Capítulo 30

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Natasha Bastos

Durante o percurso até sei lá onde estamos indo, penso em mil coisas que eu poderia fazer caso ele tentasse me matar...
não seria tão extremo assim, ou seria?

   — Fala comigo, me distrair para que eu não faça besteira. -ele fala ríspido-

   — O que é besteira pra você?

  — Meter o carro numa ribanceira seria uma boa. -Ele começa a rir, depois limpa novamente o nariz com as costas da mão-

   — João! -aperto forte o estofado do carro-

  — Estou brincando. -ele me olha rápido- calma, por que tem tanto medo de mim assim?

  — Só pode estar brincando. -reviro os olhos-

Ele estaciona o carro no meio de um matagal, se eu fosse morta ali, demoraria uns três anos pra me encontrar.

   — Pra que tão longe assim da vida urbana? -forço uma piada, já estava começando a soar frio-

   — Gosto de vim aqui pra pensar, sabe? -ele se vira pra mim e termina de desligar o carro-

  — Entendi... -sorrio e ligo a luz da frente, pra não ficarmos totalmente no escuro-

  — Olha, eu entendo que te assustei e tudo mais, mas eu realmente gostaria de tentar do início sabe...

    — Ah. -não retiro o sorriso forçado da boca-

   — Não vai falar nada? -ele invoca-

  — Não é isso, João. -passo a mão pelo meu rosto- minha opinião é contrária da sua, sabe?

   — Não, me explica você. -ele cruza os braços e me encara-

  — Não acho que combinamos em alguma coisa como namorados, mas sim como somente amigos... -continuo- como por exemplo, eu gosto de pessoas normais e você é meio louco. -começo a rir mas ele permanece ali parado sem expressões-

  — Não brinque com isso, por favor. -ele se explica com movimentos nas mãos- vai continuar trabalhando pra mim? Não vai?

  — Nã...

  — Lembrando que você tem um contrato, claro. -ele me corta no ato, e eu tenho que aceitar-

  — Não, claro que eu continuaria, não é pra tanto assim. -solto um riso pelo nariz e desvio o olhar-

  — A gente podia ir tentando aos poucos, o que acha? -ele segura minhas mãos- por exemplo, quando quiser sair, você fala e saímos, até estarmos bem pra um relacionamento? O que acha?

   — Mas eu já disse que...

  — Que bom que você aceitou. -ele me puxa pra um abraço- Sinto que sem você eu cometeria alguma loucura contra a minha vida. Eu amo você, sabe disso.

Só consigo segurar um sorriso mais forçado do mundo no rosto enquanto ele vomita tudo que planejou para o nosso futuro, ele tinha dificuldade em aceitar um não.

   — Você poderia me deixar em casa? Já está tarde. -falo alto para que ouvisse-

  — Claro, claro. -ele sorri e liga o carro novamente- não estou longe do seu prédio, parei por aqui perto pra isso mesmo.

Só balanço a cabeça como concordância e observo a paisagem passar pela janela do carro.
Realmente não demora para que finalmente ele me deixasse em casa, finalmente.

    — Obrigada. -retiro o cinto e ele segura meu braço-

  — Quer que eu suba pra dormir com você? Poderíamos reorganizar os planos e não ir trabalhar amanhã, se quiser. -ele abre um sorriso doce-

𝐎 𝐬𝐢𝐧𝐜𝐫𝐨𝐧𝐢𝐬𝐦𝐨 𝐝𝐨 𝐧𝐨𝐬𝐬𝐨 𝐨𝐥𝐡𝐚𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora