Passo o dedo pelo interruptor ouvindo o click baixo que permite que a luz do meu quarto deixe o cômodo mais aconchegante. A leve iluminação de cor azul se torna o suficiente para deixar as paredes metálicas menos frias e sombrias.
Eu gostava daquela tonalidade em específico, azul royal. Meu trabalho sempre foi tão sério, que o sutil tom azulado me ajudava a achar meu cantinho um lugar melhor.A linha de meus pensamentos melancólicos acaba me levando a encarar a foto dos 9 tripulantes que aceitaram trabalhar, por tempo indeterminado, na Estação Espacial na qual eu atualmente chamava de lar. Dos nove jovens adultos sonhadores que posavam para a foto um dia antes do foguete decolar, apenas 3 estavam vivos: eu, Orochimaru e Naruto.
Encosto minha cabeça no batente da porta eletrônica, empurrando para o fundo do meu peito a torrente de sentimentos que ameaçavam aflorar bem ali naquele momento. Eu não podia me dar ao luxo de perder o foco logo agora que eu já havia feito a parte mais exaustiva de meu plano. Então me concentro ao máximo nos objetivos que eu tracei em minha cabeça assim que acordei no meio do que, aparentemente, se tornara a madrugada mais perturbadora da minha vida.
Me sento na cadeira da minha escrivaninha completamente exausta. Meus braços tremem sem parar, provavelmente por causa do esforço físico exagerado que eu tinha acabado de fazer ao arrastar um corpo com mais do que o dobro do meu peso até uma das naves de emergência. Respiro fundo ainda encarando minhas mãos que pareciam mais brancas que o normal; mais brancas do que a total falta de sol que eu sofria por causa dos três anos que já havia passado trancafiada dentro da Estação Espacial Kyuubi.
"Eu preciso me acalmar." Falo comigo mesma como se fosse uma prece. O ar do meu quarto parece escasso e, de repente, a luz azul não parece ser o suficiente para me manter serena.
Ao passar minha mão pelo meu pescoço numa tentativa falha de me aliviar, percebo que o excesso de cabelo me incomoda profundamente. Então, de repente me vejo dominada pela vontade súbita de cortá-lo.
E assim, como todas as decisões que eu tinha tomado em minha vida, decidi, de rompante, procurar a tesoura e mudar meu visual. Não havia uma justificativa, eu simplesmente funcionava daquela maneira: pensava em algo e mudava de opinião muito rápido. A maioria das pessoas que me conheciam diziam que nunca sabiam o que se passava dentro da minha cabeça.
Na maioria das vezes, eu também não.
Sasuke costumava me chamar de "estouvada". Lembro-me que quando ouvi aquela palavra pela primeira vez eu tive que procurar seu significado online, o que gerou risos por parte dele... E eu adorava quando Sasuke sorria.
Depois de abrir praticamente todas as gavetas e compartilhamentos da minha cômoda e armário, achei uma tesoura sem ponta de porte médio. Ela não parecia nada profissional, poderia inclusive ser facilmente classificada a uma tesoura infantil, mas ia ter que servir.
Volto para minha escrivaninha e preparo um espelho meia boca, apenas grande o suficiente para que eu conseguisse ver todo o meu rosto e me ponho a cortar as mechas do meu cabelo rosa.
Encaro meu reflexo e meu cabelo liso, extremamente liso, me lembrando o quanto ele sempre me incomodou porque sempre parecer estar igual. Quase nunca os fios ficavam despenteados ou fora do lugar, o que me impulsionava a pintá-los de tempos em tempos de várias cores para que eu me sentisse, de alguma forma, no controle.
Porém, desde que eu me mudei para o espaço, meus cabelos eram oficialmente cor de rosa. Acho eu tinha parado de mudar a cor porque eu tinha me encontrado na cor rosa pastel. Eu parecia 'mais Sakura' depois do dia que eu me vi meu rosto fino contornado pelos fios rosados.
Então, com a ajuda de um pente, divido meu cabelo ao meio pleníssima de que eu não faço a mínima ideia do que eu estou fazendo. Mesmo assim, mantenho a calma ao ver os fiapos rosas claros caírem em meu colo contrastando com minha calça preta.
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Entre dois universos
Fanfiction~As estrelas iluminam a escuridão noturna e juntas, formam uma constelação. Qual a sua? Presa no espaço há mais de três anos... Não que eu sentisse saudades de casa ou saudades da Terra, mas eu sentia saudades de Sasuke. Um tipo de saudade tão doída...