Eram dois jovens boêmios, levemente embriagados por mais uma costumeira noite de farra no bar favorito da pequena cidade. Como bons andarilhos noturnos, cantarolavam trechos musicais e saudavam velhos poetas, tendo como companhia a lua tímida por entre as nuvens e alguns gatos pardos nos telhados.
Passando por um beco, estremeceram ao som de um grito.
Ficaram aterrorizados, não só pelo som ouvido, mas por ser aquele local. O beco era famoso na cidadezinha pela lenda que o cercava. Diziam os antigos que, na madrugada, gritos monstruosos se faziam ouvir e que o melhor seria manter uma distância segura dali, pois casos de desaparecimento ao entrar ou cruzar ele durante a noite, eram sempre contados.
O medo tomou conta de um dos rapazes, que comentou com o amigo sobre a história do beco e o chamou para sair dali.
Com ar de coragem e o álcool inflamando a mente, o amigo respondeu que seria o primeiro a entrar e sair daquele lugar, acabando assim com a lenda. Dito isso, se apressou no seu andar trôpego e foi engolido pelas sombras do beco.
Apavorado, o rapaz viu seu corajoso amigo sumindo para dentro da rua sem saída e, sem saber o que fazer, apenas chamou e esperou sua volta.
Alguns minutos se passaram e nada aconteceu...
A agonia da espera fez o jovem agir. Ele respirou fundo e caminhou para a entrada daquela rua misteriosa. Acendeu o isqueiro. Uma luz, mesmo que fraca, lhe dava um pequeno conforto. Enquanto andava, sons que não entendia se mesclavam a peças que seus ouvidos, agoniados pela situação, pregavam.
Até que viu algo, lá no fundo, se movimentando, grudado em uma das paredes laterais. Fixou o olhar e percebeu que não era um vulto. Aquilo era tão negro quanto a noite e maior do que um homem. Respirava pesadamente e se agarrava na parede sem tocar o chão.
O choque foi grande. O isqueiro lhe caiu das mãos e tudo se tornou escuridão.
O rapaz andava para trás, de costas, sem saber o que era aquilo, até que ouviu mais um grito, dessa vez acompanhado de flamejantes olhos amarelos que o encaravam, fixos.
Não houve corrida, não houve reação, não houve nada. Só o tempo curto de entender que aquele grito era na voz conhecida do seu valente amigo, mas que saiu daquela criatura de olhos amarelos, últimas cores que aquele rapaz apavorado viu antes de desaparecer na escuridão sem saída e nunca mais ser visto.
E foi assim que os companheiros conheceram a noite eterna daquele lendário e temido beco.
Dizem que seus lamentos se fazem ouvir aos mais corajosos que dão alguns passos rua adentro. Alguns juram ver uma grande sombra negra esperando os mais desafiadores chegarem ao fundo.
Lenda ou não, a criatura permanece lá, de olhos amarelos penetrantes e gritos que pertencem a cada alma que se encontrou com a escuridão do temido beco.
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O Beco
HorrorO ar noturno sempre carrega mistérios e lendas antigas. Hoje te convido a conhecer o beco, um local misterioso e assustador, que se transforma quando a noite chega. Cuidado ao tentar entrar, pois quem entra não sai. O que tem lá dentro? A quem pert...