《5》

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Algo aconteceu. Uma voz. Ela foi escutada.

Yuna sabia, ela havia sentido.

Naquele lugar abafado e sem ventilação. A Allen conseguiu sentir a presença da misteriosa criatura. E pela primeira vez depois de ser expulsa de sua casa, um sorriso havia se formado em seu rosto. Depois de ouvir as lanças serem levantadas, nenhum barulho foi ouvido mais. A duplicata ficou ali por mais alguns minutos, dolorosos minutos. E como pensara que aquele sentimento fosse o último que iria sentir, ela não se preocupou em se mover um pouco mais para ver se eles fariam alguma coisa. Ela estava apavorada, mas isso nem é o terço de sua vontade de viver sem nenhum sofrimento. Em Willik, eles acreditavam que existia sim a vida após a morte e seria algo bom caso fizesse todas as obrigações e que tivesse um bom coração. Yuna sabia que ela era boa o suficiente para poder correr pelos campos e andar pelas grandes florestas infestadas de flores e frutas, ou até mesmo por cima das nuvens sem que pudesse cair nenhuma tempestade, ela sabia que era uma excelente pessoa e que poderia achar o seu verdadeiro lar. E ela sabia que Willik, o mundo dos humanos, nunca te pertenceu.

Depois de um tempo sentindo medo de que algo pudesse matá-la e que poderia trazer uma dor insuportável, ela desistiu de se esconder. Não era mais preciso, ela já estava morta por dentro.

Ela se despedia de Dmitry, de seus pais… Uma longa despedida em sua mente.

“Agora irei me juntar aos Ballard, minha tia Valentina me espera sobre os altos muros invisíveis e inquebráveis.” - Será que isso seria as últimas palavras em sua mente? O seu último pensamento?

Em baixo de todo aquele entulho, ela saía devagar.

Bem devagar, a espera de que a qualquer momento iria ser atingida pelas lanças bem no peito. 

- Eu me rendo! - Ela estendeu as mãos para cima e continuou com a cabeça baixa. O silêncio ainda prevalecia, até que um cheiro insuportável invadiu as suas narinas. Queimado…

- Não irá atirar? - Ela perguntou, mas ninguém havia respondido. Yuna estava com medo. - Eu não quero olhar para vocês enquanto me torturam e acabar de uma vez com a minha vida, não quero sentir raiva de nenhum ser caso eu morra agora. Quero ir em paz sem nenhum sentimento ruim. Podem fazer isso? - E nada. - Vocês cheiram mal… - Ingênua. - Eu não gosto de despedidas, então não pensem que eu diga as minhas últimas palavras porque não são pra vocês! - Ela gritou como nunca havia gritado. Ela estava chorando.

“Que os deuses avisem o Dmitry sobre os meus últimos pensamentos…” - Mentalmente ela dizia. - “Qual era o verdadeiro sentido daquelas palavras que se repetiram em minha mente como um sussurro… bem lá no fundo…” - Lembre-se Yuna, você consegue! - “Ele dizia para mim… O que realmente sou, mas não me lembro mais! Repita por favor…”

Não teve resposta mas ela tinha sentido algo a mais naquele local, algo quente e feroz e cheio de sentimento bem atrás dela e passando por cada espaço. Ele não estava lá, mas o laço poderoso sim.

- Eu sou uma idiota…- Yuna dizia para ela mesma em alta voz. - Como posso me render dessa forma! Quem eu sou? - Ela chorava como uma criança. - Atirem! - Ela rugiu. - Atirem agora! - E nada. - Eu mandei atirar! - E finalmente levantou a cabeça, o cheiro havia ficado mais forte e a sua vontade de vomitar tinha se manifestado quando olhou a vista da casa abandonada.

Os dois soldados estavam mortos, totalmente queimados e expostos. Já não tinham mais pele, dava para ver os ossos completamente à mostra. Saía fumaça pelos restos das roupas incendiadas e também pelos restos mortais. Penetrando no ambiente de uma forma misteriosa, com uma certa rapidez. As paredes estavam escurecidas devido ao fogo que tinha aparecido sem ser visto ou sentido. Yuna não teve forças para pensar, paralisada ao ver aquela cena, ela pensava em como isso poderia ter ocorrido. Isso seria um sinal? Ele realmente a ouviu?

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