Ana
*2008*
A cantora italiana acaba a música e abre os olhos. Encontra a todos na roda com seu olhar esperto, quando chega nos meus, para por alguns instantes. Aproveito a deixa:
- Canta de novo! Por favor!
Ela sorri
- Essa de novo?
- Não, pode ser outra sua..
- Ok.
Ela toca mais uma música e eu fico tão... Apaixonada por suas canções que tenho vontade de pedir uma melodia, afinal o sarau servia mesmo para fazermos parcerias.
A Italiana se levanta e se dirige à cozinha e eu prontamente a sigo.
- Oi, gostei muito das suas músicas! Sou a Ana - estendo a mão animadamente, ela sorri e corresponde o cumprimento
- Oi, Ana, Io sono Chiara, amiga de Daniel Jobim.
- Quer beber alguma coisa? - Digo indo buscar um pouco de whisky com guaraná para mim.
- O que você vai beber? - Ela indaga me olhando curiosa.
Estendo o copo pra ela
- Quer provar?
Ela estende a mão e dá um pequeno gole na bebida. Logo depois sorri um pouco amarelado e agradece.
- Então, você vai querer que faça um desse pra você?
Ela sorri. Não sei se entendeu muito bem, mas balança a cabeça que sim.
Preparo um copo pra ela, enquanto ela me observa em silencio.
Ela agradece e parece um pouco sem jeito quando a entrego a bebida. Eu rio pensando que ela provavelmente não gostou, mas também não entendeu o que eu lhe oferecia e aceitou sem querer.
- Escuta Chiara, eu queria te pedir uma coisa...
A italiana parece prestar bastante atenção em mim.
- Faz uma melodia pra mim?
Ela parece me analisar, e se perder por alguns instantes na análise.
- Sí, posso tentar, Ana.
Pego uma caneta na bancada da cozinha e anoto meu número em um guardanapo.
- Esse é meu número, pode me ligar quando quiser.
- Grazie, Ana.
- Eu que agradeço, linda.*
*
AnaAlguns dias se passaram e segui minha vida tranquilamente, a maior parte do meu tempo dedicada a procurar caminhos mais complexos pras minhas composições.
Na terça saí com Dani e a Italiana, fomos a uma baladinha qualquer do Rio. Beijei uma mulher em algum momento e quando abri os olhos peguei Chiara me observando. Quase sem querer, nossos olhares se encontraram e ela desviou rapidamente sua atenção para seu drink a sua frente.
Não me senti mal. Senti uma curiosidade da parte dela, mas já estou acostumada, fora que, ela não tinha tom de quem estava julgando, seguiu sendo extremamente amigável e gentil.
Deixei pra lá.
Eu observo demais, como boa virginiana sou detalhista. Quando estávamos indo embora, a abraçei, falei em seu ouvido:
- Eu não me esqueci que você me deve uma melodia. - Beijo sua bochecha de leve.
Chiara fica um pouco vermelha e sorri dizendo:
- Estou trabalhando nisso, ficará pronta presto!
*
*
ChiaraAs mãos da moça me tocavam a pele do rosto e se embrenhavam nos meus cabelos, havia uma melodia de fundo, e eu sentia os lábios da mulher no meu pescoço. As respirações pesadas e ofegantes se misturavam e o tom do cabelo claro da outra não me era estranho. Tento me atentar aos detalhes, porém quando seus lábios alcançam os meus, minha cabeça gira...
- Chiara... - A voz grave ecoa baixa e ainda mais rouca, porém inconfundível.
- Ana...- Deixo escapar em um suspiro. Espera. Aí. Ana?
Acordo um pouco atordoada com a cabeça um pouco pesada, pois tinha bebido algumas caipirinhas na balada de ontem. Que sonho estranho, por que sonhei dessa forma com a amiga do Dani?
Prefiro culpar minha preocupação com a melodia que tenho que escrever pra ela e que já me fora cobrada ontem. Repito pra mim mesma que não quero arrumar problemas amorosos por aqui, de complicado já basta o meu último término.
Faço minha higiene matinal e desço para o café.
Após o café, pego o violão e tento dedilhar a melodia que ouvia no sonho.
*
*
AnaOs olhos verdes escuros me fitavam enquanto seus braços enlaçavam meu pescoço e iniciavamos algum tipo de dança lenta. As luzes estraboscópicas piscavam a medida que meu coração acelerava, e eu ofegava pelo movimento e pelo roçar do seu corpo no meu. Quase me faltava a respiração. Os olhos se fecham calmamente e se aproximam.
Antes que sua boca tocasse na minha, imaginei como seriam aqueles olhos abertos novamente se transformando em outras expressões, de riso, de choro, tímidos e por último pesados de tesão. Sim, eles me davam tesão, que loucura. E minha imaginação pausou a cena aí. Eu paraliso nessa ideia por longos minutos, me perguntando se realmente existiria algo tão lindo e desejável fora das terras oníricas. Os olhos de maré voltam a se fechar para selar o beijo.
Sismo.
Não consigo me lembrar de quem são esses olhos, e o resto da visão ficou distante demais da memória para que eu fizesse associação. Odeio quando não consigo controlar o sonho, ainda mais quando tenho que forçar a lembrança visual.
Tento puxar aquele rosto de volta, "quem é você?" De quem são os olhos... Aqueles olhos.
A imagem de Chiara me observando na balada invade minha mente feito tsunami. Tomo um susto. Acordo de sobressalto, pelo pulo, já me encontro sentada na cama.
Chiara? No meu sonho? Pego meu maço de Free e me dirijo a janela. Non'e possibile! Que sonho louco.
Tomo um banho e assim que término de vestir minha roupa, o telefone começa a tocar. Dou passos largos para atender.
- Alô?
- Ana, how are you? Aqui é Chiara.
Que bom que se tratava de uma ligação, por que minha cara queimou na hora!
- C-Chiara, oi meu bem! Tudo tranquilo por aqui. Como vai a minha gringa favorita? O que me conta de novo?
- Galanteadora. - ela diz rindo - Enton, estou te ligando pra falar sobre a música... Eu acho que tenho a melodia...
- Nossa! Mas você é eficiente mesmo, ein?? Tudo bem, vem aqui em casa hoje, vamos começar nossa música.
- Va bene, Ana! Grazie. See you.
Eu acho graça da mistura de idiomas da gringa
- See you! - Entro na brincadeira.
*
*Chiara chegou com um vinho e começamos a trabalhar na música. Ela me mostrou a melodia que eu adorei.
Trabalhamos a tarde toda juntas e ao anoitecer fomos para a varanda ver a vista, papear e beber.
- Chi, é linda! Mal posso esperar pra cantar ela com você!
- Cantar? Hahaha como é, apressada?
Coço minha nuca, procurando uma maneira de me expressar...
- Chi, então... eu tenho um show em São Paulo, e queria que você viesse comigo pra apresentarmos a música....
A Italiana arregala os olhos
- Mas Ana, a música não está nem perto de ficar pronta!
Rebato de maneira calma, pegando sua mão entre as minhas ( e logo me arrependendo por sentir o contato mexer comigo, mas tarde demais )
- Como não? Tá tranquilo. A gente vai tirar essa de letra! Você vem comigo, ficamos no mesmo hotel, aproveitamos para passear um pouco e na pior das hipóteses, se você não quiser se apresentar, a gente deixa pra próxima. Vai, por favor?? Eu pago tudo! Por favorrr??? Per favore, bela??
- Ok, Ana. Solo perche me pediu em italiano - Ela me respondeu com o sorriso mais lindo.
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One shots Chiana
RomantikOlá, pessoal! Vou escrever aqui umas histórias do nosso casal querido Chiana. Cada capítulo será uma história com início, meio e fim. Espero que gostem de ler tanto quanto eu estou curtindo escrever. ❤