Cadê Betânia?

24 0 0
                                    

     - Mãe, eu quero ir pra Disney!

     - Tá ficando é doida, menina?! Vai fazer tua tarefa, que é melhor. Se estudar, quando for grande, taaaalvez conheça a Disne e o ratão lá, que eu esqueci o nome. – Dona Ninha estava lavando roupa no quintal da casa, jogando, com uma mão, a água da bacia da pia para a peça de roupa que esfregava na pedra, com a outra mão. Betânia, sempre brincalhona, desta vez estava séria, olhando a mãe fazer este movimento repetidamente.

     - É Miquei Musse, mainha!

     - Piorou! Isso é coisa do Cão, menina! Vai logo fazer tua tarefa da escola, senão eu vou fazer você usar meu chinelo como borracha!

     Betânia estava de pé, chupando a água que caía de um dos lençóis que a mãe estendeu no varal. A garotinha estava entediada, e não gostava nem um pouco quando os adultos da casa não lhe davam atenção. Aquela tarde de quinta-feira parecia nunca ter fim, e, desde que chegou da escola, não parava de pensar no Castelo da Disney e em todos os brinquedos que haviam lá.

     Em sala de aula, na manhã daquele mesmo dia, a professora Cecília, do 1° ano do ensino fundamental, mostrou para os alunos os diferentes lugares do mundo, as diferentes culturas e as mais lindas paisagens. Uma das imagens fizeram os olhos de Betânia brilharem, e era justamente a imagem de um castelo entre um parque de diversões e personagens de seus desenhos favoritos chamando as pessoas para entrarem nos brinquedos e se divertirem. Desde então, a menina não parava de pensar naquele lugar.

     Desejou tanto conhecer a Disney, que sonhou estar descendo e subindo em uma montanha russa, ao lado da Cinderela e da Branca de Neve, depois dividindo um algodão doce com o Pateta. Percebeu que era um sonho quando abriu os olhos e ouviu sua mãe mexendo nas panelas da cozinha, fazendo um barulho proposital para acordar Betânia e seus irmãos.

     Desanimada, Betânia se arrumou para ir à escola. Nem quis tomar café da manhã, pois não esquecia de jeito nenhum o seu sonho. Ela morava na zona rural, e todos os dias andava quilômetros para chegar à cidade. No caminho, sozinha, olhava para as moitas e paras as árvores. Era tudo chato! Qual a emoção de morar ali? Nenhuma! Suas amigas eram entediantes, só queriam brincar de casinha, os meninos só sabiam brincar de bater uns nos outros e jogar bola, muuuito entediante, e ficar em casa sozinha era tão fatigante que, só de lembrar da sua rotina quando chegasse em casa, sentia sono. Betânia gostava de aventuras, era enérgica, gostava de se arriscar nas brincadeiras, subir nas árvores mais altas que encontrasse, vivia aprontando. Mas depois de saber da existência daquele castelo, toda a sua vida tornou-se um enorme tédio.

     Na sala de aula, Cecília esperava os alunos sentada no birô, ao lado de uma caixa de papelão do tamanho de uma criança. Os alunos, ao entrarem, estranharam aquela caixa, ficaram observando e criando suposições do que havia ali. Betânia, curiosa do jeito que era, estava roendo os dedos de tão ansiosa.

     - Galerinha, é o seguinte, eu trouxe alguns brinquedos para vocês.

     - Pra gente? É pra aula, né, tia? – Gustavo, com o dedo no nariz, perguntou.

     - Não, Gustavo, é para vocês levarem para casa e brincarem. Lá em casa tem muito brinquedo, minha filha nem usa todos, então decidi doar alguns para vocês. Venham, peguem. – Levantou-se, colocou a caixa no chão e abriu-a. Lá tinha boneca de pano, boneca de plástico, peteca, bola de futebol, bola de tênis, panelinhas, cordas, até lápis de cor e giz. As crianças, todas contentes, escolheram um brinquedo. Betânia pegou um ursinho de pelúcia e passou a aula toda abraçada com o brinquedo.

     - Tia, a senhora tem foto com a sua filha? – Francisca perguntou.

     - Tenho, sim, tem uma foto nossa na minha bolsa, e pra onde eu vou, levo essa foto comigo. – Abriu a bolsa e mostrou a imagem aos alunos. No retrato, elas estavam no quintal da casa, sentadas no chão, sobre uma grama bem verde. Ao redor das duas, haviam vários brinquedos, e ao fundo, uma piscininha. A foto era tão bonita que parecia até cena final de filme, onde há sempre uma família alegre, todos rindo e brincando com a maior espontaneidade.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 21, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Cadê Betânia?Onde histórias criam vida. Descubra agora