lê-la, isso faz sentido pra você?
– Sentido não, mas gosto de saber o que mandam pra você...
– Não é como se você não tivesse passe livre ao meu celular.
– Ei, deixe eu fazer meu papel de esposa ciumenta em paz, por favor?
– Tudo, bem. - levantei as mãos. – Estou rendido, você venceu.
Rimos.
– Bom, posso ler? - balancei de maneira positiva a cabeça e ela inspirou antes de ler a primeira frase da carta. – Vocês não devem estar entendendo muita coisa. Aliás, Camila, por favor, me diz que é você quem está lendo?!
– Acho que não era só pra mim então... - ela murmurou um sim antes de recomeçar.
– Não, não vou dizer quem eu sou, pelo menos não ainda. Mas não podia simplesmente ignorar o fato de que um sonho está prestes a se realizar na vida de vocês! Tenho plena certeza de que tudo dará certo e Shawn poderá ver tudo o que não viu um dia. Até breve, sua não admiradora secreta.
– Uou. Eu deveria ficar assustado, não é?! Tipo, cartas assim sem identificação nunca são bom sinal.
– É, você tem razão. Os filmes sempre acabam mal para quem recebe esse tipo de coisa. - ela riu.
– E porque é que eu não estou com medo? - ela pegou minha mão que estava em cima de sua coxa.
– Bom, eu também não estou com medo... não sei o porquê mas, isso não me parece ser coisa ruim.
Franzi o cenho. A pessoa parece conhecer bastante quem eu sou.
– Não é você, é?!
– Como assim?
– A pessoa diz que meu sonho está prestes a se realizar. Pensei que você pudesse estar fazendo alguma coisa por causa dos exames.
– Sinto muito, meu bem. Mas não sou eu. Eu poderia ter pensado em algo assim, seria legal... aí a última carta seria a revelação de uma gravidez - ela ri.
Seria meu maior sonho. Receber uma carta ou uma chupeta ou até mesmo se ela simplesmente chegasse nervosa e despejasse a notícia em meu colo.
A frase "precisamos conversar" se vier seguida de um anúncio de bebê, me faria muito feliz.
– Você está sorrindo.
– Só a ideia de um bebê já me deixa bobo. - acariciei seu rosto.
– Não acha cedo? - ri me jogando para trás no sofá e a trazendo comigo.
– Não. Na verdade não acho. Estamos juntos a mais de dez anos e nunca nos separamos, a única diferença é que agora temos um papel que comprova que somos casados e você carrega meu sobrenome.
– Você quer um filho? Tipo, agora?
Nunca parei pra pensar em tempo. Nem se quer me preocupei em relação a ele. Não tenho pressa em ter um filho, dois ou três. Se vier hoje, eu e Camila temos como criá-lo e, se vier amanhã, também teremos. Não vejo motivos em minha vida para adiar isso. Mas também não tenho certeza se esse é o momento certo.
Estamos em um momento delicado, a próxima consulta acontecerá em menos de dois dias e, dependendo da resposta do médico, será nossa jornada daqui para frente. A questão é: se a resposta for alfo do tipo "Shawn, desiste, você nunca poderá ver outra vez" com certeza eu não iria adiar muito tempo para ter um serzinho como eu ou ela aqui comigo. Mas, se a resposta for algo como "Shawn, a ciência é maravilhosa e, por isso, você vai recuperar sua visão com uma simples cirurgia", talvez seja melhor esperar esse caos passar para que surja outro.
Não que um bebê seja motivo de caos, pelo menos não seria no meu caso. Mas eles exigem mudanças e, se tudo der certo, já teremos mudanças demais apenas com a cirurgia.
– Eu quero filhos. Agora, depois, amanhã, daqui a cinco anos. Não acho cedo. Não acho tarde. Não acho nada. Acho que poderíamos jogar isso ao universo ou a Deus. É, conversa deveríamos jogar isso para Deus. Ele é o melhor em decidir por nós. Tenho certeza que ele mandará nosso anjinho no momento certo.
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Paixão às Cegas.
Fanfiction- Eu nunca quis tanto ver alguém como quero ver você. Se ao menos tivesse te conhecido antes de tudo isso... - Não se preocupe, nós vamos dar um jeito nisso tudo! Dou a minha palavra.