Natal com a família Stark

Convite

Atrasado. Eu estava atrasado. Mas não é minha culpa se Nova York está um caos com o final do ano e isso gerou muitos problemas nas ruas. Tantos problemas que ainda sai com uns machucados e um corte no braço, que quase não sinto devido a adrenalina. A única certeza que tenho é que se não morri na loucura das ruas hoje, então será Layla quem vai me matar quando ver meu estado.

Quem é Layla? Pois bem. Layla Stark, filha do Sr. Stark, ou seja, a última pessoa com quem eu deveria me envolver. "Cuidado com a minha filha, garoto". Foi isso que o Tony falou quando me viu conversando com ela uma vez na Stark Industries. Certamente ele me mataria se soubesse que estou indo na casa dele agora de forma sorrateira. Afinal, eu não podia mandar uma simples mensagem dizendo que estava bem, eu sabia que ela só ia se acalmar quando eu estivesse em sua frente.

Chego em sua janela, que já estava destrancada para que eu entre sem fazer barulho, e vejo ela deitada em sua cama dormindo. Fiquei observando ela antes de entrar, estava coberta com os lençóis e estava com a mesma blusa que usou no dia em que nos conhecemos, da banda Led Zeppelin, foi por causa dela que começamos a conversar. Seu quarto com a decoração de Natal e as coisas que ela tinha separado para comermos me fazem ficar mal por não ter conseguido manter minha palavra de novo.

Entrei calmamente em seu quarto para que ela não acordasse e me olhei no espelho.
"Não estou tão mal assim", pensei antes de olhar para o meu braço e ver o sangue grudado na minha roupa. Ela vai surtar quando ver isso. Entrei em seu banheiro e estava lavando meu rosto enquanto pensava em como vacilei com ela. De novo.

Estava na pia com os olhos fechados quando sinto braços passarem pelo meu tronco me abraçando e automaticamente fico em alerta, mas relaxo com seu toque e quando sinto sua bochecha encostada em mim.

- Sem explicações por ter atrasado de novo. Quero saber se você está bem? - ela fala enquanto me viro para encarar seus olhos. Quando ela me vê fica com os olhos preocupados observando meus machucados no rosto, de uma briga, mas eu sabia que essa preocupação não era nada até que ela olhasse para o meu braço e não demorou muito para que eu sentisse ela ficar tensa e seu olhar encarar ele.

- Estou bem - falei abraçando ela e colocando meu rosto em seu pescoço, fazendo carinho em suas costas. - obrigado - beijei seu pescoço e sorri ao ver um arrepio.

Levantei seu queixo e vi que seus olhos estavam com algumas lágrimas. Odeio quando ela chora e odeio mais ainda quando eu causo isso. Passo meu dedo por suas bochechas para limpar seu rosto e beijo sua testa, como uma promessa de que eu estava bem. Mas ela sabe que eu quebro minhas promessas e que meu braço estava doendo.

- Você não tem jeito e ainda vai me matar do coração, Parker. - falou e me abraçou com um pouco mais de força para ter certeza de que eu estava ali, mas deixei escapar um gemido de dor quando ela apertou minha costela, fazendo com que rapidamente se afastasse.

-Posso tomar banho aqui? Preciso limpar meu braço e depois se você ainda quiser podemos assistir os filmes. - falei e ela rapidamente concordou e me entregou a tolha. Enquanto eu tomei banho ela foi pegar as coisas de primeiros socorros. Quando sai ela estava me esperando e me entregou uma calça moletom minha que tinha lá.

- Nova York está uma loucura né? Passou algumas coisas no jornal e fiquei preocupada com você - falou enquanto me examinava dos pés a cabeça, o que me lembrou da primeira vez que ela fez me obrigou a tirar a blusa pra cuidar de um machucado na barriga.

- A loucura das festas de fim de ano. Não quero imaginar como será na virada. - falei e suspirei quando ela passou a pomada em um roxo em meu peito.

- Peter.. - ela começou a falar mas parou e mexeu a cabeça com se estivesse espantando um pensamento.

- O que foi? - perguntei e levantei seu rosto para que ela olhasse nos meus olhos - O que você ia falar?

- Só queria saber se você vai ficar fora nas festas - falou em um sussurro e percebi que ela queria falar algo mais.

- Não. Vou ficar com a May, mas se acontecer algo que precise da minha ajuda talvez eu esteja por perto. - falei e vi ela soltar um suspiro - eu sei que você não gosta que eu faça isso, ok? Mas.. - ela me interrompeu.

- Você é o amigo da vizinhança, Peter, já sei. É só que... - começou a falar e parou de novo. Eu sei que ela quer me falar algo.

- O que você quer me falar, Layla? - falei e peguei sua mão e a beijei. - Fala o que aconteceu, amor.

- Eu só pensei se podíamos passar o natal aqui em casa... juntos - ela falou diminuindo o tom de voz como se eu não pudesse escutar o final. Juntos. Não me leve a mal, eu quero muito passar o natal com ela, mas os pais dela não sabem sobre nós.

- Você sabe como eu queria passar o natal aqui, mas os seus pais não sabem de nós e... - ela me interrompeu de novo.

- Eu sei, foi só uma suposição. Não leve a sério. - ela falou e me deu um sorriso forçado enquanto cuidava do meu corte no braço, mas percebi como ela ficou chateada. - como foi isso? - perguntou fazendo o curativo querendo mudar o assunto.

- Não se preocupe com isso, mas não tente mudar de assunto - olhei pra ela buscando seus olhos - Você sabe que posso aparecer depois da meia-noite e aí... - ela me interrompeu novamente. Hoje está difícil falar com ela.

- E ai você vai chegar machucado para que eu cuide de você? Ou vai entrar pela minha janela escondido como fez hoje? Vai prometer que vem aqui, mas não vem? Peter, eu pensei em convidar você e a sua tia para passarem o natal aqui para que você entrasse aqui pela porta, para a gente conversar em um tom de voz normal e para que, pelo menos uma vez, eu não tivesse que cuidar dos seus machucados. Eu não estou reclamando, mas é que eu pensei que podíamos passar o natal juntos, como um casal de amigos, namorados. Parker, eu nem sei o que somos. - algumas lágrimas estavam no seu rosto quando ela terminou de falar e foi ao banheiro.

Fiquei parado no mesmo lugar. Eu sabia que era difícil pra ela tudo isso, mas eu não sabia o quanto. Ela realmente entendia isso de ser o "amigo da vizinhança", afinal quando nos conhecemos eu já fazia isso, mas agora ela sente mais porque se importa comigo.

- Amor - falo entrando no banheiro e vejo ela guardando suas coisas e me entrega um remédio pra dor que logo tomo - eu realmente quero passar o natal com você. Quero fazer tudo isso que você falou agora, mas seus pais não sabem da gente ainda e eu tenho medo de que quando eles saibam queiram que a gente se separe e, caramba Layla, eu sou muito egoísta e não quero perder você. Mas também não quero que você se machuque por minha causa. - falei enquanto ajudava ela a guardar suas coisas.

- Eu não vou me machucar, Peter. Eu não caio fácil - falou e me deu um sorriso de lado, saindo do quarto e deitando na cama

- Eu sei que não - ri e me deitei ao seu lado. Por isso que nos damos tão bem, sempre conseguimos amenizar o clima quando fica tenso. - ainda quer assistir os filmes? Aposto que você dorme antes da metade do primeiro. - perguntei e ela concordou rindo e colocou em um.

Estavamos abraçados assistindo o filme e eu fazia círculos invisíveis em seu braço enquanto olhava pela janela do seu quarto e podia ver a neve caindo, lembrando de como ela gosta dessa época do ano. Ela ama o natal e está me convidando para passar essa data importante com ela e eu estou com medo de conversar com o pai dela sobre isso. Quer saber? Ela merece o melhor natal de todos e se eu tiver que falar com o Sr. Stark sobre nosso relacionamento, então vou fazer isso.

- Ei - falei e virei seu rosto para olhar nos seus olhos para que ela tenha certeza do que estou falando - eu e a May vamos passar o natal aqui, ok? - dei um beijo em sua testa.

- Você nunca cumpre suas promessas, Parker. Por que essa vai ser diferente? - levantou uma sobrancelha em desafio.

- Chegou a hora de aprender a cumprir. - ela deu um sorriso e me beijou e percebi como sou apaixonado por ela e que nunca sei como demonstrar isso.

Quando vi que ela estava dormindo, me levantei da cama e desliguei a TV, mas antes de sair pela janela deixei um bilhete.

"Esse natal será incrível."