Primeiro dia

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(Pela visão de Maria Lúcia)

6h30min meu alarme toca ao som de Elliot Moss, ele é um cantor do qual gosto há muito tempo; minhas aulas começam hoje e estou ansiosa para conhecer a Universidade.

Minha aula começa às 9 horas, mas, gosto de me exercitar no período da manhã, então resolvo correr na esteira da academia do condomínio para não arriscar atrasos no primeiro dia de aula, visto que depois de quase um mês de adaptação em São Paulo, pude notar que o trânsito daqui é mais caótico do que o do Rio De Janeiro. Após uma hora de exercícios físicos, tomo banho e escolho uma camisa branca, um sapato simples e uma calça jeans para vestir no primeiro dia de aula, faço minha higiene matinal e vou em direção ao meu fusquinha.

Após cerca de quarenta minutos cheguei a faculdade, bem em cima da hora, mesmo me organizando antecipadamente, devido ao tráfego intenso da cidade. A sala era gigantesca, mais de 50 alunos, muito maior do que estava acostumada no ensino médio, já que minha sala tinha 20 alunos e olhe lá, entrei rapidamente e resolvi sentar no meio, não muito atrás para não parecer desinteressada, ou, na frente para não parecer puxa-saco. Onde desse para eu enxergar os professores e o quadro branco.

- Bom dia! Agora vocês deixam a vida escolar e começam a profissional! Lembrando à todos que vocês não são doutores e sim, médicos. Doutor é só quem possui doutorado. Apesar de não me agradar muito, chamar médico de doutor é socialmente aceitável. A propósito, meu nome é Alice Ruggiero Bittencourt, leciono a matéria de neurologia aplicada. Por favor, apresentem-se.

Depois do que me parecia um tempo interminável, por estar muito nervosa em falar em público, pois, era algo que eu tentava evitar ao máximo por me sentir desconfortável, chegou minha vez. - Olá, me chamo Maria Lúcia Giordano, vim do Rio de Janeiro para cursar medicina. Falei tudo meio rápido e lento, não sei ao certo, tudo parecia uma câmera lenta.

Depois de todos da classe se apresentarem, a senhora Ruggiero pediu um trabalho em grupo para dali dois dias, resolvi ficar quieta na minha até sobrar um grupo onde eu pudesse me encaixar.

- Ei! Garota?

- Hum... Oi? É comigo? Desculpa eu estava distraída.

- Sim, você quer se juntar comigo e o Luiz para o projeto? Uma garota ruiva falava.

- Pode ser sim. Obrigada.

- Aliás, me chamo Victória.

- Está bem, pessoal. Grupos já definidos? O trabalho será voltado para um livro ou artigo científico, que tenha a ver com neurologia e vocês apresentarão sobre daqui dois dias, para os seus colegas. E também conversarei com cada grupo hoje até 14 horas para explicar minuciosamente sobre o que eu quero que seja feito. Doutoura Alice Ruggiero Bittencourt,  falava.

Doutora, pois ela de fato merece a nomenclatura, possui mestrado, doutorado e pós-doutorado, ela é Phd na área dela. Então me dou o luxo mentalmente de chama-la de doutora, explicitamente falo senhora ou professora, gosto de notas mentais, assim como estou fazendo agora.

O nosso grupo foi o último, e apesar de eu ter tomado um café da manhã reforçado, já estava com fome, por sorte trouxe uma goiaba para alguma eventualidade e ela me ajudou a fazer meu estômago parar de roncar. Sinceramente, gostaria de ter ido para casa almoçar, para conversar com os gêmeos sobre o primeiro dia de aula, mas, era muito  longe e eu não sabia em qual momento meu grupo seria chamado para discutir sobre o trabalho solicitado.

-  Vocês já decidiram o tema que abordarão?

- Então, Alice, nós ainda não decidimos. Mas, enviaremos um e-mail, logo mais. Luiz disse. Ele é o típico garoto que acha que todos aceitarão o que ele disser pela lábia, ou aparência que tem. O galanteador do ensino médio, que tem quem quer ou o que quer na hora que bem entender.

Eu não sabia como disfarçar meu constrangimento pela forma que Luiz falou com a professora, então  respirei fundo e tomei à frente da situação. - Desculpe, Sra. Ruggiero. Nós iremos abordar sobre "Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento."

- Tudo bem, obrigada. Estão dispensados. Aguardo a apresentação na próxima aula.

(Pela  visão de Alice Ruggiero Bittencourt)

Primeiro dia na USP, dessa vez como professora. Eu estava em êxtase, porque essa faculdade me moldou a profissional que sou hoje. Cresci em São Paulo e me formei aqui, deixei a cidade apenas quando recebi a proposta da Universidade Federal do Paraná para lecionar em Londrina, era uma oportunidade de alavancar a carreira, então passei dois anos por lá, mas assim que o diretor da Universidade de São Paulo me ligou não pude recusar a oportunidade.

Depois de uma saudosa conversa com o diretor, sobre os tempos estudantis. Ele me passou minha grade curricular, agora como Mestre e Doutora; lecionaria três vezes por semana e apenas para a turma do primeiro ano.  Tenho 33 anos, sou a professora mais próxima por idade dos meus alunos, visto que, a maioria dos professores possuíam mais de 60 anos, e outrora foram meus professores também. Por causa disso, me esforçaria ao máximo para mostrar que sou uma profissional que exige muito respeito e autoridade, não criarei laços íntimos de amizade com nenhum dos alunos, ao menos nos primeiros meses de aulas, para eles não se sentirem no direito de questionar meu profissionalismo.

A classe era bem grande, olhando de forma geral tinha facilmente mais de cinquenta alunos. Logo no início da aula pedi para que todos se apresentassem, assim facilitaria eu descobrir o nome de cada um e decorar, também passei um trabalho bem elaborado na primeira semana de aula, assim descobriria quem realmente tá interessado com a profissão e os que não estão.

Para explicar melhor, deixei se organizarem em grupo de três e explicaria individualmente para cada um melhor sobre o trabalho. Dentre todos, o último grupo me surpreendeu positivamente com a inovação do tema, já que quase todos os outros grupos abordariam sobre o mesmo assunto. Mas, o Luiz, achou que já era meu amiguinho e esqueceu de ser um profissional mais respeitoso, me mantive de forma neutra, para não dar nenhuma abertura, mas observei as outras duas integrantes, Victória que não demonstrou nenhuma surpresa no jeito que Luiz falou e Maria Lúcia, que ao observa-la sua expressão ao mesmo tempo que mostrava um inconformismo, também era de raiva. Logo ela se pôs à frente da situação e de uma forma muito profissional se desculpo e voltou a falar sobre a temática do trabalho. Admirei muito a postura dela.

Estou animada para ver todas as apresentações, principalmente referente ao último grupo. Malu, como a chamo mentalmente, possui um certo nervosismo ao falar em público, observei isso na hora da apresentação para a turma, espero que ela se dedique para que não comprometa a apresentação e ao seu grupo.

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