Prólogo - A fera.

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Meu julgamento foi errôneo? Todos os olhares atônitos, declarações assustadoras, estas que aparentavam serem derivadas dos piores pesadelos ou dos piores contos de terror, e compaixão para com a minha situação. Para isso?

– Kuro, essa meio-fera é a sua última oponente.

Disse a figura de olhos negros e de chifres retorcidos, Aisleem, enquanto apresentava à garota.

Olho minha oponente de baixo para cima, como quem analisa algo, me encontrava desacreditado com a situação.

Se tratava de uma garota com aproximadamente 1,50 de altura, corpo com poucas curvas e tinha uma pele escura clara que se destacava mais do que o normal graças as suas roupas leves as quais possuíam uma predominância da cor branca, o qual favorece seu corpo definido. Longos cabelos loiros escuros trançados das raízes às pontas que passavam de sua cintura, só não possuía tranças próximas de suas orelhas bestiais. Estas que junto a sua cauda também possuíam a mesma cor dourada, mas com um leve tom acinzentado.

Ela possuía cílios e olhos grandes, estes possuíam um tom de âmbar. O que lhe proporcionava um olhar hipnotizante e imponente que não combinava com seu rosto de feições fofas e de lábios finos e delicados.

Não pude evitar de ficar cativado por uma beleza que nunca havia visto em minha vida, uma verdadeira beleza exótica.
Não compreendia o porquê dessa linda e fofa garota carregar tamanha má reputação e medo dos habitantes desta vila, talvez tudo que escutei até agora não passasse de boatos, sim, São apenas boatos, essa garota não aparenta ser uma fera sanguinária, assim como eles fazem parecer.

– Carly? Você entende o que está em jogo, não é?

– …  — Seu olhar de desdém não combinava com seu rosto.

– Já que entendeu poderia se posicionar?

A garota permaneceu calada, não direcionou nem sequer um gesto para Aisleen, tal frieza era assustadora, principalmente vindo de uma garota tão fofa.

Fui obrigado a participar desta atração de mau gosto, usado como entretenimento deste povo sanguinária, chantageado pela promessa que fiz e persuadido a machucar dois mestiços, mas isso é a gota d’água, não posso lutar contra essa garota, não posso machucá-la, preciso parar isso.

– Aisleen, isso já passou dos limites…

Minha fala foi interrompida pela figura da garota, está que caminhava lentamente pelo chão barrento da arena, seus pés descalços foram de encontro a poça de sangue que estava em seu caminho, este que pertencia ao meu oponente anterior, ela passou pela cena grotesca como se não fosse nada, além de ter tingindo seus pés com o vermelho intenso, assim espalhando o tom da vida e seu cheiro ferruginoso até o centro do ringue.

Tampei minha boca com uma das mãos, meu corpo foi tomado por um arrepio e minhas entranhas gelaram com a cena inesperada, meu ser anteriormente recusava a possibilidade dos boatos serem verídicos, mas, tal cena, cravada em meu consciente, confirmava que essa garota chamada “Carly” se tratava de uma criatura sem pudor ou compaixão.

Como quem sentisse minha aflição e a da plateia, um sorriso de deboche aflorou em seu rosto, parecia estar se divertindo bastante com o incomodo alheio e os murmúrios daqueles que reforçavam seus feitos atrozes.

– Kuro? Vá para o centro para que possamos começar.

As palavras de Aisleen me arrancaram de meus pensamentos e fizeram com que meu corpo, por algum motivo, fosse de encontro a Carly; minhas pernas tremiam e sentia que elas poderiam ceder a qualquer momento, o suor escorria por minha testa e esse fluido salgado incomodava meus olhos, e minhas feridas latejavam, gritavam por um tratamento mais adequado do que só cobri-las com ataduras.

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