Táxi

8 1 0
                                    

(Pela visão de Alice)

Acordei às 6 horas, por estar inquieta e preocupada com a Maria Lúcia e tudo que aconteceu ontem. É difícil eu acordar esse horário, mas, se dormi duas horas na noite anterior foi muito.

Resolvo tomar um banho gelado, para ficar menos inquieta, faço meu café, entretanto não sinto fome, por estar muito preocupada.  Mesmo que eu compreenda tudo sobre neurônios e nervos, não consigo controlar minha insegurança com o corrido e minha angústia.

A grade atualiza de 2 em 2 semanas, hoje o primeiro ano irá me conhecer como a professora da matéria de Sistema Nervoso Aplicado, ou para facilitar SNA. Entrei na sala 307, o chão de madeira brilhava e fazia um barulho irritante na minha percepção.

- É a Dra. Ruggiero, caramba ela tá muito gata hoje! Escuto uma voz masculina falar em alto e bom tom, mas dessa vez não era o Luiz.

Finjo que não escuto e apresento a aula, escrevo meu nome no quadro porque sempre tem um ou outro perdido. Assim que escuto a voz da Victória cochichar com alguém eu dou uma olhada, mas vejo que ela conversa com Luiz e não vi Maria Lúcia ainda.

Não queria procurar ela pela sala pois seria  nítido para todos e podem me achar anti-profissional, entretanto algo na minha mente insistia que eu averiguasse a presença dela ou não na aula.

Resolvi verificar meus e-mails e percebo uma sigla diferente, GM. Não fazia ideia de quem era, mas, resolvi abrir para descobrir sobre qual assunto se tratava.

" Olá, Sra.Ruggiero. Peço desculpas por usar outro e-mail, mas, o da universidade, por faltam motivo não está funcionando para eu enviar e-mails, tantos respostas, como novos. Meu muito obrigada novamente, por toda assistência e hospitalidade. Me desculpe qualquer coisa. Atenciosamente, Maria Lúcia Giordano."

Olhei por cima do computador para ver se achava ela em minha sala de aula, e notei que estava de óculos de sol, porém, a utilização de óculos solar, me incomoda porque pra mim demonstra desinterne e preguiça.  Após, todos entregarem os exercícios solicitados, falei em alto e bom tom, para não soar antiético.

- Maria Lúcia, preciso conversar com você no final da aula, sobre o exercício anterior, já que, a maioria dos exercícios possuíram uma contradição. Era mentira, mas, foi a forma que encontrei de conversar com ela.

, Por que assistiu minhas aulas de óculos escuros? Eu não gosto que o utilizem em sala.

- Desculpe-me, Sra.Ruggiero, eu fui separar uma briga que meus irmãos mais novos se envolveram.

- Pode me chamar de Alice... Está tudo bem...

- Acho melhor não, mesmo que estamos a sós. Não na faculdade, pois prefiro manter o profissionalismo.

- Você quem sabe, mas tem certeza que foi por isso que veio de óculos?

- Tenho sim, não irá se repetir. Sinto muito. Já vou indo.

Seguro o braço de Malu, de forma que ela virasse seu corpo pra mim antes de sair e a vejo franzir a testa em sinal de dor. Então analiso mais calmamente  e vejo uns roxos recentes em seus braços. Ela coloca os óculos escuros em cima da cabeça, assim que falo que estou incomodada e até eu pegar ela pelo braço não vi nada no rosto, apenas uma expressão neutra e os olhos parecendo cansados, no momento imaginei que era alguma noite mal dormida, mas não iria me meter na vida pessoal dela. Porém, pensei assim até ela franzir a testa e eu analisar os machucados.

Falei com uma voz mais leve, acariciando o braço dela com o polegar e perguntei novamente -  O que houve?

- Eu fui ajudar meus irmãos só isso, estou atrasada, preciso realmente ir.

Alice sentia que era uma outra coisa e Malu sabia o que tinha acontecido dentro daquele táxi na noite em que deixou a casa da professora, ela decidiu não aceitar o convite do homem a dar uma volta mais longa para o caminho à sua casa sem ser cobrada a mais e ele a segurou de maneira forte e bruta, se não fosse os esportes que praticava, como lutas marciais,  aquilo iria ficar muito pior.

- Malu, pode falar o que houve, jamais irei julgar.

- Eu já falei Sra.Ruggiero. Desculpa a forma grosseira, mas eu realmente estou atrasada.

Apesar da voz firme, seu timbre tinha som de tristeza. Assim que ela foi caminhando até a porta, vi que passou a mão em seus olhos como se tivesse chorando. Meu coração sentiu um aperto, tinha que me aproximar dela para entender melhor o que houve. Mesmo, eu jurando pra mim mesma que não iria me tornar amiga de ninguém para não parecer antiético e sem profissionalismo, eu queria me tornar amiga de Maria Lúcia. Será que devo seguir minha intuição e me tornar amiga dela, ou, continuar com meu profissionalismo sem me envolver? Estava travando essa batalha dentro do meu subconsciente.

Medicina por amor ou com amor Onde histórias criam vida. Descubra agora